sexta-feira, 13 de maio de 2016

A bolição da escrava Tura


Tura, escrava maneira,
não bolia com ninguém.
Na lida sofrida,
senzala de vida,
havera de ter uns porém.
No 13 de maio,
disseram a Tura:
"És livre, escrava,
já pode ir-te embora!
Vai, criatura!"
E Tura, cismada,
saiu de mansinho
olhou de soslaio,
buscou seu caminho.
No mundo de brancos,
portas fechadas,
punhos cerrados,
mãos abertas
só pra bolinar.
"Atura, Tura,
que a vida é dura,
ou voltas pra lá."
Calor de verdade
só o do borralho
do fogão velho
da casa grande.
À abolição legal
da escravidão
preferiu Tura
a bolição de antes.
Ainda não era de verdade
o fazer parte da sociedade.

Sandra Medina Costa


Imagem: ama-de-leite-ilustracao-ivan-wasth-rodrigues-para-casa-grande-e-senzala-em-quadrinhos

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