segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Café com pimenta



- Me dá café, Paula! – insistia a garotinha junto à empregada na cozinha, já havia algum tempo.
Impaciente e querendo se ver logo livre da menina, a mulher ergueu o braço e alcançou a caneca esmaltada no alto da parede. Pegou do bule sobre o fogão de lenha e despejou o restinho de café na caneca, entregando-a em seguida.
A garota sorveu o líquido de um só gole. Café com pimenta.
A menina em prantos, a boca aberta gritando uma dor que doía pelo ardor da língua. Não compreendia por que o café queimava-lhe a boca daquela forma.
De súbito a mãe adentra a cozinha para ver o que estava acontecendo.
- Pimenta, mãe! Minha boca tá ardendo. O café tá com pimenta.
Claro que Paula insistiu em negar a história.
O tempo já vai longe, mas a lembrança vem perto. O café com pimenta afastou a menina da empregada. De vez.

Sandra Medina Costa

[imagem da web]

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Dia de Santo Agostinho



Tarde te amei;
ó beleza antiga e tão nova, tarde te amei!...
Estavas dentro de mim, e eu, voltado para fora, procurava as formas belas das tuas criaturas.
Estavas comigo, mas eu não estava contigo.
Assim, longe de ti me detinham as criaturas que nada seriam, se em ti não existissem.
Tu me chamaste, e teu grito foi maior que minha surdez; tu brilhaste, e tua luz venceu minha cegueira; espalhaste teu perfume,
que eu senti, e agora te desejo; provei do teu sabor, agora tenho fome e sede de ti; tu me tocaste, agora em mim arde o desejo da tua paz.

Santo Agostinho

[imagem da web]

O xote das meninas



(Zé Dantas e Luiz Gonzaga)

Mandacaru quando fulora lá na seca
É um sinal que a chuva chega no sertão
Toda menina que enjoa da boneca
É sinal de que o amor já chegou no coração
Meia comprida não quer mais sapato baixo
Vestido bem cintado não quer mais vestir gibão
Ela só quer só pensa em namorar
De manhã cedo já tá pintada
Só vive suspirando sonhando acordada
O pai leva ao doutor a filha adoentada
Não come nem estuda não dorme nem quer nada
Ela só quer só pensa em namorar
Mas o doutor nem examina, chamando o pai do lado
Lhe diz logo em surdina que o mal é da idade
E que pra tal menina
Não há um só remédio em toda medicina
Ela só quer, só pensa em namorar

[imagem da web: Figura sentada - Milton Dacosta]

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Eu sei, mas não devia



Marina Colasanti

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.

[imagem da web]

Tiros lá fora



Sirene.
A visão alcança, da minha janela,
armas em punho junto à janela
de um carro preto.
Tiros lá fora.
Sirene.
Luzes vermelhas piscando lá fora.
Homens da lei. Homens comuns.
Choro o susto que me aperta o peito.
Luzes vermelhas piscando lá fora.
No meu quarto, luz azul.

Sandra Medina Costa

[imagem da web]

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Hiberno-gestação



Nove meses.
Hiberno-gestação.
No vazio da caverna
vejo o mundo
passar lá fora.
Hiberno.
Inverno na alma.
Choro a solidão
a que me impus.
Anseio pelo calor
que me redimirá.
Coração faminto.

Sandra Medina Costa

[imagem da web]

Silêncio



No silêncio do apartamento
tento conviver
comigo em silêncio.
As paredes têm ouvidos.
Silêncio
definitivamente
pra mim
não é ausência de barulho.
Que o diga
meu ouvido
e seu permanente zumbido.

Sandra Medina Costa

[imagem da web]

domingo, 23 de agosto de 2009

Algumas relíquias...



- Medalhinha com a imagem (já bem desbotada) de Cristo crucificado, que ganhei de D. Joana, em minha infância, em Teófilo Otoni.
- Pedrinha da sorte, cor verde misturado com azul (ciano), que a Kércia me deu no meu aniversário, há uns 10 anos talvez.
- Oração à Nossa Senhora do Desterro, que a Maria (do William) escrever e me deu em 1985, quando eu estava grávida.
- Coleção de calendários, com destaque para o de 1926 (ano em que meus pais nasceram) e o de 1959 (ano em que nasci).
- Caixinha do radinho de pilha Philips que ganhei de mãe, em 09 de dezembro de 1977 – presente pela formatura no 2º Grau (Ensino Médio).
- Caneta que ganhei como presente de formatura na faculdade de Letras da PUC-MG; William mandou gravar meu nome e a data de 26 de junho de 1984. Não tem mais tinta.
- Sabonete Darling com as marcas dos dentinhos do Fausto (1983 ou 1984).
- 3 monóculos: (1967 e 1970 – recordação do 1º ano e do 4º ano Primário na E. M. Josefina de Souza Lima; e 1971 ou 1972 – na Casa de Cacos; ao fundo, o que era Bernardo Monteiro, a igrejinha...)
- Aliança / lembrança do amor que tive.
- Cartão no formato de um pezinho, que ganhei do Eladio em meu aniversário de 1994, com os dizeres: “Estas são minhos primeras palabra para una hermana. Anos felizes. Adios.” – meses após o derrame.
- Mensagens “eu te amo, mamãe” escritas pelo Paulinho quando criança...

[imagem da web]

sábado, 22 de agosto de 2009

O laço e o abraço



Fonte: web

O Deus vivo



“... o Deus vivo a todos liberta da morte.
Deus é amor e chama à conversão pela manifestação do amor e não pelo sofrimento.
Quem é invisível ao sofrimento alheio, está morto.
Mas o reencontro com a vida se dá na acolhida a Jesus, Filho de Deus.
É entrar em comunhão de amor e vida com Jesus, com sua mãe e com o discípulo que ele amava, ao pé da cruz.”

Fr. Germano Guesser, OFM – Gaspar / SC
Fonte: Folhinha do Sagrado Coração de Jesus

[imagem da web]

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Onde



Onde encontrar auxílio,
Se minha alma desfalece
Em lágrimas tão rancorosas?
Choro abafado, suspiros...
A autoestima esmorece
Por palavras dolorosas.
Deus ao meu lado. Respiro.
O ar de amor que enobrece
Me traz promessas preciosas.

Sandra Medina Costa

[imagem da web]

Barriga



Barrigão!
Buchuda!
Buchão!

Mal ditas as palavras
proferidas na contramão
por uma boca vazia
na ventania daquela manhã de agosto.

Que desgosto!
Que desatino!

Um dia, uma língua atrevida.
No outro, a língua afiada.
Um dia, um olhar desencanta.
No outro, o olhar se agiganta.
Mais tarde, uma língua que desdenha.
Mais cedo, uma língua que mal diz
uma palavra
infeliz.

A mão direita se ergue
e faz sinal de positivo
para aquela boca vazia.
Cá dentro a alma desfalece.

Sandra Medina Costa

[imagem da web]

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

O amor



“Vida... É o amor existencial.
Razão... É o amor que pondera.
Estudo... É o amor que analisa.
Ciência... É o amor que investiga.
Filosofia... É o amor que pensa.
Religião... É o amor que busca a Deus.
Verdade... É o amor que eterniza.
Ideal... É o amor que se eleva.
Fé... É o amor que transcende.
Esperança... É o amor que sonha.
Caridade... É o amor que auxilia.
Fraternidade... É o amor que se expande.
Sacrifício... É o amor que se esforça.
Renúncia... É o amor que depura.
Simpatia... É o amor que sorri.
Trabalho... É o amor que constrói.
Indiferença... É o amor que se esconde.
Desespero... É o amor que se desgoverna.
Paixão... É o amor que se desequilibra.
Ciúme... É o amor que se desvaira.
Orgulho... É o amor que enlouquece.
Sensualismo... É o amor que se envenena.
Finalmente, o ódio, que julgas ser a antítese do amor, não é senão o próprio amor que adoeceu gravemente.”

[imagem da web]

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Parábola do pinguim



Na Antártida faz muito frio. Para sobreviver os pinguins precisam ficar juntos. No entanto, aqueles que estão nas beiradas do grupo, sofrem com os gélidos ventos. Para que nenhum pinguim morra de frio eles estão o tempo todo trocando de lugar, dividindo assim o sofrimento e o conforto do coletivo.

[imagem da web]

Parábola dos porcos-espinhos



Durante a era glacial, muitos animais morriam por causa do frio. Nessa altura os porcos-espinhos resolveram juntar-se em grupos para se aquecerem e proteger uns aos outros. Mas cada porco-espinho feria os companheiros mais próximos com os seus espinhos, justamente aqueles que lhe forneciam calor. Por isso tornaram a afastar-se uns dos outros. Voltaram a morrer congelados e precisaram fazer uma escolha: desapareciam da face da Terra ou aceitavam os espinhos dos seus amigos. Decidiram voltar a ficar juntos. Aprenderam assim a conviver com as pequenas feridas que uma relação muito próxima pode causar, já que o importante era o calor dos outros. E assim os porcos espinhos sobreviveram até aos nossos dias.

[imagem da web]

domingo, 16 de agosto de 2009

Rosário de uma mãe



Mistérios Gozosos
1ª dezena: Anunciação
Anjo da guarda de cada um dos meus filhos, anuncia-lhes o nascimento de Jesus. Que eles possam concebê-Lo no coração dizendo “sim” como Maria.
(Pai nosso, 10 Aves-Marias, Glória ao Pai)
2ª dezena: Visitação
Nossa Senhora, vai à casa dos meus filhos não só para visitá-los mas para morar com eles. Que eles possam, como Isabel, ficar muito felizes e exultar de alegria.
(Pai nosso, 10 Aves-Marias, Glória ao Pai)
3ª dezena: Nascimento de Jesus
Jesus, renasce no coração dos meus filhos cada dia, para que a vida deles seja um eterno Natal.
(Pai nosso, 10 Aves-Marias, Glória ao Pai)
4ª dezena: Apresentação do Senhor no templo
Maria, ajuda-me a reapresentar meus filhos ao templo. Para o Batismo e para a Comunhão eu os levei, mas para a Crisma é preciso que eles queiram.
(Pai nosso, 10 Aves-Marias, Glória ao Pai)
5ª dezena: Encontro com Jesus no templo
Jesus querido, faze que meus filhos Te possam encontrar. Mostra-lhes o caminho. Permite que eles Te encontrem, porque Tu és o caminho. E, quando Te encontrarem, que nunca mais Te percam.
(Pai nosso, 10 Aves-Marias, Glória ao Pai)

Mistérios Dolorosos
1ª dezena: Agonia de Jesus
Que o coração dos meus filhos, Senhor, não se angustie. Que em seu coração possam estar somente a Tua alegria, paz, amor e os frutos de Teu Espírito.
(Pai nosso, 10 Aves-Marias, Glória ao Pai)
2ª dezena: Flagelação
Pela Tua flagelação, Jesus, alivia-os em suas dores espirituais e físicas. Que o corpo deles não lhes pertença, mas seja Teu. Que eles sejam o templo do Teu Espírito.
(Pai nosso, 10 Aves-Marias, Glória ao Pai)
3ª dezena: Coroação de espinhos
Tira, Jesus, cada espinho que possa estar afligindo a cabeça dos meus filhos. Que seus pensamentos sejam puros e retos. Lava-os, Senhor, com Teu Sangue, e que por Tuas chagas eles sejam curados.
(Pai nosso, 10 Aves-Marias, Glória ao Pai)
4ª dezena: Jesus com a cruz nas costas
Ajuda-os, Jesus, a carregar suas cruzes. Sê para eles um Simão Cirineu. Que cada uma de suas quedas não seja uma derrota, mas uma vitória e um novo ânimo para continuar a caminhada Contigo.
(Pai nosso, 10 Aves-Marias, Glória ao Pai)
5ª dezena: Jesus morre na cruz
Jesus amado, que meus filhos morram para o pecado e renasçam para a vida da graça. “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem.” (Lc 23,34b)
(Pai nosso, 10 Aves-Marias, Glória ao Pai)

Mistérios Gloriosos
1ª dezena: Ressurreição de Jesus
Que eles possam contigo ressurgir para uma vida nova. Que eles saibam que estás vivo no meio deles e que em Teu túmulo está escrito: “Ele não está mais aqui... (citação livre de Mc 16,6c)”
(Pai nosso, 10 Aves-Marias, Glória ao Pai)
2ª dezena: Ascensão de Jesus
Que um dia eles possam ao céu subir, porque lá é o lugar dos pecadores arrependidos.
(Pai nosso, 10 Aves-Marias, Glória ao Pai)
3ª dezena: A vinda do Espírito Santo
Que o Espírito Santo desça sobre cada um deles, tirando-lhes o medo de aceitar e anunciar Jesus.
(Pai nosso, 10 Aves-Marias, Glória ao Pai)
4ª dezena: Assunção de Nossa Senhora
Maria, Mãe querida, tu que amas meus filhos mais do que eu, faze que eles possam um dia encontrar-te no céu. Sê sempre a advogada deles perante Deus.
(Pai nosso, 10 Aves-Marias, Glória ao Pai)
5ª dezena: Coroação de Nossa Senhora
Que eles possam coroá-la nesta e na outra vida como Rainha do seu coração.
Amém.
(Pai nosso, 10 Aves-Marias, Glória ao Pai)

Cordélia P. Marques
Fonte: livro Orações de Poder, 46ª edição, da Raboni Editora.

[imagem da web]

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Oración-reflexión



Señor Jesús: Abre mis oídos para escuchar tu cálida voz
en cada sonido que percibo.
Abre mis ojos para observar tu bella luz que se refleja en todo lo creado.
Abre mi olfato para sentir tu fragancia exquisita y pura en cada ser humano.
Abre mi boca para saborear tu infinita bondad
en todo lo que acontece en este día.
Abre mis manos para palpar tu presencia en cada persona que se acerca.
Abre mi corazón para amarte en todo y todos obra perfecta de tu creación.
Abre mi voluntad para que la inundes con la tuya
y así servirte plenamente por siempre.

Fonte:www.reflejosdeluz.net

[imagem da web]

There was a boy



There was a boy
A very strange enchanted boy
They say he wandered very far, very far
Over land and sea
A little shy and sad of eye
But very wise was he

And then one day
A magic day he passed my way
And while we spoke of many things
Fools and kings
This he said to me

"The greatest thing
you'll ever learn
Is just to love
and be loved in return"


[imagem da web]

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Pai - saudade



Paira no ar cheiro de flor azul
Paira no ar a saudade de pai
Apaixonada melodia de amor que fica na lembrança...

Sandra Medina Costa

É ela. Não sou eu.



Ela afirma que na vida
ninguém gosta de ninguém,
que, se alguém ajuda a outro,
em troca um favor tem.
É ela. Não sou eu.

Relaciona-se com muitos daqueles
que tanto a magoaram um dia.
Exala sarcasmo e convive
de forma falsa e fria.
É ela. Não sou eu.

Optou desde a tenra juventude
casar-se em regime de submissão.
Engole hoje ofensas e desamores.
Sinto que dói seu coração.
É ela. Não sou eu.

Vão se abrindo em mim, aos pouquinhos,
as janelas do pensamento;
retiro "cruzes" que não são minhas
e peço a Deus livramento.

Sandra Medina Costa

[imagem da web]

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Wave



Tom Jobim

Vou te contar
Os olhos já não podem ver
Coisas que só o coração pode entender
Fundamental é mesmo o amor
É impossível ser feliz sozinho...

O resto é mar
É tudo que não sei contar
São coisas lindas que eu tenho pra te dar
Vem de mansinho à brisa e me diz
É impossível ser feliz sozinho...

Da primeira vez era a cidade
Da segunda o cais e a eternidade...

Agora eu já sei
Da onda que se ergueu no mar
E das estrelas que esquecemos de contar
O amor se deixa surpreender
Enquanto a noite vem nos envolver...

Vou te contar...

[imagem da web - música que gosto muito]

Pai



Fabio Junior

Pai, pode ser que daqui a algum tempo
Haja tempo pra gente ser mais
muito mais que dois grandes amigos, pai e filho talvez

Pai, pode ser que daí você sinta,
qualquer coisa entre esses vinte ou trinta
longos anos em busca de paz....

Pai, pode crer, eu tô bem eu vou indo,
tô tentando vivendo e pedindo
com loucura pra você renascer...

Pai, eu não faço questão de ser tudo,
só não quero e não vou ficar mudo
pra falar de amor pra você

Pai senta aqui que o jantar tá na mesa,
fala um pouco tua voz tá tão presa
Nos ensine esse jogo da vida,
onde a vida só paga pra ver

Pai me perdoa essa insegurança,
é que eu não sou mais aquela criança
que um dia morrendo de medo,
nos teus braços você fez segredo
nos teus passos você foi mais eu

Pai eu cresci e não houve outro jeito,
quero só recostar no teu peito
pra pedir pra você ir lá em casa
e brincar de vovô com meu filho
no tapete da sala de estar

Pai você foi meu herói meu bandido,
hoje é mais muito mais que um amigo
Nem você nem ninguém tá sozinho,
você faz parte desse caminho
Que hoje eu sigo em paz Pai Paz....

[imagem da web - flores que meu pai gostava]

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Sua Majestade o Neném



(balada, 1960) - Klécius Caldas e Armando Cavalcanti

Silêncio, ele está dormindo
Vejam como é lindo
Sua Majestade, o neném
A casa já tem novo dono
Novo rei, no trono
Sua Majestade, o neném.

Parece com o papai
Com a mamãe também
Parece com a vovó? Não!
Não parece com ninguém!
Ele, é ele só
Sua Majestade, o neném.

Parece com o papai
Com a mamãe também
Parece com a vovó? Não!
Não parece com ninguém!
Ele, é ele só
Sua Majestade, o neném....

[imagem da web]

Dadinho de Rosa



Violão na mão,
galanteio nas palavras,
melodia de perdão,
voz tremida, embargada.
Rosa era só coração.

Canções para os filhos?
Não me lembro de ouvi-las.
Hoje sei, entretanto,
que de nós houve uma agraciada,
Sônia, segunda filha,
que dormia ao som da balada
“Sua Majestade o Neném”,
e certamente sonhava...

Violão na mão,
coisa de artista,
serenatas de amor,
poesia e prosa.
Mas Dadinho era só de Rosa.
“A Cigarra e a Formiga”
em moderna versão.
Mãe lapidava pedra preciosa.
Pai lapidava coração.

Sandra Medina Costa

[imagem da web]

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Não há mais barreiras



Permita-se, Sandra.
A lua que nasce
amarela lá fora
já se mostra inteira,
radiante, bela,
e sobre o céu, confiante.
Avante!
Permita-se, Sandra,
ser como ela.
Já não precisa ter medo,
não existe mais segredo
no escuro firmamento.
Erga o seu rosto agora
e veja quantas estrelas
esperam, piscando ansiosas,
pela chegada da lua
que nasce amarela lá fora.

Sandra Medina Costa

O Amor me deu livramento



Manhã clara de sol.
Passos doloridos.
Mais uma volta no passeio da Igreja.
Na manhã, subitamente,
o passado se avizinha escuro, trôpego,
lucidez na incerteza.
Passos cambaleantes
ao lado: um retrato
do que seria o hoje,
o presente momento,
se eu não tivesse ousado
romper com um triste passado.
O Amor me deu o livramento.
Apresso o passo, contorno a esquina.
Ficam para trás as palavras
do retrato desconexo.
Palavras desgarradas,
soltas, perdidas,
numa estúpida tentativa
de criar algum sentido.
Tempo perdido.
Assim eu penso.
O Amor me deu o livramento.

Sandra Medina Costa

[imagem da web]

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Saudações



"Toda saudação deve basear-se em pensamentos de paz e alegria.
Pense no seu contentamentoquando alguém lhe endereça
palavras de afeto e simpatia, e faça o mesmo para com os outros.
Mobilize o capital do sorrisoe observará que semelhante investimento
lhe trará precioso rendimentode colaboração e felicidade.
Uma frase de vontade e compreensão opera prodígios na construção do êxito.
Auxilie aos familiares com a sua palavra de entendimento e esperança.
Se você tem qualquer mágoaremanescendo da véspera,
comece o dia à maneira do Sol:
esquecendo a sombra e brilhando de novo."
(Autor desconhecido)

Bom dia, Vida!

[imagem da web]

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Tudo aquilo que é bom e agradável...



“Existe uma constante aspiração para alcançar tudo aquilo que é bom e agradável. Isso implica que nossa atenção deveria ir na direção da transformação positiva:
1) no eu (pensamento, atitude, visão, palavra e ação);
2) na interação com os outros (família, amigos, colegas de trabalho, sociedade);
3) no relacionamento com o Supremo;
4) na conexão com a natureza e os cinco elementos.
Quando aumentamos a qualidade desses quatro aspectos da vida, asseguramos que não há desperdício ou negatividade. O que eu compartilho com os outros é o que eles serão inspirados a dar de volta para mim.”
Paz em Cristo

[imagem da web]

A complicada arte de ver



Rubem Alves
colunista da Folha de S.Paulo

Ela entrou, deitou-se no divã e disse: "Acho que estou ficando louca". Eu fiquei em silêncio aguardando que ela me revelasse os sinais da sua loucura. "Um dos meus prazeres é cozinhar. Vou para a cozinha, corto as cebolas, os tomates, os pimentões - é uma alegria! Entretanto, faz uns dias, eu fui para a cozinha para fazer aquilo que já fizera centenas de vezes: cortar cebolas. Ato banal sem surpresas. Mas, cortada a cebola, eu olhei para ela e tive um susto. Percebi que nunca havia visto uma cebola. Aqueles anéis perfeitamente ajustados, a luz se refletindo neles: tive a impressão de estar vendo a rosácea de um vitral de catedral gótica. De repente, a cebola, de objeto a ser comido, se transformou em obra de arte para ser vista! E o pior é que o mesmo aconteceu quando cortei os tomates, os pimentões... Agora, tudo o que vejo me causa espanto."

Ela se calou, esperando o meu diagnóstico. Eu me levantei, fui à estante de livros e de lá retirei as "Odes Elementales", de Pablo Neruda. Procurei a "Ode à Cebola" e lhe disse: "Essa perturbação ocular que a acometeu é comum entre os poetas. Veja o que Neruda disse de uma cebola igual àquela que lhe causou assombro: 'Rosa de água com escamas de cristal'. Não, você não está louca. Você ganhou olhos de poeta... Os poetas ensinam a ver".

Ver é muito complicado. Isso é estranho porque os olhos, de todos os órgãos dos sentidos, são os de mais fácil compreensão científica. A sua física é idêntica à física óptica de uma máquina fotográfica: o objeto do lado de fora aparece refletido do lado de dentro. Mas existe algo na visão que não pertence à física.

William Blake sabia disso e afirmou: "A árvore que o sábio vê não é a mesma árvore que o tolo vê". Sei disso por experiência própria. Quando vejo os ipês floridos, sinto-me como Moisés diante da sarça ardente: ali está uma epifania do sagrado. Mas uma mulher que vivia perto da minha casa decretou a morte de um ipê que florescia à frente de sua casa porque ele sujava o chão, dava muito trabalho para a sua vassoura. Seus olhos não viam a beleza. Só viam o lixo.

Adélia Prado disse: "Deus de vez em quando me tira a poesia. Olho para uma pedra e vejo uma pedra". Drummond viu uma pedra e não viu uma pedra. A pedra que ele viu virou poema.

Há muitas pessoas de visão perfeita que nada vêem. "Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. Não basta abrir a janela para ver os campos e os rios", escreveu Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando Pessoa. O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido. Nietzsche sabia disso e afirmou que a primeira tarefa da educação é ensinar a ver. O zen-budismo concorda, e toda a sua espiritualidade é uma busca da experiência chamada "satori", a abertura do "terceiro olho". Não sei se Cummings se inspirava no zen-budismo, mas o fato é que escreveu: "Agora os ouvidos dos meus ouvidos acordaram e agora os olhos dos meus olhos se abriram".

Há um poema no Novo Testamento que relata a caminhada de dois discípulos na companhia de Jesus ressuscitado. Mas eles não o reconheciam. Reconheceram-no subitamente: ao partir do pão, "seus olhos se abriram". Vinícius de Moraes adota o mesmo mote em "Operário em Construção": "De forma que, certo dia, à mesa ao cortar o pão, o operário foi tomado de uma súbita emoção, ao constatar assombrado que tudo naquela mesa - garrafa, prato, facão - era ele quem fazia. Ele, um humilde operário, um operário em construção".

A diferença se encontra no lugar onde os olhos são guardados. Se os olhos estão na caixa de ferramentas, eles são apenas ferramentas que usamos por sua função prática. Com eles vemos objetos, sinais luminosos, nomes de ruas - e ajustamos a nossa ação. O ver se subordina ao fazer. Isso é necessário. Mas é muito pobre. Os olhos não gozam... Mas, quando os olhos estão na caixa dos brinquedos, eles se transformam em órgãos de prazer: brincam com o que vêem, olham pelo prazer de olhar, querem fazer amor com o mundo.

Os olhos que moram na caixa de ferramentas são os olhos dos adultos. Os olhos que moram na caixa dos brinquedos, das crianças. Para ter olhos brincalhões, é preciso ter as crianças por nossas mestras. Alberto Caeiro disse haver aprendido a arte de ver com um menininho, Jesus Cristo fugido do céu, tornado outra vez criança, eternamente: "A mim, ensinou-me tudo. Ensinou-me a olhar para as coisas. Aponta-me todas as coisas que há nas flores. Mostra-me como as pedras são engraçadas quando a gente as têm na mão e olha devagar para elas".

Por isso - porque eu acho que a primeira função da educação é ensinar a ver - eu gostaria de sugerir que se criasse um novo tipo de professor, um professor que nada teria a ensinar, mas que se dedicaria a apontar os assombros que crescem nos desvãos da banalidade cotidiana. Como o Jesus menino do poema de Caeiro. Sua missão seria partejar "olhos vagabundos"...

[imagem da web]

domingo, 2 de agosto de 2009

Sonhos

http://www.youtube.com/watch?v=7fUhofutpXY

Crianças!...



Ainda pequenino, eu ensinava o Paulinho a orar, antes de dormir, todas as noites. E ele ia bem na aprendizagem! Comecei a perceber, no entanto, que, ao final da Ave-Maria, especificamente no “agora e na hora de nossa morte”, ele embolava tudo e eu não compreendia o que ele havia pronunciado.
- Não entendi, filho. Repete pra mamãe – comecei a lhe pedir.
Mas não adiantava. Toda noite era a mesma coisa.
- ... agorinjfghnbgvnjhfbamém! – finalizava.
- Fale devagar. Por que é que você não está rezando direito?
- É que eu fico com medo da parte que fala de morte, mãe...
Não me lembro mais o que lhe respondi, mas deve ter sido o certo, pois ele aprendeu e não teve mais medo.
Quando soube disso, minha amiga Ana Maria me falou de um menino que morria de medo do MALA-MAN, (com certeza associando a pronúncia a Superman, Spiderman, Batman, Aquaman...).
- Que Malaman?
- Aquele, do final do Pai-Nosso: “... mas livrai-nos do mal, amém.”

Sandra Medina Costa

[imagem da web]

sábado, 1 de agosto de 2009

A oração de AGOSTO



Espírito de Deus, em nós derruba os muros antigos. Constrói uma nova criação através da contemplação da transfiguração de nosso Senhor Jesus em tantos corpos mutilados e sem dignidade. Prepara-nos para contemplar tua crucifixão segura de que és o Filho amado de Deus, presente nas cruzes de nosso povo espalhadas pelos caminhos de nossa pátria. Tua mãe santíssima inspire-nos a viver em comunhão com Deus, servindo-o como serva humilde, e, a modo de Santa Clara, “jamais percamos de vista o ponto de partida” que se faz na contemplação diária do Cristo do presépio da Cruz e da Eucaristia, refletido na palavra e nos rostos de nossos irmãos e irmãs! Amém.

Irmã Sônia de Fátima Marani Lunardelli, TCSF.
Fonte: Folhinha do Sagrado Coração de Jesus

[imagem da web]