Os homens
que voltaram da guerra traziam feridas e pesadelos. Encontraram suas amadas
indiferentes. Passara tanto tempo que algumas nem se lembravam deles, e muitas
tinham estabelecido novos amores.
Uma,
entretanto, permaneceu lembrada e fiel, e atirou-se com fúria passional aos
braços do ex-guerreiro. Ele a repeliu, dizendo:
― Não
quero mais ver a guerra diante de mim.
― Eu não
sou a guerra, sou o amor, querido ― respondeu-lhe a mulher, assustada.
― Você é
a imagem da guerra, você me agarrou como o inimigo na luta corpo a corpo, eu
não quero saber de você.
― Então
farei carícias lentas e suaves.
O
inimigo também passa a mão de leve pelo corpo do soldado caído, para tirar o
que houver no uniforme.
― Ficarei
quieta, não farei nada.
― Não
fazer nada é a atitude mais suspeita e mais perigosa do inimigo, que nos
observa para nos atacar à traição.
Separaram-se
para sempre.
Carlos Drummond de Andrade. In Contos
Plausíveis.José Olympio, 1985
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