Na
janela de domingo
Fico
a olhar o presente
Pessoas
que passam aos pares
Na
rua de baixo
Para
a esquerda
Bíblia
na mão ou sob o braço
Tempo
nublado
Pregar
a Palavra de Deus?
Pessoas
que passam em grupo
Ou
sozinhas
Na
rua de baixo
Para
a direita
Sombrinha
na mão
Tempo
nublado
Missa?
No
viaduto em frente
Carros
que vêm e vão
Pessoas
num caminhar solitário
Sacolas
na mão
Um
andar cansado da vida
Ao
longe vislumbro minha infância
Na
igrejinha antiga
Na
janela de domingo
Fico
a olhar o passado
Família
que se reunia em casa
Para
o almoço que mãe fazia
Galinha
com macarronada
Afinal
era domingo
A
galinha que chegava
“Põe
água pra ferver!”
era
assustadoramente sangrada
a
faca raspava umas penugens do pescoço
a
faca deitada batia-lhe o pescoço para esquentar o sangue
a
faca e o fio de corte afiado desferia-lhe o corte fatal
e
o sangue jorrava num prato branco esmaltado
Depois
disso era escaldada
E
perdia as penas
(Parei
de comer galinha se a visse viva antes...)
Às
vezes havia o peixe
Feito
com leite de coco e azeite de dendê
E
eu ficava por perto
Enquanto
mãe ralava o coco
Para
depois lhe espremer e tirar o leite
Era
uma oportunidade de ouro
Para
eu ganhar os toquinhos de coco que sobravam
Quando
ela não conseguia mais ralar
E
eu rezava para nenhum de meus irmãos
Terem
a mesma ideia que eu
O
sabor daquele coco era muito bom!
Quando
os amigos de pai vinham
Eram
domingos barulhentos e alegres
Cantoria
Violão
Pinga
Feijão
cozido com
Pele
de porco
Pé
de porco
Orelha
de porco
Meu
Deus!
Eu
detestava esse feijão!
Limonada
para beber
O
limoeiro sempre carregado
Ora
de limões
Ora
de lagartas
Amigos
que se encontravam
Para
a “hora dançante” com vitrola lá em casa
Namorados
que se encontravam
Namoros
que começavam
Felicidade
que havia
E
eu com muito sono
Na
janela de domingo
Tento
enxergar o futuro
Tempo
nublado
Eu
escaldada
Toquinhos
de coco
Violão
guardado
Saudade
de mim
Limões
ou lagartas?
Limões
Sandra Medina Costa
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