quinta-feira, 30 de abril de 2009

Cantiga o vento


A brisa que vem de longe
chega suave
cantiga leve
move as cortinas
invade a sala
passeia pelo meu rosto
beija-me a face
seca-me as lágrimas

A brisa que vem não sei de onde
cantiga suave
na minha janela
me chega aos ouvidos
me deixa feliz
(só não consegue acabar com o zumbido
que incomoda no ouvido esquerdo...)

A brisa cantiga
e ao cantar suaviza
a leveza da alma.
Pois é próprio da brisa
encantar o momento
em que é sentida.

Cantiga do vento.
Cantiga da vida.

O ouvido.
O vento.
O zumbido.
O lamento.

Cantiga o vento.
Cantiga a vida.

Sandra Medina Costa


Rola Moça



Pelas manhãs as montanhas de Minas têm as curvas do teu corpo,
Coberto pelo lençol de nuvens claras,
Imagem sedutora na claridade verdejante das matas.

E pelo entardecer, vejo abrires a comporta do vento,
Desnudando teu ventre de todos os lençóis.

E pela luz enluarada, que adentra pelo meu quarto,
Avisto estarrecido o Belo horizonte de tuas curvas,
Labirintos de amor; E descubro-me enlaçado,
Nas embrenhas dessa doce emboscada.

E pela manhã, que agora brota, iluminando novamente as verdes matas, ao redor da jóia rara, guerreira das minhas madrugadas, dona de uma espada, que no meu peito cravas, mas sem feridas nem chagas...


Trecho do Livro CARTAS DE MINAS
Autor: Fernando Benicio



quarta-feira, 29 de abril de 2009

Quanto eu valho?


Meu valor é alto!
Incalculável preço aos olhos de Deus,
agora também aos olhos meus.
Pois a qualquer sobressalto,
risco, perigo, temor,
meu Jesus me acolhe com amor.

Me vejo protagonista
de uma história verdadeira,
construída de forma altaneira,
honrada e altruísta.
Quem me criticou, entristeceu, debochou,
a meu favor trabalhou.

Há tempos fui comparada
a uma pedra preciosa –
pedra bruta,
mas valiosa,
que precisava ser lapidada.
Me esforcei, apesar dos golpes
que agrediram a auto-estima.
Mas sou Sandra,
sou Costa e Medina.
A alma exposta ao adverso
tem suportado calada
os atritos da vida
para ficar mais brilhante.
Afinal...
são eternos os diamantes.

Sandra Medina Costa

Sou um mistério


Sou um mistério.
(O outro é mistério).
Deus é mistério.
A única certeza é a de que Ele é a força interior que
anima
(no mais profundo significado da palavra)
a minha vida.

Por vezes me ponho a pensar...
qual é a força propulsora que atua em cada indivíduo
justificando gestos e atitudes,
ações e palavras, comportamento...
Comportamento que revela
por vezes suas grandezas,
por vezes suas misérias
(como alguém já me disse um dia).

Assusta-me pensar,
como indivíduo que sou,
que eu também possa
estar sendo alvo
de reflexões semelhantes.

Sou mistério.
A única certeza é que,
a cada segundo,
devo fazer minha escolha:
grandezas ou misérias?
maravilhas ou pequenez?
visto que Deus,
sendo a força interior a animar-me a vida,
em sua infindável sabedoria
concede-me o livre arbítrio.
Felicidade? Agonia?


Sandra Medina Costa


[imagem "orquídeas na laranjeira" - web]

terça-feira, 28 de abril de 2009

Poema da Família


Família
Saudade

Comunhão
Alegria
Saudade

Irmão
Melodia
Saudade

Perdão
Harmonia
Saudade

Paixão
Fantasia

Só a saudade
não rima.


E ainda por cima
deixa a gente pra baixo
que nem sola de sapato.

Sandra Medina Costa


[imagem Abaporu - Tarsila]

segunda-feira, 27 de abril de 2009

A embriaguez da alma


Eu quis um dia
a embriaguez da alma
numa vida de amor de outono,
cujo brilho enche o ar e me acalma.
Um amor com esse cheiro morno.

Cheiro de outono no ar.
Brilho de outono no ar.

Olho a luminosidade lá fora...
O céu, o sol...
Sinto o ar. Está diferente, mesmo!
E não sei porquê,
mas me deu uma imensa vontade
de te dizer isso.

Já reparou que no outono
as pessoas ficam assim
meio encolhidas,
ensimesmadas?
Ou serei só eu?
Perguntas retardatárias.
Respostas que não tenho.

Lá fora, o outono
passa devagarzinho,
preguiçoso,
com a alma embriagada
de sonhos meus...

Sandra Medina Costa


sábado, 25 de abril de 2009

Amo-te



Amo-te um amor indiviso,
Leve como a luz tênue da lua do meu céu,
Forte como o bramido desse mar à nossa frente.
Rumo ao futuro sigo, por vezes confiante, por vezes insegura...
Entendo que amor é isso: essa mistura
Doce e forte de sensibilidade, certeza, fragilidade...
O coração teimando em bater mais forte quando te vê.

Sandra Medina Costa

Ar de outono


Arde o outono
na tarde
Ar de outono
no cheiro
da tarde
Luz de outono
no brilho
da tarde
(prenúncio de inverno)

Sandra Medina Costa

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Contas


Dia do contabilista

Contador.
Contadora.
Conto números infindos
e entre eles vejo as letras.
O que embeleza os números
são as letras que escrevem os seus nomes.
Não fosse isso
e esse trabalho seria seco e árduo
para muita gente, estou certa.
Os contadores que conheço me mostraram
que dentro de cada profissional dos números
há um adormecido poeta.
É preciso trazer-lhe à luz,
a cor dar-lhe,
a forma, a expressão...

Sou contadora.
Me formei no curso Técnico em Contabilidade.
Mas nunca me dei muito bem com números.
Tenho escancarada preferência pelas letras.
Por preferi-las, mais tarde me formei em Letras.
Agora, sou de novo contadora.
Contadora de histórias.
Traduzo números em poesia.



Sandra Medina Costa


Ensina-me


Senhor,
Ensina-me a Te ver em todos os instantes dos meus dias;
na primeira face que eu encontrar no caminho;
no primeiro olhar que me for dirigido;
na primeira voz que eu escutar;
no primeiro aperto de mão; no vento qie me toca de leve;
na água cristalina que me serve;
no sol que beija o meu rosto;
na beleza da noite silenciosa e amiga;
Pois só Tu és a minha paz.
Amém.

Sandra Medina Costa

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Diojindiantchi

Diojindiantchi
é lá no futuro
que vou morar

Cumêrroizcumeletchi
(bem melhor que espaguete)
e na praia descansar

Esquecer todas as contas
Condiluiz, condiágua
e telefone!

E pra quem se atrever
A querer me tirar
do sério, meu irmão,

Vou olhar de soslaio
Pro sujeito-caraio e gritar:
- Quemuchão!

Sandra Medina Costa



Árvores e Crianças


“Árvores são poemas
que a Terra escreve para o céu...”
(Khalil Gibran)

Crianças são poemas
Que Deus escreve para a Humanidade.
Olhe ao seu redor.
A sabedoria consiste
exatamente nisso:
respeitar o verde
para sobreviver a Natureza,
respeitar a criança
para sobreviver o Homem.

Sandra Medina Costa

quarta-feira, 22 de abril de 2009

O terceiro sonho / o terceiro sono


Já nem me lembro mais.
Perdi meus sonhos de vista.
Preciso reencontrá-los.
Estou no terceiro sono
Onde minhas conquistas
Se delineiam volta e meia,
meia-volta, volver!
Vou ver que rumo tomaram.
Mas só amanhã.
Quero dormir.
Estou no terceiro sono.
Lá fora a chuva
me reporta a pesadelos,
me remete ao terceiro trovão...


Sandra Medina Costa

[imagem da web]

O terceiro amor


que julguei tão certo,
pois o primeiro
eu não o quis por perto,
e o segundo
foi amor platônico,
exposto o coração aberto.
Bobagem pura,
ledo engano,
amor assim não dura,
dói demais, é desumano.


Sandra Medina Costa

terça-feira, 21 de abril de 2009

Janeiro de 1995


O que eu fiz por mim?
Viajei.
Descansei.
Dormi.
Pisquei.
Molhei o pé (nas águas do mar).
Agradeci a Deus por tanta beleza que Ele pôs no mundo.
Chupei picolé.
Curti meu filho.
Tive medo.
Amei o mundo.

Sandra Medina Costa

[Imagem da folhaonline]

Saudadezinha


“- Porque ter saudades não é a mesma coisa que "sentir a falta de"... a segunda vem sempre primeiro.
- Ah... E as saudades vêm ao fim da tal semana”
(de um site blog.sapo.pt)


Lembrei
(com uma saudadezinha funda...)
de você.
Recaidazinha boba.
Sonhos de uma adolescência
mal vivida,
mal curtida.

Sandra Medina Costa


“Basta uma lágrima cheia
de uma saudade de tudo.”
(Afonso Lopes Vieira)

domingo, 19 de abril de 2009

Braziu


Metalinguistica mente...
Metalinguistica língua...
Metalinguisticamente,
usar a língua
pra falar da língua.
Braziu.
Metalíngua!

Sandra Medina Costa

Perfeita Rotina


Diferença, diferença, diferença...
Horário, almoço, preço...
Não me meter onde não for chamada.
Movimento, dúvidas, alunos,
carnês, dúvidas, mau humor...
Correr atrás, assinar, pedir...
Não ir atrás.
Não interromper reuniões.
Marcar horário?!
Perfeccionismo, perfeição, perfeccionista...

(imperfeição perfeita!)


Sandra Medina Costa

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Dia do Amigo - 18 de abril


"Pode ser que um dia deixemos de nos falar.
Mas enquanto houver amizade,
Faremos as pazes de novo.
Pode ser que um dia o tempo passe.
Mas, se a amizade permanecer,
Um do outro há de se lembrar.
Pode ser que um dia nos afastemos.
Mas, se formos amigos de verdade,
A amizade nos reaproximará.
Pode ser que um dia não mais existamos.
Mas, se ainda sobrar amizade,
Nasceremos de novo, um para o outro.
Pode ser que um dia tudo acabe.
Mas, com a amizade construiremos tudo novamente,
Cada vez de uma forma diferente,
Sendo único e inesquecível cada momento que juntos viveremos, e nos lembraremos para sempre."

[autor desconhecido]

Te amo e não quero te amar


Estou carente de você,
do seu sorriso,
de sua voz...


Sei que é pura ilusão,
mas o que eu mais preciso
é estar com você, a sós...

para falar o que sinto,
para dizer o que quero,
poder lhe mostrar o que sonho,
por que sonho e o que espero.

Espero um amor bem puro
que me faça bem ao coração,
não um sentimento imaturo
que me faça perder a razão.

Pois o que tenho sentido
não é bom, me faz sofrer.
É um amor reprimido,
com sua ausência doído,
inconformado, perdido,
saudoso, carente e louco
por ter você mais um pouco.

Um pouquinho só. O tempo suficiente
para que o Universo se unisse
com suas benditas forças
e conspirasse a nosso favor,
pra que você também percebesse
e sentisse esse amor.

Sandra Medina Costa

quinta-feira, 16 de abril de 2009

A terceira igreja



- Imaculada Conceição –
iniciação ao catecismo
logo abandonado pela vergonha...
longe de casa, a irmã do lado,
eu na porta da igrejinha,
não consegui segurar o xixi que vinha.
O calor molhado da roupa...
O suor frio do rosto...
As pernas molhadas...
A poça no chão.
A cara no chão.
A vergonha.
- Santa Edwirges –
Tão perto de casa,
era fácil estar lá.
Decepção. Tristeza.
Não pude ser madrinha
Por não ser mais casada.
Lição de exclusão
na minha própria igreja.
- Santuário São Paulo da Cruz –
Perto de casa, perto do trabalho.
Fui lá poucas vezes.
Ainda me sinto deslocada.
Sempre gostei de orar na igreja
quando ela está vazia.
Momento de recolhimento, interiorização.


Sandra Medina Costa



Revivendo o sonho em oito versos


(ou “Recordações de ontem, último dia do ano”,
ou “Navegando ao sabor do sonho
ou “A força da voz-carinho”)

“Vão-se os aneis, ficam os dedos.”
Vão-se os sonhos, ficam as esperanças...
Voltam os sonhos,
as esperanças se renovam.
O medo, a insegurança, a incerteza
ressurgem, convivendo em “distonia”
com os quase secretos desejos do coração.
Vontade irreprimível de ver você. E só.

Sandra Medina Costa

quarta-feira, 15 de abril de 2009

A terceira praia



Da primeira praia,
aos quatro anos de idade,
me vêm à lembrança
cenas de uma gostosa saudade
na viagem a Alcobaça:
- a despedida na ida,
de mãos dadas com minha mãe...
- comer camarão que secava ao sol,
do lado de fora de uma cabana qualquer...
- sair correndo com a Célia
na primeira descoberta da dona dos camarões,
que nos xingava... e eu sem entender nada.
Numa segunda vez,
conheci o Espírito Santo:
primeiro Itaipava e, depois,
Vila Velha – praia de Itaparica.
É para onde
vou e volto, volto e vou...
A vontade é ficar lá de vez.
Mas a terceira praia foi mágica,
Foi lição de vida.
Respirar outros ares,
Lutar contra o medo,
Foi duro.
Superar obstáculos,
Viver para sempre em
Porto Seguro.

Sandra Medina Costa

Pretérito (tão) Presente Imperfeito


Vi de novo o brilho em seus olhos.
A dúvida pairou no ar:
seria eu mesma, meu reflexo?
ou sua luz a brilhar
em sintonia quase perfeita
com a luz do meu olhar?

Senti falta desse brilho,
senti falta desse toque,
senti falta de você.

Ouvi sua voz em outras vozes...
Vi você em cada canto...
Sonhei você o tempo todo...
Vivi você no pensamento...

(Cheguei a ponto de ignorar propositalmente
as concordâncias e regências verbais.)

Sandra Medina Costa


“Olhos – janelas da alma.”
“A candeia do corpo são os olhos.”
“Nada há que seja impuro na obra divina, porque nela se assentou a presença do Criador.” (Aquilo que Deus criou, Ele o fez para refletir a Sua perfeição).


terça-feira, 14 de abril de 2009

Somos dois perdidos...


Somos dois perdidos
Deitados numa noite escura.
E a cama que abriga
É fria, dividida, dura.

Não sei quando te ganhei.
Não sei quando te perdi.
Teu olhar foge do meu.
Palavras não mais ouvi.

Sandra Medina Costa

[imagem da web]

Saudades...


De repente
bateu uma vontade louca de ver você.
Uma saudade
que não tem tamanho.

Queria ouvir sua voz, mesmo de longe.
Ver você. Mesmo de longe,
às escondidas.

Só pra ver se alivia um pouquinho
Essa dorzinha tão funda
(tão funda, tão fininha,
que me incomoda.)

Sandra Medina Costa

[imagem da web]

Poesia inacabável


Angústia dilacerante,
Lágrimas teimando em brotar
Por mais que me faça forte
E tente não fraquejar

Vontade imensa, grande,
De sair, de arejar,
De estar longe, distante,
Sem nada a me preocupar.

Sandra Medina Costa

Família Sagrada


Pai.
Mãe.
Sete filhos
(três pais e
quatro mães).

Que missão é essa?
Vejo o William –
filho, irmão, pai de família,
viveu recentemente a estranha experiência
de ser filho da sua própria família.
O sentido da palavra “pai”
está em seu próprio nome –
é assim que os filhos o chamam.
Qual o segredo dessa missão?
Ser Adilson, Chiquito ou Chicão?
“Diferença nenhuma”, diz ele.
Já ouvi ele mesmo se chamar de Francisco,
Francisquinho...
Dos irmãos, o mais enigmático!
Sistemático.
O mais calado. O mais coração.
Mais filhos, mais netos...
Menos sorrisos, menos compreensão...
Talvez, quem sabe?
a ele não importa o nome,
importa os irmãos juntos, em paz.
Do destino a ironia: Nelson,
somente filhas teria
(e os que não vieram?),
mas para compensar-lhe, decerto,
os filhos homens vieram
na figura de seus netos.

Rosely – mãe de nós todos,
desabafou numa noite, nervosa:
- Tive que ser mãe de mim mesma!
(era a primeira filha mulher de sua mãe Rosa)
Sônia – família grande, constituída...
Mas desfalcada depois
num desses golpes da vida...
Célia – perdeu o primeiro filho,
por descuido dos médicos.
Felizmente, Deus a presenteou com Fausto e Lívia.
Sua última gravidez, na qual Alice chegaria,
não vingou. Vem-me à lembrança um texto que li:
Vende-se par de sapatinhos de bebê, sem uso”.
Eu, Sandra, agradeço desde sempre
a missão a mim concedida:
trazer Paulinho à Vida.
Quanto ao mais, não sei...

Sandra Medina Costa

[imagem da web - site da Obvious]

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Que é o Futuro?


“Que é o Futuro
para que dele
te distancies?”

Futuro – medo – distância
Dor.

Passado – coragem – busca
Amor?

Presente
inexiste
na mente
ocupada
em entender
o Passado
e temer
o Futuro.

Sandra Medina Costa

Retrato do amor sonhado ontem


Por um segundo pensei estar sonhando
ou vendo o quadro mais lindo do mundo
(e mágico, e cheio de luz):
Você na janela.
Você me sorrindo em silêncio.
Você me olhando.
Foi pura luz, puro encantamento
(logo quebrado por força das circunstâncias...).
Não fosse real, com certeza me
perderia horas e horas a olhá-lo.

Triste sina de quem ama só:
- tenta sufocar o amor ou eliminá-lo,
mas o coração parece ter vontade própria;
- vive disfarçando o que sente
para não incorrer em atitudes ridículas,
que podem ser percebidas a longa distância;
- sonha, sofre, sorri e chora
com a mesma intensidade,
pois sabe que perdeu a invulnerabilidade,
o controle, o equilíbrio do ser interior.

Sandra Medina Costa


domingo, 12 de abril de 2009

Até na sua lembrança


Sou aquela que está sempre
onde a mão de Deus alcança.
Até na sua lembrança!
Até na sua lembrança!

Sinto a força deste amor
em minha alma de criança.
Até na sua lembrança!
Até na sua lembrança!

Arco-íris no meu céu
mostra a divina aliança.
Até na sua lembrança!
Até na sua lembrança!

Olhar de misericórdia...
e a voz doce e mansa...
Até na sua lembrança!
Até na sua lembrança!

Sandra Medina Costa

[imagem da web]

Por quê?


- Por quê? – pergunta meu filho,
diante de qualquer fato
que lhe atraia a atenção.
Seja sobre a natureza,
a vida, a arte, o amor,
o corpo, a dor da saudade
que por vezes lhe invade,
a pergunta é sempre a mesma:
- Por, que, mãe? – e me pega de surpresa.

E eu tento satisfazer-lhe
a curiosidade insistente
(tão própria de sua idade!),
mas nunca é suficiente.

Ah, meu filho, se você soubesse
quantas perguntas há em mim,
para as quais não encontro respostas!

Quisera eu ter sua idade,
sabedoria e curiosidade...
Ter alguém que me acolhesse
cheinho de amor de verdade.
Para acabar com essas dúvidas
que me angustiam tanto.
Que estivesse ao meu lado,
Que fosse o seu e o meu encanto.

Sandra Medina Costa


Não quero mais


Não quero mais falar de mim.
Me sinto tão seca por dentro!
Agora já me contento
com as rosas que vejo ao lado,
a mangueira toda verde a minha frente,
as montanhas ao longe...
A sequidão da alma fez evaporar as lágrimas
(ou será que se cristalizaram?).
Longe, os sinos dobram
e me conduzem ao período
em que discutíamos em sala de aula a questão
“Por quem os sinos dobram?”,
até chegar àquela resposta fatídica:
- Eles dobram por mim, por ti, por todos nós
que morremos a cada dia um pouquinho,
quando não vimos a fome de amor e carinho do outro,
ou vimos e ficamos impassíveis diante da morte...

Sandra Medina Costa

sábado, 11 de abril de 2009

O terceiro voo


O primeiro voo foi para São Paulo.
O segundo também foi.
Todos os dois a trabalho,
mas não importa.
O segundo foi desafio:
voar sozinha, ida e volta,
sem medo ou calafrio.
Mas, já o terceiro vôo
levou-me a Porto Seguro,
na busca de reencontrar-me,
esquecer o medo do escuro.
Viagem inesquecível:
ida à noite, encanto das luzes,
em meio à crise aérea,
após horas de espera.
Retorno durante o dia,
encanto das águas do mar,
do céu, das nuvens.
Leveza da alma.
Cheiro do azul.

Sandra Medina Costa


Brincadeiras de Criança


Gangorra, balanço...
E eu quase “danço”
na queda,
a cabeça
na pedra,
a corda podre
arrebentou
e me arremessou
sem dó.
Sangue e dor.

“Velocipe”, velocípede...
Desejo repreendido
Lição de inveja:
o brinquedo do outro,
a alegria do outro.
O olhar pidão.

Boneca de cabelo,
Boneca que chora...
Ter uma?
Ter como?
Só resto.
Ver a boneca
ou o que restou dela
jogado no chão.
Boneca sem cabeça,
braço solto,
boneca sem perna,
boneca suja...
O prazer do outro.
O prazer efêmero.
A alegria do outro.
Alegria passageira
e descuidada.

Bicicleta...
Não pode! É cara!
Não pode,
Nem na garupa!
Se desobedecer...
mentira tem perna curta.
Curtas são
as pernas da menina
que, às escondidas,
vai na garupa...
E o medo era tanto!
e o medo era tamanho!
Descuido.
E o pé da criança
se prende na roda.
O corte. O sangue. A dor.
O choro engolido.
A vontade engolida.
O sonho-pesadelo.

Dar cambalhota...
Qualquer um pode,
qualquer um faz,
menos a menina.
Era obrigação tentar,
Mas não havia preparo.
Risco.
Ousadia.
E o pescoço...
Por pouco!

Subir em árvore!
Subir na goiabeira
à cata das goiabas “de vez”...
Doce vermelho-róseo
encoberto pela casca
verde, cheirosa...
Goiabas inchadas,
deliciosas.
Buscar o prazer.
Ousar.
No meio do caminho
havia uma lagarta...
“e tudo que era doce
acabou-se”!

Bola de gude – não.
Soltar papagaio – não.
Jogo de finca – não.
Chutar bola – não.
Carrinho – não.
Rodar o arco – não.

Andar na enxurrada,
ao final da chuva,
pisar aquele chão
liso de lama,
a água barrenta
descendo forte
ladeira abaixo...
Que delícia!
Mas... escondido!
Havia o perigo
do caco de vidro,
do prego enferrujado,
do corte, da ferida,
da perna perdida.

Sandra Medina Costa

sexta-feira, 10 de abril de 2009

No meio do caminho para Vila Velha...


No meio do caminho
havia uma neblina, Medina.
Havia uma neblina
no meio do caminho.

As cerquinhas passavam
céleres, serelepes.
As árvores,
num tom verde-noite,
passavam também rápidas,
mas numa movimentação em “3D”.
Só as cidadezinhas dormiam
um sono profundo,
velado pela luz amarelada
dos postes em prontidão.

No começo do caminho
também havia uma neblina, menina...



Sandra Medina Costa

Interrogantes sin respuesta


Faz tempo,
nem sei mais se já lhe disse
se o que aflige meu coração de criança
é o medo da precoce velhice
que, ainda eu não querendo,
sempre me alcança.

E se fosse o contrário?
Se a depressão não fosse minha,
se a tristeza fosse sua, meu caro?
Ficaria às mínguas, suponho,.
Pesadelos? Nem em sonho!
Não tenho estômago pra tanto.
Só covardia em pranto.

Sandra Medina Costa


quinta-feira, 9 de abril de 2009

Aprendendo com “Lição das Horas”


Fátima voltara para o trabalho, naquela tarde, novamente muito triste. Desentendera-se com o marido havia já alguns dias. Frente ao local em que trabalhávamos, havia um ipê que, àquela época (era setembro) estava “magro”, quase sem folhas. Apontando para a árvore, ela me confessara estar se sentindo como um galhinho seco daquela árvore...
Lembrei-me do livro Lição das Horas, (de Ângela Leite de Souza – Editora Miguilim). Escrevi-lhe, então, a mensagem abaixo. Acho que deu certo. Ela recobrou o ânimo e, naquele mesmo dia fizeram as pazes.

Nelita
Galhos secos...
Bom sinal!
Sinal de que a vida (o verde)
está pulsando latente
prestes a romper
a sequidão da alma.
A lição da espera.

(Naquela mesma ocasião, inspirada pelo livro, escrevi também aos outros amigos algumas percepções que tinha sobre eles...)

Juscélio
O que move a vida da gente
é o sonho.
E o sonho não se apaga.
Pode, por vezes, adormecer
um pouco
para acordar mais forte
que nunca.
A lição do sonho.
A lição da vida.

Salma
Metade de mim é luz.
A outra metade é brilho.
Sou única, sou ímpar!
Sou par.
Sou par porque não sei ser
sozinha.
Sou mais com o outro.
E o outro é Deus.
A lição da fé.

Cecília
Silêncio para a busca,
para a escuta do próprio
pulsar.
A inquietude latente,
latejante,
sussurra a plenos pulmões:
“Vai e busca. A Verdade, a Luz,
a Vida habita em você.”
A lição do silêncio.

Simei
(Ao ler o livro, Simei escolhera os seguintes versos como mais significativo para ele: “A planta se fez pedra em convívio com a rocha. Lição de eternidade.”)
A flor também se eterniza,
por si própria, mesmo em
convívio com a rocha,
se é capaz de transmitir
e fazer perdurar a sua sensibilidade
nos olhos de quem a vê.
A lição da eternidade.

Donizetti
(Naquela semana, Doni me falara de uma espetacular aula de filosofia que tivera. Uma aula inteira em que seu professor discorrera sobre um ponto feito com giz no quadro.)
Um ponto no horizonte.
O infinito visível
se mostrando invisível.
Remotas lembranças de um
momento ímpar –
mergulho em mares de livros,
naufrágio num ponto, num
pingo (de giz).
A lição do infinito.

Simone
(Grávida)
Vida nova.
Nova vida pulsando
única, singular...
como a dizer a todos
que mais uma vez
Deus prova o seu amor
à humanidade.
A honra de ser mãe,
a bênção de dar à luz
alguém tão repleto de luz.
A lição do amor.

Adriana
Coração foi feito para sentir.
Sentir e acreditar em si,
em todas as possibilidades
que a vida nos apresenta;
sentir-se prenhe de luz, de fé,
para enxergar-se capaz
de vencer quaisquer obstáculos;
saber que eles fazem parte
deste grande show – a vida.
A lição da força.

Sandra Medina Costa

quarta-feira, 8 de abril de 2009

O terceiro nome


Costa.
Não vejo.
Sinto o peso.
É forte, eu sei.
Me olho no espelho
e vejo em meus olhos
o sinal do terceiro nome.
Pai, quantas vezes quis ter
o orgulho de ser sua filha!
A bebida foi mais forte.
Venceu, levou-o à morte.
Lamento. Não segui sua trilha.
A bebida, de novo mais forte,
venceu, destruiu minha primeira família.
(Até hoje tento imitar sua letra e a assinatura,
tal como está nos boletins do primário...)


Sandra Medina Costa

Relâmpagos


Relâmpagos,
límpidas luzinhas
luzidias,
reluzentes.
Lâmpadas do céu
que reluzem de repente,
acendem-apagam-acendem-apagam,
fazem barulho,
estremecem o coração da gente.

Relâmpagos.
Gotinhas de chuva
na minha janela.
Clarão de corisco
que vejo por ela.
O trovão soa longe...
Não tenho mais medo!
É a força de Deus!
já sei o segredo.

Relâmpago.
Raio.
Corisco.
Eu sozinha.
Relâmpago,
clarão no céu?
Sorrio. Sou aquela menininha:
“É Deus tirando foto minha!”

Sandra Medina Costa



Poema para meu filho


É dia de graça!
É dia de luz!
Alegria infinda
Que você traduz.

Meu astro luminoso,
Meu solzinho, vida minha,
Que, com palavras tão meigas,
Me considera “rainha”.

Peço a Deus, todos os dias,
Que a luz de Sua estrela-guia
Esteja sempre a iluminar

Seu caminho, sua vida,
Sua infância querida,
Grande Homem a se formar.


Sandra Medina Costa

novembro de 1994

terça-feira, 7 de abril de 2009

Uma Lição de Viver


(Visita ao AIACOM e SOPÃO – Obras sociais agostinianas – RJ)

Sexta-feira. 13 de agosto de 1999.
Chegada ao AIACOM* – Armazém de Idéias e Ações Comunitárias, no bairro Engenho Novo, Paróquia Nossa Senhora da Consolação e Correia. Na equipe, Douglas, Kátia Amaral, Cacau, Rosana e eu (Sandra).
No começo, dúvidas e medos frente aos relatos recebidos (a “preparação do terreno” onde iríamos pisar). Primeira surpresa: rostos felizes na interação educador/educando, a despeito de um contexto social e familiar de violência, drogas, morte (já banalizada...), descrença... Atrás daquelas feições, o retrato da dor. Predominância da cor negra. Surpresa e encantamento ao vermos a magnífica atuação de uma equipe de, mais ou menos, 35 pessoas junto a meninos e meninas de 4 a 17 anos. Lição de resgate da cidadania.
(E eu me senti tão pequena, insignificante, inútil mesmo... Primeiras inquietações de dentro: estariam eles fazendo mais? e nós, aqui, menos? Realidades distintas. Projetos distintos. Objetivos específicos. Meta comum, única: “educação como um processo de busca constante que pessoas e grupos fazem para construir sua própria identidade e história”, “formação plena do indivíduo”.)
Em meio aos relatos e vivenciando aquelas “oficinas”, uma lição e outra... “Não basta ser educador, um bom educador, é preciso interagir a todo instante com o aluno”. Em cada trabalho visitado, a emoção de ver crianças e adolescentes desenvolvendo suas potencialidades humanas nas chamadas “oficinas psicopedagógicas”.
Hora de pôr o pé na estrada, conhecer o morro, as “comunidades”, ver o retrato de uma vida um tanto quanto cruel. A lição do morro. Barracos empilhados, pendurados em ladeiras íngremes, como a mostrar àquela gente sofrida que a vida é isso. O morro é assim.Cheio de códigos, simbologias. E lá estava o inocente latão de lixo a disfarçar uma calma aparente.Sinal de perigo. Não subir nem descer (a noite anterior havia sido quente. Invasão, tiroteio, granadas...)
A cruz em cada morro. Longe de evocar religiosidade, mas, ao mesmo tempo, simbolizando um lugar sagrado, “altar de sacrifícios”, local de extermínio das “personas non gratas” ao meio, traidores da lei que impera no morro. (...aos filhos deste o solo,ó mãe gentil, pátria amada, Brasil. Ainda que este solo seja a sete palmos). Religiosidade? Vi, sim. Naquela igrejinha do Morro São João. Pequena, corroída pelo tempo, tempo de agora.
Ao lado da igrejinha, emendada à parede lateral, um barraco de dois cômodos. Subir o morro. Entrar no morro é como entrar do outro lado da vida. Lição de mãe. No barraco mal iluminado, sem janelas, a miséria imperava. Doía-me a alma e o coração parecia sangrar. (E eu, menor ainda.). A “mãe” de quatro anos olhava-nos curiosa. Ao redor, penumbra, amontoado de pedaços do que um dia foram móveis, sujeira, umidade, mofo. O guarda-roupa parecia lutar para manter-se de pé, entulhado de panos, roupas. No chão, pedaços velhos de tapetes. Sobre uma larga e feia cama, os três “filhos” daquela mãe de quatro anos: filhos de três anos, dois anos e um bebê de aproximadamente um ano. Não vi poesia.Ou talvez aquela fosse a maior poesia viva diante de meus olhos! Do quarto do fundo vinha um barulho intermitente de água pingando. Uma luz fraca lá no fundo. Doeu muito. Foi difícil permanecer ali.
Conhecer o AIACOM foi lição de luz, solidariedade, de fé na construção de um novo país. Uma experiência, como disse Pe. Paulo Gabriel, “que nos ajuda a crer que vale a pena sonhar”. Vimos um trabalho articulado e participativo, com setores interligados, metas estabelecidas e pautadas no binômio “inteligência e coração”. Ficou a constatação, de educador a educador, de haver uma só fala. Plagiando Santo Agostinho, acho que posso afirmar: vimos uma só alma, um só coração.
* AIACOM: projeto alternativo sócio-educativo que busca contribuir para a formação integral das crianças e adolescentes em situação de risco social, para que possam desenvolver, dentro de suas potencialidades humanas, sua consciência crítica e seu espírito solidário, tornando-se agentes transformadores da realidade, envolvendo neste processo a família e a comunidade.


Sábado, 14 de agosto de 1999.
Visita ao Sopão, no bairro Marechal Hermes.
Mais uma vez, crer no amor maior. A experiência agora é como ver ao vivo e a cores alguns ensinamentos de Santo Agostinho. “A medida do amor é amar sem medida”. Ou ainda: “Põe amor em tudo o que fazes e as coisas terão sentido. Retira delas o amor e tornar-se-ão vazias.”
Novo e dolorido impacto. Agora mais forte. Retrato da fome. A degradação do homem. O fundo do poço. À nossa frente perfilavam figuras tristes, “espectros” do que algum dia já foram chamados homens. Perderam tudo, o sonho, a casa, a família, o trabalho, a dignidade. Restou-lhes a fome. E naquele momento o que mais importava era a tigela com a sopa para matar a fome, pois o resto parecia estar morto. Visão grotesca. Aquelas cenas ardiam e feriam os olhos e o coração. No ar, o mau cheiro impregnando as narinas. Alguns cães se misturavam àquela gente também na expectativa de sobrar-lhes algum bocado. Seres humanos em grupos, espalhados pelo pátio, alguns na capela cumprindo um ritual de evangelização no aguardo de sua vez de devorar a sopa, outros se lavando... No pequeno refeitório, talvez a única refeição daquele dia... Quebrando aquela deprimente cena, um jardim. Ali, as flores e plantas teimando em colocar um pouco de cor e beleza.
(Inútil chorar. A dor não passa. “Senhor, que queres que eu faça?” Esboçam-se mais inquietações internas. Mais indagações surgindo em mim, tão pequena, tão menina, diante da grandiosidade daquele trabalho de entrega, de paixão, de voluntariado, de amor ao outro... “Que é o homem para que dele te lembres, Senhor?” Até que ponto pode descer o homem? Começo a me dar conta de que é possível saber por quem os sinos dobram.).
E nós? O que fazer com tudo isso que vimos, ouvimos, vivemos...? Indiretamente, nós estamos lá, nessas duas igualmente importantes e fascinantes obras sociais agostinianas. Dentro de mim fica martelando o pensamento de que não estamos aqui por acaso. Temos também uma razão de ser, uma missão a cumprir. Santo Agostinho já nos ensina que o amor é a grande diferença. “Todo amor tem sua própria força e não há amor inoperante em alma alguma. Arrasta sem remédio. Queres saber qual é o amor de tua alma? Veja aonde te leva.”

"Um homem se humilha, se castram seus sonhos. Seu sonho é sua vida e a vida é o trabalho. E sem o seu trabalho um homem não tem honra. E sem a sua honra, se morre, se mata. Não dá pra ser feliz.”

Sandra Medina Costa
Rio de Janeiro, 13 e 14 de agosto de 1999.


AIACOM (Armazém de Idéias e Ações Comunitárias)
Rua Barão do Bom Retiro, 920 - Engenho Novo –
CEP: 20.715-000 – RIO DE JANEIRO – RJ
Tel.: (21) 2581-9918 / 2261-6709
OBRA SOCIAL SANTO TOMÁS DE VILANOVA (Sopa dos Pobres)
Rua General Savaget, 15 A - Marechal Hermes –
CEP: 21.610-290 RIO DE JANEIRO - RJ
Tel.: (21) 2450-2187




POEMA DA MENINA QUE VIU
O RETRATO DA FOME E DA VIOLÊNCIA

I
Eu vi o menino. Eu vi a alegria.
Eu vi a cor. Eu vi a dor.
Eu vi o morro.
Eu vi a cruz do morro.
Eu vi a lata de lixo.
Eu vi a igrejinha no morro.
Eu vi o barracão.
Eu vi o chão. Eu vi a “mãe”.

Eu vi a luz,
a indignação,
a solidariedade ao irmão,
a flor teimando em brotar do árido chão.


II
Eu vi o homem.
Eu vi o irmão.
Eu vi o cão.
Eu vi a fome.
Eu vi a dor.

O homem não estava só.
A fome não estava só.
A dor não estava só.

Eu vi a luz,
a indignação,
a solidariedade ao irmão,
a flor teimando em brotar do árido chão.


Sandra Medina Costa
Visita ao AIACOM e Sopão
Rio de Janeiro, 13 e 14 de agosto de 1999.


Coelhinho da Páscoa


- Coelhinho da Páscoa,
que trazes pra mim?
- Uma Boa-Nova:
o amor não tem fim!
É azul, amarelo e
vermelho-carmim.

- E os ovos de Páscoa?
Quem vai me trazer?
- O Amor já fecundo
que há em você!
É a pura energia
pra tudo vencer.

- Coelhinho sabido,
eu quero a Verdade!
- Te digo que a Páscoa
é uma passagem,
é o teu renascer
em tua vida-viagem!

Sandra Medina Costa


“Coelhinho da Páscoa, que trazes pra mim?
Um ovo, dois ovos, três ovos assim!
Coelhinho da Páscoa, que cor eles têm?
Azul, amarelo e vermelho também!"

A terceira mãe


Imaculada,
que adotei de coração.
As duas primeiras,
confusas roseiras
que no tempo perdi:
Mãe Rosa...
Mãe Rosely...
que se misturam carentes,
pois só as vejo em sonhos:
ora amargas,
ora doentes...

Sandra Medina Costa

(Imagem reflejosdeluz.net)

Poema da Dúvida


Não sei se sinto falta de você.
Não sei se lhe quero mais.
Tenho um vazio em meu peito,
Sinto-me feia, sem jeito,
Amar assim, nunca mais.

As rimas agora são pobres,
nem alternadas, nem paralelas.
Perdi a inspiração que tinha.
Não sei se lhe quero mais.

A preocupação com a forma
e a riqueza de detalhes
perderam-se no vazio.
Não sei se sinto falta de você.
Amar assim, nunca mais.

O poema é pobre, eu confesso,
Pois tenho um vazio em meu peito.
Queria você, de qualquer jeito.
E agora não quero mais.

Será que não quero mesmo?
Ou é só mais um jogo de palavras,
por sentir-me feia, sem jeito,
e, na verdade, rejeitada?

A verdade dói.
A verdade é que você
se afastou de mim.
A verdade é que você
nunca esteve perto de mim.

Sandra Medina Costa

(Imagem da web)

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Café de Páscoa


Café
Grãos vermelhos
nos galhos folhados
de verde-maduro
Grãos vermelho-doce
Cor saborosa
que a alma sentiu
antes mesmo que
a língua, o sabor.

Grãos escuros
Depois de secos
triturados, moídos, pó...
cheiro forte
a evocar o sabor
dos grãos vermelho-doce.

A água fervente
sobre o pó derramada
no coador antigo.
O cheiro forte de café
invade a sala, a alma, a casa, o mundo...

É passagem.
É Páscoa.
Pessach...

Já passei o café!” – alguém grita lá de dentro.

É passagem.
É Páscoa.
Pessach...

Passagem – só de ida – para a liberdade, conversão e vida.

No ar, o cheiro da liberdade que vem...
Na alma, o cheiro da conversão de alguém...
Solidária Comunhão.
Vitória da Vida.

Sandra Medina Costa

Não Pensei


Não pensei que fosse tão difícil
sobreviver a tanta doçura,
tanta ternura,

Não pensei que fosse tão difícil
superar tanto amor,
tanto carinho.

Queria não te gostar tanto.
Queria não te querer tanto.
Queria não te gostar,
nem te querer
de forma alguma!

(Essa repetição de termos é proposital:
é uma luta travada comigo mesma.)

(Preciso, com urgência,
estabelecer uma “relação dialógica” comigo,
fazer as pazes comigo,
encontrar-me.)

Sandra Medina Costa

Infelizes


Infelizes aqueles que se apegam
a essa presença, que acaba por se tornar
fugidia, efêmera (tênue luz...)

Infelizes aqueles que se apegam a esses passos
(sorrateiramente anunciando alegria...).
Passos que acabam por se tornar esquivos, distantes,
até sumir por completo.

Infelizes aqueles que se deixam cativar
desconhecendo a alma humana.
Sofrerão a perda do irreparável.

Sandra Medina Costa


“Felizes aqueles que são presença.
Cujos passos anunciam alegria.
Que sabem cativar e se deixam cativar.”
(SCHMITT, Pe. Carlos A.. Um Oásis no meu deserto)

domingo, 5 de abril de 2009

Num domingo em Vila Velha (ou Vinícius salva Daniel)


(Notícia de domingo, 22/03/2009)

Consciencioso,
da vinha cuidadoso
Vinícius sempre foi.
No domingo, sem medo,
sem delongas ou segredos,
atirou-se à água para salvar Daniel,
que, através de sua dor,
profetizava naquele instante
o ressurgir de valores
hoje raros como diamante.

Amor à vida?
Amor ao irmão?
Defesa da Vida
na vinha cultivada
através de gestos fraternos...

(...)

Daniel perdeu uma perna.
Vinícius salvou-lhe a vida.
Daniel ganhou amizade eterna.
Vinícius cuidou da vinha.

Sandra Medina Costa

Pai


Seu nome pode não ter sido
a primeira palavra que eu disse,
mas meus primeiros passos
certamente foram para seguir os seus.

Sandra Medina Costa

Frivolidades


Olhar com os olhos da alma,
do amor, do coração...

Dizer só frivolidades,
esquecer toda a saudade.
Aprender a dizer “não”.

Sandra Medina Costa