sábado, 11 de abril de 2009

Brincadeiras de Criança


Gangorra, balanço...
E eu quase “danço”
na queda,
a cabeça
na pedra,
a corda podre
arrebentou
e me arremessou
sem dó.
Sangue e dor.

“Velocipe”, velocípede...
Desejo repreendido
Lição de inveja:
o brinquedo do outro,
a alegria do outro.
O olhar pidão.

Boneca de cabelo,
Boneca que chora...
Ter uma?
Ter como?
Só resto.
Ver a boneca
ou o que restou dela
jogado no chão.
Boneca sem cabeça,
braço solto,
boneca sem perna,
boneca suja...
O prazer do outro.
O prazer efêmero.
A alegria do outro.
Alegria passageira
e descuidada.

Bicicleta...
Não pode! É cara!
Não pode,
Nem na garupa!
Se desobedecer...
mentira tem perna curta.
Curtas são
as pernas da menina
que, às escondidas,
vai na garupa...
E o medo era tanto!
e o medo era tamanho!
Descuido.
E o pé da criança
se prende na roda.
O corte. O sangue. A dor.
O choro engolido.
A vontade engolida.
O sonho-pesadelo.

Dar cambalhota...
Qualquer um pode,
qualquer um faz,
menos a menina.
Era obrigação tentar,
Mas não havia preparo.
Risco.
Ousadia.
E o pescoço...
Por pouco!

Subir em árvore!
Subir na goiabeira
à cata das goiabas “de vez”...
Doce vermelho-róseo
encoberto pela casca
verde, cheirosa...
Goiabas inchadas,
deliciosas.
Buscar o prazer.
Ousar.
No meio do caminho
havia uma lagarta...
“e tudo que era doce
acabou-se”!

Bola de gude – não.
Soltar papagaio – não.
Jogo de finca – não.
Chutar bola – não.
Carrinho – não.
Rodar o arco – não.

Andar na enxurrada,
ao final da chuva,
pisar aquele chão
liso de lama,
a água barrenta
descendo forte
ladeira abaixo...
Que delícia!
Mas... escondido!
Havia o perigo
do caco de vidro,
do prego enferrujado,
do corte, da ferida,
da perna perdida.

Sandra Medina Costa

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