1. O que leva um homem a sair, sábado de manhã, do aconchego de seu lar e
dirigir-se a um abrigo de menores carentes, que ali estão por viverem em
situação de risco?
O muito
possuir
Em meio a tantos necessitados
Tira a paz da consciência
E ele sofre incomodado
Fazer de
verdade o bem
Distribuindo amor em seu gesto,
Sabendo que mesmo assim
Na caridade não há excesso.
Criar uma
falsa imagem
De retidão e bondade,
Podendo ter grandes proveitos
Junto a sua comunidade.
Fazer
papel de bom moço
(como um velho e bom ator)
na “não confessa” esperança
de ver retribuído o favor.
Achar
mais fácil saciar
Os carentes dos abrigos,
Do que alimentar a alma
Dos próximos que moram consigo.
Pois essa
opção de ajudar
É uma grande maravilha:
“liberta-o” do compromisso
de cuidar da própria família.
Sabendo
que ninguém escolhe
Um destino tão cruel,
Ficar “de bem” com Deus
Pra merecer o reino dos céus.
Ficar bem
com si mesmo,
Acreditar no que faz,
E fazê-lo de forma anônima
Pra ter o coração em paz.
2. E, contrariamente,
o que leva um homem a NÃO sair de casa para e dirigir-se a um abrigo de menores
carentes, que ali estão por viverem em situação de risco?
Medo. Há
riscos lá fora,
Nas ruas, assaltos, violência.
Em casa não há perigo
E nem dor de consciência.
“A vida é
assim mesmo” – ele pensa,
“só se colhe o que plantar”.
A despeito de qualquer coisa, a pessoa
Só passa o que tem de passar.
Não parar
pra pensar nisso,
Ignorar o que semeia,
Curtir a vida, em vez de
Se ocupar com a desgraça alheia.
Saber que
já há ajudantes
Pra qualquer instituição;
E ele ganha pouco, trabalha muito,
E é indiferente à questão.
Achar que
não é responsável,
Pois não criou tal problema,
Não se sente tocado.
Ajudar? Não. Só dá pena.
Preferir
assistir à vida
Passando pela TV...
Comodismo? Descompromisso?
Descrença? Falta de fé?
“Tirar do
bolso ou da sua despensa
Para alimentar filhos alheios?”
Acha que cabe ao governo
Assumir, encontrar os meios.
Evitar
estar de frente
A essa realidade crua
Pois sabe que isso representa
Apenas uma fuga da sua.
“Além do
mais”, pensa ele,
“quem disse que é sério o bastante
essas tais obras sociais?
E o compromisso, quem garante?”
Reconhecer-se
sem condições mínimas
De ajudar naquele momento.
O emocional e o psicológico impedem
De se tornar “alimento”.
Sandra
Medina Costa
[Imagem: Pinterest]