(Antonio
Barreto)
No oitavo dia, Deus fez as
nuvens para descansar.
Por isso que nuvem é o
maior mistério.
Tem formato de amor, de
coração.
Tá cheinha de flor, mas
esfomeada de fruta.
Magrinha,
com sede de pássaro e com frio de vento.
Tá
molhada de chuva e sequinha de sol.
Tá
quentinha de lã e branquinha de sal.
Mas
nuvem é sempre assim: esfarrapada, esfiapada de algodão.
E
nunca fica colada no céu.
Nuvem
também pode ser gorda.
Pode
conter toda gordura de pensamento que a gente imagina.
Só
que dura pouco. Quando entristece, magoada, choraminga.
E
derrama tudo na chuva.
Fica
com raiva, sapateia, faz estardalhaço. Trovão.
Mas
depois se alegra de novo, novinha.
Branca
que nem folha de caderno pedindo lápis.
Deve
ser por isso que ela tem caixa de lápis de cor
no
final do seu chorar: o arco-íris.
Quando
olhamos para elas (as nuvens, no plural) vemos o desenho de várias histórias.
Nuvem
precisa de conversar com o lápis, porque só escreve fora de hora.
Nuvem
é um desenho que vai embora.
Pássaro
que não canta. Pássaro sem asa, sem casa.
Nuvem
nem precisa de borracha.
Sai
viajando sem mundo, sem horizonte e sem rodoviária.
Nuvem
nem precisa de “para casa”,
não
tem pronúncia...
Nuvem
é a maior bagunça.
Nenhum comentário:
Postar um comentário