quarta-feira, 23 de abril de 2014

O terceiro trovão


[Ontem. 32 anos da morte de pai.]
Como há 32 anos, este também é um ano anterior a ano bissexto.
Hoje, ao subir a rua Costa Belém, ouvi os passarinhos, lembrei-me da “andorinha no fio” e o segredo da chuva, a lembrança da chuva forte, o medo dos relâmpagos e trovoadas...
Meu pai dizia:
- Calma, calma. Não se assuste. São apenas 3 trovões fortes. Escuta: esse é o primeiro! Só faltam dois... Calma. Depois os outros já não são tão fortes assim. Vai passar logo. Calma.
Eu acreditava. Era o MEU pai que dizia. E o medo me fazia aguardar por uma eternidade os dois trovões fortes que faltavam. Porque, a cada sinal de desespero, meu pai dizia:
- Calma. Esse foi fraco. Esse não é o segundo. Só deu um trovão forte até agora. Calma. Lembra: são três apenas. Calma. Faltam dois ainda.
E ali eu ficava num misto de medo, desespero e ansiedade. Que viessem logo os dois trovões fortes para aquilo acabar! Mas a tempestade durava. Lá fora, relâmpagos, raios, chuva torrencial. Lá depois de muito tempo, ele dizia:
- Viu? Este foi o segundo. Ainda falta mais um. Fica calma. Já vai passar.
Eu cresci acreditando nisso. Sempre depois do terceiro trovão, tudo acalmava.

Sandra Medina Costa
Belo Horizonte, 27 de setembro de 2007.

[Imagem Google]

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