quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Mão da Vida

Toda vez que eu te procuro
E não encontro uma saída...
Ah, mão da vida!
Há mão da Vida.

Vou à busca de um carinho
Que alivie a minha lida.
Ah, mão da vida!
Há mão da Vida.

No horizonte que vislumbro
Vejo uma paz tão incontida.
Ah, mão da vida!
Há mão da Vida.

A certeza que me chega
É que sem fé não há guarida.
Ah, mão da vida!
Há mão da Vida.

Jesus, minha Verdade,
Meu Caminho, minha Vida.
Ah, mão da vida!
Há mão da Vida.


Sandra Medina Costa

O Senhor é Luz

O Senhor é luz, é salvação.
O Senhor é o protetor de minha vida.

Com o coração limpo
Encontro a paz,
Reconheço as bênçãos
Que só Deus me traz.

O Senhor é luz, é salvação.
O Senhor é o protetor de minha vida.
Ainda que eu caia,
Não me prostrarei.
Pois Deus é comigo,
Sobreviverei.

O Senhor é luz, é salvação.
O Senhor é o protetor de minha vida.

Se Deus é meu norte,
Caminho na Luz.
O Espírito Santo
Me inspira e conduz.

O Senhor é luz, é salvação.
O Senhor é o protetor de minha vida.


Sandra Medina Costa

Ave, Marias


Ave, Marias,
prenhes de sonhos,
ávidas de desejo,
Deus é convosco.
Sois “bene”, sois “ditas” Maria!
Sois Marias bem ditas
entre todos os outros nomes.

Abençoados sejam os frutos
que destes ao mundo!
Roguemos a Deus
que envie Seus anjos a derramarem bênçãos sobre eles.

Agora e sempre.

Assim seja.


Sandra Medina Costa

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

As Mãos de Meu Pai

(Carolino – in Memorian)

As mãos de meu pai
Eram brancas
E juntaram-se um dia
Às mãos negras de Maria –
Doce Rosa que na vida
Sete filhos lhe daria.

As mãos de meu pai
Jogavam dados com maestria.
Ouvi muito minha mãe chamar-lhe “Dadinho”,
Voz dengosa, carregada de carinho.
(As mãos de minha mãe cumpriam o ritual
de servir o alimento a meu pai).

As mãos de meu pai
Traziam biscoitos pra gente
À noite e especialmente
Quando se ficava doente.

(E isso era muito bom!)

As mãos de meu pai
Eram grandes, eram fortes...
Mas, agredir? Isso não.
Dava mais medo na gente
O olhar severo e a mão no corrião.

As mãos de meu pai
Juntaram-se às minhas mãos pequeninas
Por raríssimas vezes.
(Certa feita, suas mãos me conduziram
Ao ambulatório médico para fazer um curativo
Na cabeça, devido à queda de um balanço).

(Nunca me vi em seu colo.)

As mãos de meu pai
Tocavam cavaquinho em noites de boemia.
Em casa, dedilhavam o violão como um artista,
Olhos fechados de emoção, voz vibrante
Nas cantigas de amor, pedidos de perdão,
Que calava fundo o calundu de mãe.

As mãos de meu pai
Liam jornais aos domingos
E dividiam comigo aquela sabedoria
Dando-me um dos cadernos –
A parte que me cabia:
O jornalzinho Gurilândia.

As mãos de meu pai
Faziam palavras cruzadas
E pra mim eram reservadas
As mais fáceis que havia...

(Talvez daí, jornais e revistas, tenha nascido meu amor pelas letras...)

As mãos de meu pai
Desenhavam letras lindas, especiais,
Escreviam a vida.
(Tentei anos em vão imitar.)

As mãos de meu pai
Eram espertas nos jogos de cartas.
Ensinaram-me a jogar paciência.

As mãos de meu pai
Seguravam rápido o copo de cachaça
E o líquido transparente ou amarelado
Sumia como fumaça.

As mãos de meu pai
Seguravam o cigarro e o levavam à boca,
E estranha mágica acontecia.
De sua boca e narinas
Fumaça cinza saía

(Mágica de vícios que só mais tarde eu entenderia)

As mãos de meu pai
Seguravam a vara e colocavam a isca no anzol,
Pescavam peixes em rios,
Em dias de chuva ou de sol.
E as mãos de minha mãe
Preparavam com desvelo
As delícias do peixe ensopado,
No final sempre temperado
Com azeite de dendê
E leite de coco ralado.

As mãos de meu pai
Tiveram como último gesto
Balançar, pedindo socorro.
“Brincadeira”, pensaram os amigos.
E o gesto perdeu-se no ar, na água.

E as mãos de meu pai
Calaram-se para sempre.


Sandra Medina Costa.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

No Buraco da Coruja


Não há, ó gente, oh, não,
lugar mais propício
que um verdejante sítio
pra gente se encontrar!


Ainda mais se, além do verde,
houver uma mistura boa
de ar puro, alegria, lagoa,
casa de campo, uma rede na varanda,
campo de futebol, piscina,
e, de quebra, ainda por cima,
uma capelinha sendo construída
para se agradecer a Deus a vida.

Não estranhe (e nem fuja!)
se, ao andar pelo belo campo,
você encontrar de repente
o buraco da coruja!
E ela estará por perto,
voos rasantes e encantadores...
Verdadeiro símbolo de sabedoriaa representar todos nós educadores.

Sandra Medina Costa

terça-feira, 21 de outubro de 2008

O Risco

(para Suzana)

Não se arrisque a confundir
traço com risco.
O traço
é frio, estático,
objetivo, problemático...
Pode até ser “marido da traça”!
Só corrói, consome, destrói.
Quer coisa mais sem graça?

Veja o que se pode
do traço tirar:
traçar metas
objetivos
planos
retas
Traçar implica percorrer
um caminho predeterminado:
sai-se daqui,
vai-se até o outro lado.

O risco?
Ahhh! O risco não!
Ele é totalmente diferente,
Subjetivo... cada um faz
como quiser e sente.
O risco permite sonhar,
alçar outros voos;
não é uma linha reta, predefinida;
deixa a gente pensar a vida.

Do risco se tira
Arriscar!
Ideia que lembra
ousar, sonhar, criar.

O risco, tal qual um ponto
(ou pingo de j ou i)
não se limita a si.
O risco é irreverente,
inconstante como ele só!
(Já o percebeu nos quadros de Miró?)
O risco, assim, amiúde,
por vezes até esquisito,
e vida em plenitude
conduzindo ao infinito.


Sandra Medina Costa.

Riscos e Rabiscos

Risco
Rabisco
Cisco
Francisco
Fisco
E foi por causa de um rabisco
Que o pobre do Francisco
Correu sério risco
De ficar mal com o fisco.

Também pudera, coitado,
Justo na hora de assinar
Caiu-lhe no olho um cisco
E, em vez de assinatura ou rubrica,
Lascou um terrível rabisco.

Foi sempre assim com Francisco.
Quando conheceu a Francisca,
Quis correr o risco
De conquistá-la, fazê-la feliz!

Tomou um banho ligeiro
Pôs sua melhor calça,
Aquela de risca de giz,
Foi à loja de Seu Zé – homem arisco,
Comprou-lhe um disco,
Escreveu-lhe um lindo cartão –
Palavras doces em meio a rabiscos...

Pobre Francisco!
Ele nem imaginava
Que a mulher que ele amava
Trabalhava pro fisco...
Era brava, muito arisca.

Ao vê-lo em sua porta,
Com a calça de risca de giz,
Sentiu-se ultrajada
E gritava-lhe, aos berros:
- Cisca daqui, infeliz!
Francisco quis correr o risco
E só não foi preso por um triz!

Sandra Medina Costa.

Vila Velha


Eu
O monte
que remonta ao passado

A ponte
imponente
atravessa misteriosamente
o mar que, ao longe,
traz pra mais perto
a areia, a espuma,
as lembranças santas

O vento
o convento - com vento
o precipício, a prece, o início
o amor lá longe, sem mais resquícios

Eu e o monte
Eu e a ponte
Eu no convento
O rosto molhado
secado pelo vento

Eu e a prece
diante do precipício
Desde o início,
eu e o mar.
Vila Velha é isso!


Sandra Medina Costa

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Oração Proferida nos Jogos da Boa Vontade, realizados em Seatle, 1999

“Bem-aventurados os que compreendem o meu estranho
passo a caminhar e minhas mãos atrofiadas.
Bem-aventurados os que sabem que meus ouvidos têm que se
esforçar para compreender o que ouvem.
Bem-aventurados os que compreendem que, ainda que meus
olhos brilham, minha mente é lenta.
Bem-aventurados os que olham e não vêem a comida que eu
deixo cair fora do meu prato.
Bem-aventurados os que, com um sorriso nos lábios, me
estimulam a tentar mais uma vez.
Bem-aventurados os que, nunca lembram que hoje fiz a
mesma pergunta duas vezes.
Bem-aventurados os que compreendem que me é difícil
converter em palavras os meus pensamentos.
Bem-aventurados os que escutam, pois eu tenho algo a dizer.
Bem-aventurados os que sabem o que sente meu coração
embora não possa expressar.
Bem-aventurados os que me amam como sou, tão somente
como sou e não como eles gostariam que eu fosse .”


(Desconheço a autoria)

domingo, 19 de outubro de 2008

Todos



Dia da Consciência Negra.
Dia da Consciência Verde.
Pergunto-me por que um dia destinado à
Consciência negra?

Sou negra.
Tenho consciência da raça e da cor preta.
Mas minha consciência vai além: É verde também.

Atirem a primeira folha aqueles sem consciência verde,
Pois quero ficar coberta e segura daquilo que me é mais precioso:
A vida.

Valeu, Zumbi?! E o que dizer dos seus escravos particulares?
Há gerações e gerações passando e ainda ecoam dentro de mim
Os “gritos e lamentos do negro que foi para o cativeiro e de lá cantou...”

O meu canto nessas horas também é de dor.
Continuo cativa. Todo negro continua cativo.
Vou além: todos nós, independentemente de cor ou raça,
Continuamos cativos.
Estamos desde sempre presos ao preconceito velado ou dito,
“Escrachado” ou nas entrelinhas, que atinge negros, judeus, mulheres,
homossexuais, velhos, pobres e tantos mais...

Pobres de nós
Que precisamos de alguém que nos determine o que precisamos fazer,
Que nos convença de que não somos inferiores,
Que nos incuta a necessidade um herói
(seja ele um Che Guevara, um René Barrientes,
um Luís Inácio ou um Cap. Nascimento)...

Pobres de nós
Que achamos que precisamos de um rei, ignorando a certeza de que já temos o Rei Maior que nos ama e aceita, independentemente de cor.

Vitória-régia
Vitória do rei.
Crianças negras num círculo perfeito
Como perfeita é a Natureza que os circunda.

Consciência verde.
Vitória verde.
Vitória da vida.


Sandra Medina Costa

Agostinianas Missionárias

Ano de 1883.

Na clausura de um convento,
Um espaço muito restrito,
Ali viviam as Irmãs
A orar ao Deus bendito.
Estavam em Barcelona
Com destino já escrito.

Tendo Cristo como norte
E o carisma de Agostinho,
Oravam, contemplavam,
Educavam com carinho.
Cuidavam de umas poucas crianças
Naquele sagrado ninho.

Os padres agostinianos,
Também naquela ocasião,
Lá nas Ilhas Filipinas
Cumpriam sua missão
E tinham diante de si
Grande flagelo e aflição.

A peste bubônica, monstro terrível,
Milhares de vidas ceifava,
Deixando órfãs muitas crianças
Que sofriam abandonadas,
Precisando urgente de ajuda
Para serem amparadas.

O Amor bateu à porta
Do Convento de Barcelona,
Pedindo o auxílio das freiras
Para sanar o drama.
Voluntárias se ofereceram,
Pois quem ama não abandona.

Como previra o destino,
Rumaram a um mundo distante,
Totalmente desconhecido
E agora mais desafiante.
Mudanças no estilo de vida.
Tudo novo num rompante.

O instinto materno pulsava
No sangue das educadoras
E, como mães missionárias,
Se fizeram acolhedoras
Daquelas inúmeras órfãs
Tão pequenas sofredoras.


Sabendo que a medida do amor
É amar sem medida,
Acolheram, cuidaram e educaram
Daquelas crianças queridas
E, com a bênção de Deus Pai,
Deram-lhes novo sentido à vida.

Mas outras doenças surgiram
Dificultando-lhes a sina.
Retornaram algumas Irmãs
(dentre elas, Mônica e Querubina)
para recuperar as forças
e, quem sabe, voltar às Filipinas.

Este retorno hora alguma
Representou abandono à missão.
E já em 1890
Pensou-se na formação
De novas irmãs-professoras
Com carisma e vocação.

Uma nova comunidade
Abriu-se logo em Madri
Com a mediação dos padres
Agostinianos a servir.
A missão fora ampliada!
Novo horizonte a surgir!

Para esta comunidade,
Como servas voluntárias,
Lá vão Mônica e Querubina
Para a missão solidária.
Com elas, a pedido dos padres,
Segue também a Ir. Clara.

Abre-se, assim, em Madri,
A primeira comunidade:
Um importante serviço
Com duas finalidades:
Formar irmãs para a missão
E cuidar da orfandade.


Sandra Medina Costa

Adolescência (A-Dor-Essência)

Meus sentimentos mais puros
perderam-se no tempo,
ou encontram-se guardados em algumas
das milhares de gavetas do coração.
Talvez, quem sabe?,
numa dessas velhas caixas de sapato, de papelão,
envoltos por inúteis e amarelados papéis.
Lágrimas velhas de um tempo perdido,
mofadas sensações de uma vida amargurada
em que perdi meus sonhos...
Puros sonhos de uma adolescência a que nem sei que nome dar...
Talvez... “a dor-essência”.

Essência

Adolescência
A-dor-essência
Adolescer
A-dor-é-ser.
Ser grande, ser pequena.
Ser adulta, ser criança.
Ser alegre e ser triste.
Ser uma, ser mil.
Ser capaz de mudar o mundo num segundo.
Ser capaz de sentir o maior amor do mundo.
Ser capaz de sofrê-lo como uma dor do tamanho do mundo.
A dor é ser.
Adolescer.


Sandra Medina Costa

Abro um Livro

Abro um livro.
Sou uma.
Leio.
Não sou mais a mesma.
Em mim já ficaram as sementes que brotarão um dia
(porque é próprio das sementes teimar em brotar).
Sou uma? Não!
Sou mais!


Sandra Medina Costa

A Vida Inventa

Gosto desse cara!
Ele é chique demais da conta!
Na cabeça, ondulações serenas
vão descendo ponta a ponta...
É algo inédito que empresta
A mesma visão à testa.

Eureka!
Descobri porque gosto desse cara!
É pela capacidade heurística,
numa arte de descobrir e inventar,
e entre pensamentos laterais, divergentes,
(e de ver gentes!)
sua criatividade mostrar.
Gosto também de sua visão holística,
Meio mítica, meio mística,
De mostrar aos outros pensamentos
Que é possível ver gente,
Conviver com a gente,
Co-memorar com a gente,
Ensinar a gente com paciência
Que só não é possível
anestesiar as consciências.

O nome CLEITON
(Aportuguesação ou brasilidade do inglês Clayton)
é sinônimo de depósito de argila, barro.
Taí!
Eureka de novo!
Descobri que, quando Deus
criou você, ele já sabia
quais ingredientes colocaria
nessa cabeça de gigantes estrias,
para que o mundo pudesse
ter um equilíbrio melhor.
E lá foi o Pai do céu,
depositando seus dons.
Um a um colocando,
e parafusos retirando:
O dom de Criar.
Nariz, nariz, e nariz,
Nariz, que nunca se acaba;
Nariz, que se ele desaba,
Fará o mundo infeliz;
Nariz, que Newton não quis
Descrever-lhe a diagonal;
Nariz de massa infernal,
Que, se o cálculo não erra,
Posto entre o Sol e a Terra,
Faria eclipse total!
(Bocage)O dom de Ensinar.
O dom de Aprender.
O dom de Perdoar.
O dom de ser Pai.
O dom de ser Filho.
O dom de Amar.
O dom de ter dons
sem se exibir!
Acho mesmo que é por aí!

Mas... péra lá!
E o nariz? Alguém perguntaria
Só de sacanagem!
Bobagem!
Nariz não é nada, é só imagem.
Mas eu me pergunto agora?
E o Bocage?
Teria feito aquele poema
Em sua homenagem?
E o Bernardo Guimarães?!
Também tentou em um de seus poemas
Exaltar o nariz, mas teve problemas...
“Sabei, que se por um erro
Não há nariz na poesia,
É por seu fado infeliz,
Mas não é porque não haja
Poesia no nariz.
Se bem me lembra, a Bíblia em qualquer parte
Certo nariz ao Líbano compara;
Se tal era o nariz,
De que tamanho não seria a cara?!...”

Por falar em Bíblia,
Vou parafraseando o João,
em sua terceira carta (III João 01:02),
(eu, já pedindo a Deus perdão):
Cara, peço a Deus que você prospere em tudo
e que tenha muita saúde, assim como é próspera a sua alma.


Sandra Medina Costa

"A vida inventa. A gente principia as coisas no não saber
porque, e desde aí, perde o poder de continuação -
porque a vida é mutirão de todos, por todos
remexida e temperada." (Guimarães Rosa)

A Eloquência do Silêncio

É cedo.
A manhã clara me desperta e o silêncio vai sendo quebrado por ruídos vindos de longe.
Oro. A claridade e a z naquele céu de um azul tão limpo me falam da eloqüência do silêncio.
Silêncio.
Fecho os olhos e medito sobre a competência do silêncio.
Confundo-me: competência do silêncio... eloqüência do silêncio... Como distinguir?
Concentro-me. Oro.
Oro. Se pronunciar em tom fechado, remeto-me ao espanhol e vira “ouro”.
O ouro do silêncio.
Novas lembranças.
O coral de surdos-mudos apresentando-se na quadra numa fria manhã, “cantando”, através de gestos, o Hino Nacional Brasileiro... Lembra?Foi lindo. Lembro-me de dizer ao Pe. José Maria que havia sido indescritível, emocionante, ouvir o silêncio. Ele riu aquela rosada boa, feliz.


Sandra Medina Costa

A Cor do Amor

É tarde. A noite traz a cor do amor – um doce amargo.
A doce cor do amor é marrom, quase negra.
E não podia ser diferente:
Sou eu mesma –
Sobra de um amor
doce e amargo.

Uma cor marrom...
De sabor de chocolate
Tem sido assim minha vida, meu amor.

Um dromedário me disse em sonho
Que há dubiedade na cor do amor.
Por vezes a alma o vê marrom, quase negro.
Por outras, o prova azul, delícia do mar.

Escuta!
É o amor que em silêncio grita:
Vem estar comigo! Sou marrom!
Vem provar de mim, sou azul!Me olha nos olhos – sou negro como tu!


Sandra Medina Costa

Poema para Theo


Theo...
Doro - A DÁDIVA DO SENHOR
Filo - AMIGO DE DEUS
Genes - NASCIDO DE DEUS

Theo...
Pode ser muitos. Mas é um só. Único.
Feche os olhos. Abra os ouvidos da alma.
Sussurre várias vezes esse nome...
Theo... Theo... Theo...
Sentirá que o som sai suave, sublime, simples...
O ar que sai da boca passou antes pelo coração.
Daí, a suavidade no olhar.
Daí, a força sublime no choro de manha.
Daí, o dom divino estampado no nome.
Daí, a alegria escancarada na face.
(...)
Theo.
A quanto me obrigas amar-te
Ao deparar-me com tamanha dádiva dos céus.
Sandra Medina Costa

André


(In memoriam)

Gotinha de luz divina
Que, num espaço de tempo tão curto,
Fez a alegria de tanta gente.
Não sei se digo (como em outra ocasião)
Que mais uma estrelinha se apagou.
Não sei.
A sensação é que outra nasceu...
(André: de amarelo)
Sandra Medina Costa

Andorinha no Fio Contou um Segredo

Andorinha no fio
Contou um segredo.
Eu andando pela rua,
Distraída, sem medo,
Subia a Costa Belém.

— Bem-te-vi!
— Eu também!
Avistei-a ao longe
Pousada num fio
Ao lado do bem-te-vi.

— Andorinha, andorinha,
Conte-me um segredo!
— Claro que sim, meu bem.
Quando voamos tão baixo
É que a chuva logo vem!


Sandra Medina Costa

Minha Escola

Meu ninho de lembranças,
Lembranças tão ternas...
Amizades que me embalam o sonho
Pois todas se tornam eternas!

O recreio, a merenda,
As brincadeiras divertidas,
Elos de amor e alegria
Marcando de vez minha vida...

Professores de ouro
E suas lições de fraternidade
Na Matemática da vida,
O resultado: igualdade.

Igualdade de direitos,
De deveres de casa, de lares,
De sonhos que alimentam
As almas de seus pares.


Sandra Medina Costa

Sou Quem Sou

Sou Sandra
filha de rosa com pescador
caranguejo pelo horóscopo
fêmea pela bênção de Deus
poetisa (é o que me dizem!)
Sou quem sou.

Sou Sandra
filha obediente
negra inteligente
mãe amorosa
e possessiva (é o que dizem!)
Sou quem sou.

Sandra Medina Costa