terça-feira, 31 de março de 2009

O terceiro único filho


O meu amor sempre foi tão grande,
que precisei dividi-lo,
para não sufocar
meu único filho.
O meu amor brotou em meus sonhos de juventude.
Sonhei com uma criança e ali o amor germinou.
Foi tão grande,
tão intenso,
que pude amá-lo antes,
na doçura de Fausto,
na beleza de Lívia,
que, ainda bebê, dormia todas as tardes
sobre a minha barriga,
que àquela altura,
já abrigava Paulinho.


Sandra Medina Costa

Sonhar você


Vem de novo, me acalma,
Pois sonhei de novo contigo.
Sonhei acordada, confesso.
E mais uma vez te peço:
Vem de novo, me acalma.
Pois não percebi o perigo
Desse amor que não tem preço.
Por isso imploro, eu mereço:
Vem de novo, me acalma.
Preciso do teu abrigo,
Te quero ao vivo, confesso.
E mais uma vez te peço:
Vem de novo, me acalma!


Sandra Medina Costa

QUANDO OS AMANTES DORMEM


Affonso Romano de Sant'Anna

Quando as pessoas se amam e querem se amar, selam um pacto: dormir juntas. E quando se fala "dormir juntos" o sentido é duplo: significa primeiro amar acordado em plena vigília da carne, mas, depois, na lassidão do pós-gozo, deixar os corpos lado a lado, à deriva, dormindo, talvez.


Na verdade, os amantes, quando são amantes mesmo, mesmo enquanto dormem se amam.

Agora ouça esses versos de Aragon cantados por Ferat: "Durante o tempo que você quiser Nós dormiremos juntos". E penso. É um projeto de vida, dormir juntos, continuamente. A mesma ambigüidade: dormir/amar juntos, dormir/acordar juntos, ou então, dormir/morrer de amor juntos.
Deve ser por causa disto que os franceses chamam o orgasmo de "pequena morte". Deve ser por isto que os amantes julgam poder continuar amando mesmo através da morte, como Inês de Castro e D. Pedro, que foram sepultados um diante do outro, para que no dia do reencontro um seja o primeiro que o outro veja.

Amor: um projeto de vida, um projeto de morte.

Se numa noite dessas o vento da insônia soprar em suas frestas, repare no corpo dormindo despojado ao seu lado. Ver o outro dormir é negócio de muita responsabilidade. Mais que ver as águas de um rio represado gerando uma usina de sonhos, é ver uma semente na noite pedindo um guardião.

Pode ser banal, mas é isto: amar é ser o guardião do sonho alheio.

Os surrealistas diziam: o poeta enquanto dorme trabalha. Pois os amantes, enquanto dormem, se amam. Se amam inconscientemente, quando seus desejos enlaçam raízes e seivas. O pé de um toca o pé do outro, a mão espalmada corre sobre o lençol e toca o corpo alheio e, dormindo, se abraçam animados.

Quando isto ocorre, pode ter vários significados. Talvez um tenha lançado um apelo silencioso ao outro: "Ajude-me a atravessar esse sonho", ou: "Venha, sonhe esse sonho comigo, é bonito demais". E o outro, às vezes, sem se mexer, parte em seu socorro. É que certos sonhos, sobretudo os de quem ama, não cabe num só corpo. Transbordam os poros da noite e pedem cumplicidade. E se há um pesadelo, aí um se agarra ao tronco do outro na crispação do instante, e o corpo do parceiro é bóia na escuridão.

Por isto, no ritual do casamento, quando o sacerdote indaga se os que se amam sabem que terão que se socorrer na saúde e na doença, na opulência e na miséria etc... deveria se inserir um tópico a mais e advertir: amar é ser cúmplice do sonho alheio.

Passar a metade da vida dormindo ao lado do outro. Há pessoas que vivem 25 anos - bodas de prata, 50 anos - bodas de ouro, 75 anos - bodas de diamante - ao lado do outro, e não sabem com que o outro sonha. E há quem passe uma tarde, uma noite ou uma temporada ao lado de um corpo e sabe seus sonhos para sempre.

Engana-se quem escuta o silêncio no quarto dos que amam. Estranhos rumores percorrem o sonho alheio. Não é o rugir do tigre pelas brenhas. Não é o bater das ondas na enseada. Nem os pássaros perfurando a madrugada. São os sonhos dos amantes em plena elaboração. E se numa noite dessas o vento da insônia de novo soprar em suas frestas, olhe pela janela os muitos apartamentos onde pulsam dormindo os amorosos. Quando se compra um apartamento novo, nas alturas, alguns compram lunetas e ficam vasculhando a vida alheia. Mas para ouvir o ruído dos sonhos basta abrir os ouvidos na escuridão. Os sonhos pulsam na madrugada.

Era uma vez um chinês que toda vez que sonhava com sua amada acordava perfumado. Deve ser por isso que, ainda hoje, o quarto dos amantes amanhece com um perfume de almíscar, lavanda e alfazema. E é comum achar troféus dos sonhos ao pé da cama de quem ama. Quando se abre a pálpebra do dia,aí pode-se ver um unicórnio de ouro e uma coros de rubis.

À noite os sonhos dos amantes se cristalizam e de dia se liquefazem em beijos e lágrimas. Quem ama diz boa-noite como quem abre/fecha a porta de um jardim. Não apenas como quem viaja, mas como quem vai para a colheita.

Quando se ama, acontece de um habitar o sonho do outro, e fecundá-lo.


No Caminho da Evolução


Senhor
Faze-me perceber
que o trabalho do bem
me aguarda em toda parte.
Não me consintas perder tempo,
através de indagações inúteis.

Lembra-me, por misericórdia,
que estou no caminho da evolução,
com os meus semelhantes,
não para consertá-los
e sim para atender
à minha própria melhoria.

Induze-me a respeitar
os direitos alheios,
a fim de que os meus
sejam preservados.

Dá-me consciência
do lugar que me compete,
para que não esteja a exigir da vida
aquilo que não me pertence.

Não me permitas sonhar
com realizações incompatíveis
com os meus recursos,
entretanto por acréscimo de bondade,
fortalece-me para a execução
das pequeninas tarefas
ao meu alcance.

Apaga-me os melindres pessoais,
de modo que não me transforme
em estorvo diante dos irmãos,
aos quais devo convivência
e cooperação.

Auxilia-me a reconhecer
que cansaço
e dificuldade
não podem
converter-me em pessoa intratável,
mas mostra-me, por piedade,
quanto posso fazer nas boas obras,
usando paciência e coragem,
acima de quaisquer provações
que me atinjam a existência.

Concede-me
forças para irradiar a paz
e o amor que nos ensinaste.

E, sobretudo, Senhor,
perdoa as minhas fragilidades
e sustenta-me a fé
para que eu possa estar
sempre em Ti,
servindo aos outros.

Assim seja.

domingo, 29 de março de 2009

Janela de Domingo


Na janela de domingo
Fico a olhar o presente
Pessoas que passam aos pares
Na rua de baixo
Para a esquerda
Bíblia na mão ou sob o braço
Tempo nublado
Pregar a Palavra de Deus?
Pessoas que passam em grupo
Ou sozinhas
Na rua de baixo
Para a direita
Sombrinha na mão
Tempo nublado
Missa?
No viaduto em frente
Carros que vêm e vão
Pessoas num caminhar solitário
Sacolas na mão
Um andar cansado da vida
Ao longe vislumbro minha infância
Na igrejinha antiga

Na janela de domingo
Fico a olhar o passado
Família que se reunia em casa
Para o almoço que mãe fazia
Galinha com macarronada
Afinal era domingo
A galinha que chegava
“Põe água pra ferver!”
era assustadoramente sangrada
a faca raspava umas penugens do pescoço
a faca deitada batia-lhe o pescoço para esquentar o sangue
a faca e o fio de corte afiado desferia-lhe o corte fatal
e o sangue jorrava num prato branco esmaltado
Depois disso era escaldada
E perdia as penas
(Parei de comer galinha se a visse viva antes...)
Às vezes havia o peixe
Feito com leite de coco e azeite de dendê
E eu ficava por perto
Enquanto mãe ralava o coco
Para depois lhe espremer e tirar o leite
Era uma oportunidade de ouro
Para eu ganhar os toquinhos de coco que sobravam
Quando ela não conseguia mais ralar
E eu rezava para nenhum de meus irmãos
Terem a mesma idéia que eu
O sabor daquele coco era muito bom!
Quando os amigos de pai vinham
Eram domingos barulhentos e alegres
Cantoria
Violão
Pinga
Feijão cozido com
Pele de porco
Pé de porco
Orelha de porco
Meu Deus!
Eu detestava esse feijão!
Limonada para beber
O limoeiro sempre carregado
Ora de limões
Ora de lagartas
Amigos que se encontravam
Para a “hora dançante” com vitrola lá em casa
Namorados que se encontravam
Namoros que começavam
Felicidade que havia
E eu com muito sono

Na janela de domingo
Tento enxergar o futuro
Tempo nublado
Eu escaldada
Toquinhos de coco
Violão guardado
Saudade de mim
Limões ou lagartas?
Limões

Sandra Medina Costa

Here, there and everywhere


I’m absentminded, thoughtless... I can’t to keep
my mind on work.
Everything seems no significance.

I see you here,
there
and everywhere...

I listen to you here,
there
and everywhere...

Lethal love
that makes me look forward to you!
I expect you every minute! It’s no sense”

So, I say to my broken heart:
“Speak in a low voice, please… It’s get better.”

My mind cries.
Loneliness. Shadows. Tears. Dreams.
(The ups and downs of life).

Sandra Medina Costa

A Terceira Idade


Dá um pouco de medo.
Já me sinto nela.
A menopausa chegou mais cedo.
Envelheço.
Sinto a alma enrugada.
Juventude não tem preço.
Pensei que fosse mais fácil
chegar à terceira idade.
Mas o tempo passa
e os anos pesam.
Não há mais
como voltar atrás.

Sandra Medina Costa

Eu procuro amigos


- Eu procuro amigos. O que quer dizer "cativar"?
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa "criar laços"
- Criar laços?
- Exatamente, disse a raposa. Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...
- Começo a compreender, disse o principezinho. Existe uma flor... eu creio que ela me cativou...

Le Petit Prince - Antoine de Saint-Exupery

quinta-feira, 26 de março de 2009

Sonhei com mãe esta noite

Sonhei com mãe esta noite...

Sonho triste, amargurado.
Ela, ainda doente, em recuperação, num quarto.
Uma casa simples. Dois andares.
Paredes de barro batido (pintadas de branco).
O quarto no andar de cima.

Mãe triste.
Mãe fraca.

A casa, só vi por dentro,
dava idéia de pobreza.
Lugar humilde.
Não me lembro de móveis,
nem janelas tampouco.

Quase não conversamos.
Fui mesmo visitá-la.
Acho que a abracei e beijei-a no rosto.
Havia outras pessoas naquele local,
não muitas, mas circulavam por ali.
Era, por si, um lugar triste.
Talvez um lugar de recuperação.
Sei que ela estava se curando
da fase dos 21 anos.

Não compreendi isso.

Sandra Medina Costa


Madrugada

Madrugada lá fora
a chuva cai suavemente
mansa e morna, certamente.
Cá dentro, a cama fria
acolhe o corpo da gente.

Lá fora, no chão de terra
as raízes da grama
(a natureza não erra!)
faz brotar suas folhas
na escuridão da noite chuvosa.

A chuva morna e silenciosa
aos poucos meu sono embala,
com aquele barulho repetidamente manso
qual tic-tac do relógio da sala.

O sono vem.
Oro. O sono é ouro.
Os sonhos me confundem pois chove lá fora
e minha solidão se povoa de imagens, sons...
e mansamente adormeço.
É madrugada lá fora.

Sandra Medina Costa.

Brisas

Não sei porque tantas
"brisas"...
por vezes,
uma pequena tem o dom
de me balançar tanto.
Sinto-me inútil,
pequenininha...
Desespero idiota de que os pingos dos "is"
estejam no lugar certo.
Mas não consigo.

Sandra Medina Costa

quinta-feira, 19 de março de 2009

A terceira dor


Cabeça, dente, parto...
Dente, parto, cabeça...
Parto, cabeça, dente...

- Dente –
Mal cuidados,
má formação,
falta de orientação...
Dor que cessava
depois do dente arrancado
com um “boticão”.
Alegria em meio às lágrimas
e aos goles de um copo
de groselha bem doce e gelada.

- Cabeça –
a primeira dor foi curada,
brincando de casinha:
me deram um copo d’água
e um caroço de feijão!
O tempo passou
e a dor nunca mais foi embora...
Hoje há os comprimidos de verdade
no lugar dos grãos crus de feijão.
Não brinco mais de casinha,
mas as dores se repetem
a cada ansiedade,
a cada menstruação,
a cada raiva ou desgosto,
a cada cansaço,
a cada frustração...
Cabeça: misto de dor e inteligência...
esta também dói.

- Parto –
A dor-alegria,
que deu sentido à minha vida,
outro nome mereceria,
posto que não partida, é chegada:
chegada de tempo novo,
chegada da maturidade.
Milagre da vida concretizado.
Carregado primeiro em meu corpo,
depois em meus braços.
Dor-alegria.
Dor-euforia.
Dor-prazer.
Dor-emoção.
Dor-bênção do Pai Eterno
não é dor,
é só bênção. Mesmo.

Sandra Medina Costa

Amor


O que diferencia o velho do novo?
O amor.
E o passado do presente?
O amor.
Difícil (ou impossível?) amar
aquilo que não se construiu;
pelo menos não com a mesma intensidade.

Sandra Medina Costa

music


MusicPlaylist
Music Playlist at MixPod.com

quarta-feira, 18 de março de 2009

A terceira cidade


Teófilo Otoni,
cidade de origem.
Contagem,
destinos traçados.
Belo Horizonte,
será a última parada?


Sandra Medina Costa

Infinito poder de sedução


Infinito poder de sedução
Existente num só olhar!
Por questão de alguns segundos,
Senti o tempo parar...

Voei quilômetros de sonhos,
Tive você ao meu lado,
Senti seu calor tão perto,
Senti seu beijo molhado.

Difícil expressar em versos
Daquele momento a magia.
Paixão, desejo, calor,
Numa manhã tão fria.

Foi por um instante, apenas,
Mas me senti tão feliz!
Quem disse que o tempo não para
Certamente não sabe o que diz.

Sandra Medina Costa

Bem-me-quer, mal-me-quer...


Mal de amor
Mal de amar
Bem de amar
Bem te amar...
mal te amar...
Bem ou mal, te amar.
(Estou bem mal de amor!)

Sandra Medina Costa

terça-feira, 17 de março de 2009

Monotonia surrealista


As palavras passam,
vêm e vão.
Entre ela,
o ar do ventilador
trocando as sílabas de lugar,
misturando tudo,
formando outras palavras...
Às vezes, palavras novas...
Às vezes, desconexas,,,

E a situação se agrava mais ainda
quando as pessoas,
estrategicamente acomodadas em seus lugares,
formando um quadrado quase perfeito,
resolvem falar ao mesmo tempo!

O ventilador quase vai à loucura!
Gira para um lado,
gira para o outro,
tenta desesperadamente identificar
de onde partiu cada palavra,
para poder lançar o ar e fazer sua arte.

Instala-se o caos. Já não se entende mais nada.



Sandra Medina Costa


A Coragem de Crescer


“Sou um e dois.
Mas sou múltiplo.
Aos poucos, porém, vou entendendo os
meus múltiplos.
Todos somos múltiplos.
Fragmentos e unidades. Entender,
eis a questão.
É em cada um que a flama brota
para iluminar ou incendiar
o mundo.
Como iluminar e não incendiar?”

DINORAH, Maria in A Coragem de Crescer. FTD

A estrada para o sucesso


"...A estrada para o sucesso não é uma reta.
Há uma curva chamada fracasso.
Um trevo chamado confusão.
Quebra-molas chamados amigos.
Faróis de advertência chamados família.
Pneus furados chamados desdém.

Mas se você tiver um estepe chamado determinação,
um seguro chamado fé,
e um motorista chamado consciência,
você chegará a um lugar chamado sucesso. ...."

(autor desconhecido)

segunda-feira, 16 de março de 2009

Interrogantes (ou “de quando Eladio adoeceu”, ou “O fato, a fala, o gesto...”


Quantas incógnitas (“interrogantes”) naquele dia!...
O fato, a fala, o gesto...
(Tanta dor! Foi tanto o pranto...)

Muitas perguntas a Deus: assim seria.
O fato? A fala? O gesto?
(Tanta dúvida! Foi tanto o medo...)

As respostas d’Ele vieram a cada dia.
“Escuta no fato! na fala! no gesto!
a voz a indicar o caminho
e segue adiante. Ninguém está sozinho.”

Confiante, segui.

Hoje agradeço a Deus a alegria de vê-lo de volta.
(De ter o fato passado,
a fala Iluminada por Ele,
o gesto carregado de certeza e confiança.).

Sandra Medina Costa

“Deus te fala por tudo
e tudo te fala de Deus!”
(Santo Agostinho)

Um pequeno passo


Um pequeno passo
Em direção ao inconsciente:
Tentativa de caminhar,
Meio sem jeito
Rumo ao futuro.
O que me espera, meu Deus?
(Conduza-me ao caminho certo, meu Pai!)

Sandra Medina Costa

Jesus, meu Salvador


Senhor
Tantas tribulações... tantas!
Peço-te apenas: coloca-te ao meu lado, conduze a minha vida.
Jesus, meu Salvador!
Caminho – Verdade – Vida.

Caminhando entre espinhos,
Vejo que só Tu és o Caminho.
Símbolo de amor e bondade.
Reconheço que só Tu és a Verdade.
Sofro, choro, cresço na lida,
Acredito que só Tu és a Vida.

Jesus,
· Caminho de paz, força, amor;
· Verdade única que me guia;
· Vida eterna para todos aqueles que o proclamam verdadeiramente como o nosso Salvador.

Sandra Medina Costa

domingo, 15 de março de 2009

Marcela e a caixa de fósforos


Desde pequena, a Marcela,
cópia fiel da tia Célia,
no rostinho e na arte,
mostrou que seu lindo nome,
de origem latina,
significava "proveniente de Marte"!
Verdade!
Inquieta, mil artes ao mesmo tempo,
flagramos a bela um dia,
que nem tamanho de gente ainda tinha,
subindo numa caixa de fósforos!
Para quê?
Para alcançar a chave
e abrir a porta da sala!
Queria brincar lá fora,
no quintal de casa!
Marcela,
seu nome é versatilidade!
Não importa tempo ou idade,
quer mesmo é ser feliz
Marcela –
vida social intensa
é com ela.

Sandra Medina Costa

Filho amado


“Namastê”, filho amado!
(O Deus que habita em mim saúda o Deus que habita em você!)

Quando o soube em meu ventre,
tremias tal qual peixinho
num navegar preciso,
reconhecias o caminho.

Graças e glórias dei ao meu Deus
por habitar duplamente em mim.
Entendi que a missão mais sagrada
era ser mãe, isto sim!

Habitas, agora, mais forte
o meu coração de mãe
e tens Cristo como norte”!

O que mais posso dizer
diante de teu sorriso e nobreza?
Amo o Deus que habita em você!

Sandra Medina Costa

Balancete


Dez meses. (e cinco dias).
Dividindo os numerais,
o resultado é igual a dois.

Nós, dois.

Tentei lutar contra o tempo.
Tentei voltar no tempo.
Bobagem. Nosso tempo não existe...
... inútil tentar.
(...)
Mas, apesar dos pesares
que a vida me impõe
em momentos tão doloridos,
só peço a Deus que permita
que, “mesmo no silêncio ou na distância,
a ternura nos mantenha unidos”.

Sandra Medina Costa

sexta-feira, 13 de março de 2009

A galinha Pora (a história)


(a história para crianças com catapora)

Era uma vez... um menino lindo, que se chamava Paulinho.
Ele estava com catapora – doença que enche o corpinho de carocinhos avermelhados que coçam e ardem muito! – e aquilo o aborrecia demais e por isso ele chorava. Ás vezes ficava triste pensando o que eram aqueles carocinhos, o que era essa tal de catapora?
O menino Paulinho, então, teve uma bela idéia e disse para sua mãe:
- Vou sair e passear para me distrair!
Naquela bela manhã de sol, Paulinho foi andar pela floresta. Ia feliz, admirando as árvores frondosas, quando viu láááá longe uma menininha muito pequenininha. Não, não era uma anã! Ela tinha só uns dez centímetros de altura, acredite!
Paulinho foi se aproximando devagar, com cuidado para não assustá-la. Viu, então, que ela morava numa casinha também muito pequenina, no meio da floresta. Ah, era uma casinha muito linda e colorida, com jardim florido, arvorezinhas em volta, tudo lindo!
Perto da menina, estava uma galinha pequeníssima! Distraída, a menina alimentava a galinha, jogando-lhe uns grãozinhos amarelinhos. Era milho, plantado e colhido ali mesmo no quintalzinho. Só que era muito especial: eram grãozinhos tão pequenos, do tamanho dos carocinhos que Paulinho tinha pelo corpo e, pasmem! Eram da mesma cor!
O menino Paulinho chamou a menina e disse:
- Quem é você?
- Sou Aninha, a dona da galinha!
- O que é isso em suas mãos? O que está fazendo?
- Ora, não vê que estou dando milho para a minha galinha? Ela se chama Pora e é muito gulosinha! Come todo o milho que lhe dou! Veja.
Aninha, a dona da galinha, encheu a mãozinha com os grãozinhos de milho, jogou-os para cima e gritou:
- Cata, Pora! Cata, Pora!
Paulinho entendeu tudo! Correu para casa e contou para sua mãe. Ela ficou tão feliz ao ver o filho feliz, que pegou o violão e cantou uma linda canção.


A música da galinha Pora:
Tu não te lembras
da casinha
pequenina
onde mora
a galinha Pora?

A menina
joga milho,
joga milho
e vai dizendo:
“Cata, Pora!”

A menina
joga milho,
joga milho
e vai dizendo:
“Cata, Pora!”
“Cata, Pora!”
“Cata, Pora!”

Sandra Medina Costa


A galinha Pora - (a música)


Tu não te lembras
da casinha
pequenina
onde mora
a galinha Pora?

A menina
joga milho,
joga milho
e vai dizendo:
“Cata, Pora!”

A menina
joga milho,
joga milho
e vai dizendo:
“Cata, Pora!”
“Cata, Pora!”
“Cata, Pora!”

Sandra Medina Costa

(nova versão da "Casinha Pequenina")

Coração


Coração bate mais forte,
inesperadamente.
(E eu certa de minha
invulnerabilidade.)

Como conhecer a alma humana,
se por vezes me desconheço?
Como crer que a felicidade
realmente não tem preço,
se, por ela, paguei tão caro?

Coração bateu forte,
descompassadamente.
(E eu quase certa de minha
invulnerabilidade!)

Sandra Medina Costa

(imagem da web)

quinta-feira, 12 de março de 2009

Faixas do mar da praia de Apuã


Verde ciano
Verde-escuro
Verde-claro
Verde profano
Águas turvas
De um rio
Que desemboca
No oceano,
Seu deus maior.

- Olha ali! Olha ali!
Quando penso que já acabou
A subida da maré,
Há mais água a subir.

Formam-se duas naturais piscinas
Pela água então misturada:
Uma criada pela natureza
E a outra pelo homem “ajeitada”!



Sandra Medina Costa


Fragmentos de Mim Mesma


Oscilação
Pêndulo
Dialética
Antítese de mim mesma
(...)
Poço de indefinição...
Mistura de sentimentos
Razão versus emoção
Paradoxo de mim mesma

Metáforas, hipérboles, ironias,
sinestesias, elipses, metonímias,
prosopopéias, polissíndetos, silepses,
anacoluto, repetição,
repetição,
repetição.
São todas as figuras de linguagem
ao mesmo tempo resumidas (fragmentadas)
numa só figura: EU.


Sandra Medina Costa

Como num sonho


Como num sonho,
Como num filme,
Vi você.
Me vi, ao longe, perdida
no meio da multidão.

Vi,
revi.

Revivi...
Sofri.

Sandra Medina Costa

quarta-feira, 11 de março de 2009

Esfinge (a Trilogia do Ser)


[LEÃO]
Voltei a pensar em tudo.
Voltei a sonhar de novo.

[ÁGUIA]
E olha que eu tenho tentado
me privar de tudo,
até de sonhar de novo.

[BOI]
Meio que de forma inconsciente,
Passo a somatizar
Aquilo que me incomoda
O corpo, o coração, a mente.

[EU]
É a busca do equilíbrio:
Leão... Águia... Boi...
(e não é que nessa luta toda,
eu acabei por me esquecer
por completo da serpente?!

Sandra Medina Costa

A Voz


A voz veio de longe,
materializando-se aos poucos...
Senti-a mais forte, mais próxima,
como a chamar-me novamente
a sonhar o sonho
(triste convite à loucura!).

O sonho não é bom.
O sonho é ruim.
O sonho desestrutura
(a mim, pobre criatura,
tão carente de viver um sonho
puro, verdadeiro...).

A voz denuncia seu disfarce.
Os espaços entre as palavras,
(quase imperceptíveis)
vejo-os claramente...

A voz à minha volta.
Contorno-a, desvio-me...
Crio coragem. Não olho. Não busco.
A voz se perde ao longe.
(...)
Alívio.
Um vazio enorme cá dentro de mim.

(É preciso aprender a dizer não.)


Sandra Medina Costa

Caso do padrasto e da enteada da infância e de dois filhos abortada


Sensações viscerais
do imo,
do âmago,
do íntimo,
do “estômato”
prosopopeico
de um ser
onomatopeico
que, laico,
lacônico,
emudece
frente a face afoita
de um pária,
falsário e ordinário,
que ousa erguer suas “patas”
para a criança inocente,
até então intacta,
imóvel, imune...
E o pária,
protegido por seus pares,
permanece doente, sem remorso,
amorfo, impune.

Que é de a mãe da criança? Não viu a atrocidade?
Que é de seu coração de mãe? Perdeu a capacidade
de ver o perigo que rondava a criança?
Que é de a criança?
Que é de sua infância?
Que é de sua inocência?
Que é de os fetos que não chegaram a ser afetos?

O futuro? Não sei. Sei lá.
Lá adiante, logo ali, Deus espera.

Sandra Medina Costa

“O encontro com Deus não só coloca o ser humano na presença do Absoluto:
plenifica-o e transforma a sua vida.” (André Ridouard)


Fonte: http://www.folha.uol.com.br/ - 09/03/2009 - 21h26
Delegado pede mais tempo para apurar se mãe de menina violentada em PE foi negligente
RENATA BAPTISTA da Agência Folha, em Recife
O delegado responsável pelo caso da
menina de Alagoinha (134 km de Recife), que ficou pediu à Justiça um prazo maior para concluir o inquérito. A garota de 9 anos foi estuprada pelo padrasto e engravidou de gêmeos. Ela fez um aborto na semana passada. (...)

Imagem: estômato (wikipedia)

terça-feira, 10 de março de 2009

O Mal de Amar


Você veio em hora inexata,
não sei bem precisar quando.
Só sei que nasci de novo.
Quando vi, já o estava amando.


Mas o “Amor vive de engano” –
disse-me, um dia, um poeta.
Doloroso foi descobrir
que essa frase era certa.

“Amar – verbo intransitivo”,
um outro definiria,
com grande sabedoria,
há algum tempo atrás.

E eu, aprendiz da vida,
porém “grande” conhecedora
das regras gramaticais,
relutaria, contestaria:
Intransitivo?! Jamais!
Pois “quem ama, ama alguém”;
e, na voz passiva, “é amado”,
com direito a um agente
e bem preposicionado.
(...)
Hoje, ainda aprendiz da vida,
vejo, com certa amargura,
que o “mal de amar” tão citado
é um bem que não tem cura.

Continuo vivendo de engano.
A intransitividade? é real.
Passei só a ficar duvidando
de qualquer regência verbal.


Sandra Medina Costa


Sonho – Saudade – Solidão


Mil pensamentos... idéias mil aflorando...
mas quando tento escrevê-las
pouco a pouco vão me escapando.
Queria falar dos sonhos,
queria sonhar os seus sonhos,
poder vivê-los, um a um.
Vejo-me, então, tão sozinha...
Saudade – uma pontinha...
Remédio não vejo algum.

Sandra Medina Costa




O Bonde e a Esperança


“Perdi o bonde e a esperança.”
O bonde volta.
A esperança revolta
faz volta
volta e meia
vai e volta e vai...

O sonho perdura
meio aos pedaços,
aos caquinhos que parecem
ter vida própria
querendo se juntar sozinhos...

Perdi o “bonde”.
Não queria perder você.


Sandra Medina Costa

segunda-feira, 9 de março de 2009

Faltou Coragem


Engolir os sapos,
Abortar os sonhos.

Aceitar os fatos,
Desistir dos sonhos.

Dizer cobras e lagartos,
Persistir nos sonhos.

Ouvir cobras e lagartos...
Digerir os sapos...
Assumir os fatos...

... e abrir mão (de vez!) dos sonhos.


Sandra Medina Costa

Anjo


Anjo da guarda,
Anjo do amor,
guarda o meu anjo
de todo temor.

Ele já sabe
o que meu coração sente,
me nega carinho
mas seu olhar mente.

Me toca de leve...
Me olha de leve...
Me ama de leve...
“subterfugiamente”.
Subterfúgia mente
mente subterfugiamente...
Mente de leve.
Sorri levemente.

E o sonho corre solto...
E o sono corre leve...

Sandra Medina Costa

Amor (fragmentos)


“Infinito enquanto dure” por não “ser eterno, posto que é chama”. Depois de apagada a chama, fica a memória da sua luz. Como o crepúsculo. O amor é entidade crepuscular. Seu dia é curto.
(Rubem Alves)

“Ninguém a outro ama senão o que si há nele ou é suposto...”
(Fernando Pessoa)


Reescrevendo o passado
através desses fragmentos,
que, ao mesmo tempo, ressuscitam outras falas,
revivo
(na verdade, acho que quero reviver)
o passado,
e intertextualizo Rilke:
meu “amor”, transformado agora
em “um suspiro utópico que aponta
para o objeto último e inalcançável
do meu desejo” –
você.

Sandra Medina Costa

domingo, 8 de março de 2009

Canção para ninar Paulinho



O meu filhinho
Se chama Paulinho.
O meu filhinho
é o mais lindinho!

Ele está deitado
Na sua caminha.
Ele está com soninho...

O Paulinho
é o meu filhinho.
O meu filhinho
é o mais lindinho!

Ele está deitado
Com seu travesseirinho.
Ele está com soninho...

Meu filhinho
é o mais lindinho!
O meu filhinho
Se chama Paulinho.

Ele está deitado
Com o seu biquinho.
Ele está com soninho...

O Paulinho
é o meu filhinho.
O meu filhinho
é o mais lindinho!

Pode nanar, meu neném!
Mamãe vai te olhar!
Não se esqueça de rezar.



Sandra Medina Costa

O Palhaço, a Borboleta e o Cogumelo...





O palhaço
foi passear.
Ele encontrou
a borboleta.
Ele encontrou
o cogumelo.
O palhaço,
a borboleta
e o cogumelo
Ficaram a brincar...
Brincar, brincar, brincar!
Brincar, brincar, brincar!

Sandra Medina Costa

In sonsa tez


Um beijo sôfrego
O andar trôpego
A mente mente
E ele nem percebe

O rosto pálido
O andar esquálido
O tempo passou
E ele nem percebe

In sonsa tez
In sonsa dor
In sonsa voz
In sonsa vez
In sonso amor
In sonsos nós


Sandra Medina Costa

sábado, 7 de março de 2009

Você não percebeu


Voz.
Olhos.
Sorriso.
Mãos.
Tudo em você me encanta.

Você não percebeu.
Não percebeu quando me detive a olhar suas mãos.
Mãos que me levaram a um outro mundo,
só através do pensamento.

Você não percebeu.
Não percebeu quando “viajei” através de seus olhos.
Só percebi a doçura de sua voz,
não me prendi às palavras que disse;
acho que
bebi-as,
todas,
uma a uma,
gota a gota.

Você não percebeu.
Não percebeu quando voltei a mim,
quando você sorriu,
trazendo-me de volta à realidade.

Há momentos em que eu queria
que você adivinhasse meus pensamentos,
meus sentimentos,
que me olhasse nos olhos,
que lesse tudo neles.

Queria, não. Quero.

Vê se olha pra mim.
Vê se me traz à vida.


Sandra Medina Costa

Sonhar Acordada


Sonhar, sonhar acordada.
Sonhar que você me quer.
Pois só assim posso tê-lo,
E do jeito que eu quiser.

Perdi todo o meu controle,
Até sobre o meu pensamento.
Vejo você em tudo.
Vejo-o a cada momento.

Quem dera eu pudesse agora
Vê-lo, ouvir sua voz.
O resto não existiria,
Somente o amor... e nós.

Sandra Medina Costa

Luz



(Falando com Deus sobre o meu amado)
Senhor, a impressão que me ficou hoje é a de que iluminaste aquele momento em que ficamos um frente ao outro, conversando nem sei mais sobre o quê.
Eu vi. Vi muita luz nos olhos dele, no seu rosto, nas suas palavras. Pareceu como uma oração. Era como se o universo inteiro estivesse em sintonia conosco. Que todas as forças boas do universo conspirassem a nosso favor, fazendo aquele momento completamente mágico, cheio de luz, de amor, de energia positiva. Nada do que dizíamos pareceu-me tão importante quanto o fato de estarmos ali, a sós, o mundo inteiro rodando, a vida acontecendo, mas tudo de bom vibrava à nossa volta.
Então, quebrou-se o encanto. Mas perdurou um pouco ainda aquela sensação de êxtase. Voltamos à realidade. Nada foi dito. Tudo parecia sugerido naquela áurea de amor que parece ter nos envolvido.
Ainda fica uma pontinha de dúvida: será que ele também teve a mesma sensação, será que percebeu a luz divina que nos rodeou, que tornou aquele momento tão especial? Talvez, sim. Pela primeira vez, pediu-me para ficar amanhã, estar com ele.
(Os efeitos vieram depois. Vontade de rir e de chorar ao mesmo tempo. Eu me senti flutuando... Não sei como subi as escadas, dirigi-me à sala, retomei minhas atividades. Tive medo de que alguém percebesse, que lesse em meu rosto, em meus olhos, tudo o que se passara, o que eu estava sentindo...).


Sandra Medina Costa

sexta-feira, 6 de março de 2009

Prece Íntima


Senhor Jesus,
Livra-nos de todo o mal.
Interceda por nós junto a Jeová Deus, nosso Pai Santíssimo.
Liberta-me dos meus medos, aumenta minha fé.
Atue, neste momento, na vida de cada um daqueles que estão clamando por tua ajuda, tua bênção, tua luz.
Louvado seja Deus que nos abençoou com o amor de Cristo. Amém!
Divino Espírito Santo, descei sobre nós. Amém.


Sandra Medina Costa

Sedução


A cada toque
um tremor...
A cada olhar
um calor...
subindo pelo meu rosto.

Você é
“pura sedução um encanto que tanto me agrada
sabe bem dosar o mel”

com que adoça
cada palavra...
cada olhar...
cada toque... “doce virilidade!”

Medo.
Tento disfarçar o efeito que você provoca
em mim,
mas,
“basta um gesto e eu esqueço o resto”.

(Só sei que preciso
controlar meu coração)
(Pois penso em você
o tempo inteiro).


Sandra Medina Costa

Despertar


Se eu pudesse eternizar o tempo.
Faria de cada momento
Uma vida inteira só de nós dois.

Revivia no hoje o passado
Tão distante e tão lembrado,
Sonhava com o depois.

Mas a mente pelo tempo regida
Tenta impedir nesta vida
O meu coração de sonhar.

Ele sofre com o corpo e, acelerado,
Ao ver você ao meu lado,
Suplica, querendo te amar.


Sandra Medina Costa