(Carolino – in Memorian)
As mãos de
meu pai
Eram brancas
E juntaram-se
um dia
Às mãos
negras de Maria –
Doce Rosa que
na vida
Sete filhos
lhe daria.
As mãos de
meu pai
Jogavam dados
com maestria.
Ouvi muito
minha mãe chamar-lhe “Dadinho”,
Voz dengosa,
carregada de carinho.
(As mãos de
minha mãe cumpriam o ritual
de servir o
alimento a meu pai).
As mãos de
meu pai
Traziam
biscoitos pra gente
À noite e
especialmente
Quando se
ficava doente.
(E isso era
muito bom!)
As mãos de
meu pai
Eram grandes,
eram fortes...
Mas, agredir?
Isso não.
Dava mais
medo na gente
O olhar
severo e a mão no corrião.
As mãos de
meu pai
Juntaram-se
às minhas mãos pequeninas
Por
raríssimas vezes.
(Certa feita,
suas mãos me conduziram
Ao
ambulatório médico para fazer um curativo
Na cabeça,
devido à queda de um balanço).
(Nunca me vi
em seu colo.)
As mãos de
meu pai
Tocavam
cavaquinho em noites de boemia.
Em casa,
dedilhavam o violão como um artista,
Olhos
fechados de emoção, voz vibrante
Nas cantigas
de amor, pedidos de perdão,
Que calava
fundo o calundu de mãe.
As mãos de
meu pai
Liam jornais
aos domingos
E dividiam
comigo aquela sabedoria
Dando-me um
dos cadernos –
A parte que
me cabia:
O jornalzinho
Gurilândia.
As mãos de
meu pai
Faziam
palavras cruzadas
E pra mim
eram reservadas
As mais
fáceis que havia...
(Talvez daí,
jornais e revistas, tenha nascido meu amor pelas letras...)
As mãos de
meu pai
Desenhavam
letras lindas, especiais,
Escreviam a
vida.
(Tentei anos
em vão imitar.)
As mãos de
meu pai
Eram espertas
nos jogos de cartas.
Ensinaram-me
a jogar paciência.
As mãos de
meu pai
Seguravam
rápido o copo de cachaça
E o líquido
transparente ou amarelado
Sumia como
fumaça.
As mãos de
meu pai
Seguram o
cigarro e o levavam à boca,
E estranha
mágica acontecia.
De sua boca e
narinas
Fumaça cinza
saía
(Mágica de vícios
que só mais tarde eu entenderia)
As mãos de
meu pai
Seguravam a
vara e colocavam a isca no anzol,
Pescavam
peixes em rios,
Em dias de
chuva ou de sol.
E as mãos de
minha mãe
Preparavam com
desvelo
As delícias
do peixe ensopado,
No final
sempre temperado
Com azeite de
dendê
E leite de
coco ralado.
As mãos de
meu pai
Tiveram como
último gesto
Balançar,
pedindo socorro.
“Brincadeira”,
pensaram os amigos.
E o gesto
perdeu-se no ar, na água.
E as mãos de
meu pai
Calaram-se
para sempre.
Sandra Medina Costa
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