quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Oração de Natal de um órfão de guerra



Atendendo a pedidos...

Orlando Cavalcanti - MG
Livro Rosa Noturna – Ed. Acaiaca – 1955
Poeta de Formiga – MG, nascido em 1910 e falecido em 1982, em Belo Horizonte. Formou-se em direito pela UFMG em 1932.


Papai Noel, você que não se atrasa
Na visita anual que faz à Terra,
Veja se faz voltar à minha casa
O meu papai que foi brigar na guerra.

Você que pode muito mais que a gente
E que tem uma força sem igual,
Bem que podia dar-me este presente
Na noite milagrosa do Natal.

Eu tenho um coração como uma brasa
Nesta hora triste em que rezar eu venho.
Todos têm o seu papai em casa,
Só eu, Papai Noel, é que não tenho.

Ele partiu numa noite estranha
Que da lembrança nunca mais me sai;
Disse que ia brigar lá na Alemanha
E desde então não vejo mais papai.

Ele escrevia sempre. Mamãe lia
Suas cartas baixinho, devagar...
“Eu voltarei em breve”, ele dizia
Que esta guerra está prestes a acabar.

Depois, passaram meses, muitos dias,
Notícia alguma de papai nos veio
E mamãe, na maior das agonias,
Esperava a passagem do correio.

Nada vinha. O silêncio era completo
E a razão até hoje eu não sei bem.
Mamãe passou a se vestir de preto
E nunca mais sorriu para ninguém.

Até que enfim com a última batalha
- Só de pensar o coração me dói -
O correio nos trouxe uma medalha
Com as cinco letras da palavra “HEROI”.

Por que será, Papai Noel? Me arrasa
Essa coisa que a alma me corrói
Se os tais heróis não voltam para casa
Será que vale a pena ser herói?

Papai Noel, meu santo e bom paizinho,
Me dê o presente e acabe com a revolta,
Eu sei que você vai dar um jeitinho
E me mandar o meu papai de volta.

E dormiu abraçado a um retrato,
Sonhando sonhos de venturas mil,
E encontrou de manhã no seu sapato
Uma enorme bandeira do BRASIL!

[imagem Henfil - na última estrela o cadente sonho]

10 comentários:

João Pedro e suas descobertas disse...

Foi uma emoção enmorme encontrar esta poesia, lembro-me que a declamei quando ainda era criança, tendo um som de clarinete como fundo musical! Que emoção enorme encontrar este texto, que confesso vou copiar e declamar aos meus sobrinho. Muito , mas muito obrigado!

Mão da Vida disse...

Que bom compartilharmos de uma emoção tão boa!

Abigail Souza disse...

Adorei rever esta mensagem. Sei até hoje. Minha Mãe ajudou-me a decorar para declamar na formatura do Pré (com 5 para 6 anos).
Obrigada!!!

Unknown disse...

Minha amiga declamava sempre.E todas as vezes era a mesma emocao.Ou melhor a cada vez..

Unknown disse...

Minha mãe declara ainda hoje aos 93 anos, sem precisar de ler.
Lindo, maravilhoso.

Unknown disse...

No passado da minha infância esta poesia era constante.
Minha mamãe ao ensinar a declamação à minha irmã, sempre nos brindava com a apresentação da mesma.
Nas festas da Vitória lá nas Casas Populares Jk esta poesia era sempre a ser declamada por elas mãe e filha.
Pura emoção na platéia, ávida por grandes lembranças, advindas das conversas dos ex pracinhas moradores dali.
E ao término da declamação o choro era uma confirmação de que os ex combatentes presentes, lembravam seus amigos que não vieram das terras distantes.
As bandeiras verdes, amarelas, azuis e brancas em movimento, aciobadas pelo povo, eram a senha para ouvirmos o Hino Nacional.
Muita emocionante toda esta manifestação espontânea de um Brasil que não existe mais. Lamentavelmente.

Unknown disse...

Eu tb declama! Que maravilha encontrá-la!

Ercilia Bueno Bassani disse...

Nossa eu reclamei essa poesia quando eu tinha sete anos de idade . Hoje estou com 66. Lembrei me de toda ela

Anônimo disse...

Também estou feliz encontrar essa poesia recitei muito
Viva a internet

Anônimo disse...

O mesmo acontecia com migo , minha mãe tinha um disco , e colocava na radiola para nós escutar-mos e Decorar, lindo!!🙏