domingo, 30 de novembro de 2008

1º domingo do Advento



(Mc 13, 33-37)

"Com o início do Advento, entramos hoje numa preparação mais intensa para celebrar o grande acontecimento da fé cristã: o Deus que se fez humano para habitar em nosso meio. No Evangelho deste domingo, salta-nos aos olhos a insistência de Jesus no verbo vigiar. Trata-se de uma espiritualidade: vigilância, preparação, atenção, dizem respeito ao modo de ser de quem recebe com gratidão a visita de Deus na realidade humana e de quem o ouve falando por meio das pessoas e dos fatos. O convite à vigília é um alerta a não deixar passar despercebida a presença de Deus na história, que age sempre na discrição e na simplicidade. O dormir é não ver a graça sempre presente; é a ausência de empenho; é não abraçar a conversão como vocação do humano."

(Fr. João Fernandes Reinert, OFM - Duque de Caxias/RJ)

Fonte: Folhinha do Sagrado Coração de Jesus
Convento da Penha - Vila Velha/ES
Ilustração: site das agustinas misioneras

Eu Paineira Antiga

Na sequidão da paineira antiga,
Num de seus altos galhos,
A solitária flor de pétalas rosas
Sinonimizava-me a lição
Pouco antes captada pelo coração,
Na cozinha lá de casa.
“A felicidade não está fora. Vem de dentro.Não resolve busca-la fora, em outros lugares, senão dentro de si mesma.”

A antiga paineira.
A solitária e bela flor.
A beleza que veio de dentro.

Eu paineira antiga...

Sandra Medina Costa



Se...

(Festa no Interior - 2)

Se você,
ao voltar ao passado,
recordar-se do ritual lá de casa:
A procura de um bom galho seco,
Cobrir de algodão cada galhinho,
Pendurar com cuidado as bolas de vidro e o papai Noel,
e, para finalizar, jogar as estrelinhas brilhantes e coloridas
sobre a árvore enfeitada,
e essa lembrança emocionar você...

Se,
Ao contemplar seus filhos,
netos ou qualquer criança um dia amada,
e isso lhe trouxer a lembrança
da criança adormecida dentro de você,
e isso transportar você para um saudoso tempo de pureza e inocência...

Se você,
Com a bênção do Espírito Santo,
Ainda ora a Deus
Pedindo por cada um de nós
E pela harmonia e equilíbrio em nossa família,
então ainda existe uma esperança
de acreditarmos na importância
do Menino Jesus,
no brilho da estrela cadente,
anunciando sua Luz,
no Papai Noel que sonhamos,
esperamos
e que agora somos.

É hora de preparar
A festa no interior de si mesmo.
Deus aí está,
Esperando a porta se abrir,
Pois Ele é o convidado de honra
para a festa de si mesmo – seu Filho Jesus.

Sandra Medina Costa

Festa no Interior


- É Natal! – me disseram. – É a Festa Maior! Vamos comemorar o nascimento de Jesus!
- Onde? Onde? Também quero ir. Como faço?

(...)

Passam todos. Passa o tempo.
Sou ponte ainda. E o sou na razão de possibilitar ao outro a passagem, a mudança de lugar, de estado, de servir de meio para conduzir o outro a um lugar melhor. (Submissão? A troco de quê? – me pergunto e não encontro resposta.)
Passa o tempo Passam todos. Drummond diria “Todos passarão e eu, passarinho...”.
E só depois de me pensar tanto tempo como ponte, descubro que é preciso eu ir sozinha, pois esta é uma festa no interior, no meu interior.

(...)

Dentro de mim, minha “casa” precisa, primeiro, estar limpinha. Começo, então, a faxina. – “Quão difícil, meu Deus, retirar aquela sujeira toda, que parece impregnada... São mágoas, sentimentos impuros, lágrimas cristalizadas por dores não choradas...”
Aos poucos, vou limpando a casa e posso, enfim, preparar minha árvore de Natal, o presépio para receber o menino Jesus e decidir sobre os presentes.
- Mas Deus já habita em cada um de nós através da ação do Espírito Santo! – voltaram a me dizer.
“Meu Pai! E eu que não cuidei de limpar a casa todos os dias?! E se houver algum escorpião? O menino Jesus corre perigo!” – Volto pra dentro de mim. Olho cada cantinho para me certificar de que já esteja tudo limpinho e em ordem.
Adormeço.
E nos sonhos, os sinais de Deus: o piscar de luzes, o repicar de sinos, Seu Filho que me acena sorrindo, a fome saciada, a alma em êxtase, um cântico de louvor... escuto ao longe alguém a pedir, tento ouvir, mas... acordo.
Uma sensação de paz me invade... a impressão de ter vivido a melhor festa de Natal de minha vida.

Sandra Medina Costa


“Eis que estou contigo e te guardarei por onde quer que fores.” (Sl )

I'll be back

(para Keylla)


Descobri que todo tempo
é infinito enquanto dura...
E do que é feito nosso tempo?
Amor, amizade, ternura...
Não abro mão de estar aqui de novo,
ó, desconfiada criatura!
Vou me cuidar direitinho,
tomar café com rapadura e,
com Deus adiante, eu volto,
pois sei que sempre há colheita
depois da semeadura.

Sandra Medina Costa

A pequena vila

(Escrito por Evelyn Medina)

Era uma vez há muito tempo, quando o tempo ainda nem era tempo, uma pequena vila, onde moravam seis pessoas e um gato. Na primeira casa, sombria e escura, morava o Senhor Ranzinza, sempre resmungando, com a sua doce filha, Meiguice, que não fazia outra coisa senão contemplar seu querido pai, enfeitiçado por uma bruxa má que tempos atrás havia passado ali pela vila. A menina sempre pedia a Deus um milagre, para assim ter seu pai alegre e feliz como antigamente.
Na casa vizinha morava Dona Soberba. Guardava num grande cofre de madeira escura todo o seu tesouro. Jóias preciosas, adornadas com pérolas, rubis e brilhantes, e muitas moedas de ouro. Seus vestidos de seda enfeitados ricamente faziam-na bela e exuberante. Sua casa resplandecia, pois até suas cortinas, balançadas pelo vento, eram cheias de purpurina e lantejoulas.
A próxima casa era habitada por Dolorosa. Sempre ao cair da tarde, toda a vila, ouvia os seu lamentos. Como era infeliz. Nada mais tinha senão a sua dor. Até o gato, que circundava por todas as casas da vila, procurava passar longe daquela casa. Se porventura se descuidava e chegava mais perto acabava ficando triste e macambúzio. Teria a velha bruxa, visitado também aquela casa?
Numa casa de um verde resplandecente morava Esperança. Lembrava as campinas onde floresciam as mais variadas flores, onde os trigais amadureciam, onde os rebanhos pastavam calmamente. Seu jardim, apesar de pequeno, era lindo e variado. O gato gostava muito de ir à casa de Esperança. Ficava horas sem fim perseguindo as borboletas coloridas que vinham brincar com as flores. Aguçava os seus ouvidos enquanto Esperança cantava. Miava alegremente tentando imitá-la.
Na última casa da vila morava um velho sábio. Chegara ali antes de todos os outros. A virtude e a sabedoria eram suas únicas riquezas. Sentava sempre à porta de sua casa contemplando o pôr-do-sol, os pássaros, as florezinhas que enfeitavam a pequena vila. Tinha sempre ao seu lado o amigo gato, companheiro de tantos anos. Quando o gato miava alegremente ele sabia, com certeza, que ele estivera com Esperança ou com a pequena Meiguice. Mas, volta e meia o gato estava estranho, agitado, miando fortemente. O velho o pegava ao colo e o acalmava dizendo: - O que aconteceu? Venha, contemple a natureza e logo se acalmará. Vez por outra Meiguice se sentava ao pé do velho, contando, como em segredo, pedia sempre a Deus um milagre. O velho dizia: - você verá; quando menos esperar vai acontecer. E assim viviam, cada um seguindo a sua vida.
Numa tarde, como todas as outras, o velho sábio, sentado à porta de sua casa, suspirou: - Que silencio, sinto que alguma coisa está para acontecer.
E foi mesmo assim. Naquela madrugada, quando todos ainda dormiam, uma grande tromba dágua desabou sobre a pequena vila. A água veio forte, torrencial como as águas do dilúvio. Foi entrando nas casas sem pedir licença, foi varrendo, foi lavando, foi levando tudo. Quem mais tinha, mais perdia. Foi uma grande confusão. Mal dava pra se salvar a própria pele. O Senhor Ranzinza pegou no colo a pequenina Meiguice, beijando-a seguidamente, tentando acalmar a filha amada, o mais precioso e único bem que lhe restara. Dona Soberba saiu chorando porta afora, pois, inutilmente procurara encontrar, em meio à enxurrada, o seu precioso cofre. Seus lindos vestidos, sapatos, enfeites, tudo a chuva levara.
Dolorosa, no afã de salvar a própria vida, em nada mais pensou. Deixou que a água levasse também a dor de sua alma. Esperança parou um pouco de cantar, pois era enorme o barulho da chuva. Saíram todos de casa, encontrando o velho sábio,, que os esperava, com um grande guarda chuva. Morador antigo daquele lugar, ele sabia, que de tempos em tempos essa chuva caia para transformação das pessoas.
Dona Soberba chorava desconsoladamente. Dolorosa foi em sua direção, abraçou-a , procurando consola-la. Esperança cantou uma canção. – O sol voltará a brilhar, com certeza, vocês verão. Tudo vai mudar, vai melhorar. O velho sábio convidou-os para irem até sua casa, onde um chá quentinho, com biscoitos e pão de mel os esperava. Entraram, sentaram-se todos à roda do fogão e esquecidos da dor, ouviram o plano de Esperança. –Juntos, reconstruiremos a nossa vila. Dolorosa atalhou: - vamos ver o que nos sobrou e nos ajudarmos mutuamente. O senhor Ranzinza falou: - velho sábio, como vamos fazer? E ele lhes ensinava a maneira segura de reconstruírem suas casas. Enfim, estamos vivos e é isso que importa. Pegou Meiguice no colo e ela sorriu satisfeita. Dolorosa, abraçada agora com Esperança, planejava um futuro melhor. Perguntaram então ao velho sábio:- Meu bom amigo, podemos passar aqui esta noite, até cessar a tormenta? – Com muito prazer, ele respondeu..
Logo de manhã, um lindo sol brilhava no céu. Meiguice gritou:- corram, venham ver o arco-íris.Vieram todos pra ver.
Era um novo dia, um novo tempo para todos. Estavam felizes, apesar de nada terem, pois tinham um ao outro. Eram solidários e isso lhes bastava. O gato corria de cá para lá brincando com Meiguice, olhando encantado para as pessoas. Como estavam diferentes. O velho sábio entendeu o olhar do gato e pensou: - precisou vir uma tempestade para que aprendessem o segredo da vida... pois viver é uma arte.

Evelyn Medina



Isaias 40, 9-13

"Subi a uma alta montanha, para anunciar a boa nova a Sião. Elevai com força a voz, para anunciar a boa nova a Jerusalém. Elevai a voz sem receio, dizei às cidades de Judá: Eis vosso Deus! Eis o Senhor Deus que vem com poder, estendendo os braços soberanamente. Eis com ele o preço de sua vitória; faz-se preceder pelos frutos de sua conquista; como um pastor, vai apascentar seu rebanho, reunir os animais dispersos, carregar os cordeiros nas dobras de seu manto, conduzir lentamente as ovelhas que amamentam. Quem, pois, mediu o mar no côncavo da mão, quem com seus dedos abertos mediu os céus? Quem com o alqueire mediu a matéria terrestre, pesou as montanhas no gancho, e as colinas na balança? Quem determinou o espírito do Senhor, e que conselheiro lhe deu lições?"

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Mãe é Paz



“É tudo uma questão de consentimento”.
Foi com essa frase que Rejane, uma jovem estudante de psicologia, encerrou a nossa entrevista, no momento em que eu, particularmente interessada em produzir este texto, perguntei-lhe se ela acreditava na Paz entre os homens.
“Acredito na paz entre os homens. É possível, sim. É tudo uma questão de consentimento, no sentido de se entender e entender o outro” – enfatizou Rejane, ao contrário da opinião de sua amiga Andréia – secretária escolar e carinhosa mãe de família, também entrevistada naquela manhã. Para a amiga, era impossível haver paz entre os homens, pois o que se via pelo mundo era guerra, injustiças, fome, miséria...

Fiquei matutando a palavra “consentimento”... Consulto o dicionário.
Consentir v.t. Permitir; anuir; concordar.
Consentir = com-sentir ou sentir com o outro. Permitir-se a paz.
Concordar. Lat. cor (d). Coração. Dar, doar com o coração.

Sim. É uma questão que obrigatoriamente passa pelo coração, pelo desejo. A paz que queremos, a paz que almejamos, está, antes de tudo, em nós mesmos.
E, antes disso, eu insistia para que elas me estabelecessem uma relação (quem sabe, de causa e efeito?) direta com o conceito que faziam de suas mães. Ambas teimaram em dizer que não, não tinha nada a ver uma coisa com a outra.
E, cá dentro de mim, eu pensava que tinha a ver, sim. Talvez pelo momento de agora, maio, mês das mães... Eu, mãe que sou... De repente, pulsava forte a idéia de que paz brota de mãe, da relação fecunda, por vezes inconsciente, que traçamos nesta vida.
E a idéia, cada vez pulsando mais forte, à medida que eu refletia sobre as respostas das amigas. “Paz brota de mãe! Não tem como ser diferente!”. Eu tentava concatenar as respostas, os conceitos que, no começo da entrevista, elas haviam me passado.
Foi surpreendente ver a reação de Rejane ao ter que falar, sem nenhum preparo anterior, sobre questões relativas a sua mãe. A primeira idéia que lhe veio à cabeça foi falar dos aspectos físicos, de maneira comum, usual. Aos poucos, num tom carregado de poesia e emoção, disse. “Ela me teve... Agora sou do mundo. Sou propriedade dela; ainda que pretenda deixar de ser, isso só acontecerá financeiramente. Sinto que somos propriedade uma da outra. Não sei explicar por quê. O que sei é que não pretendo deixar de ser propriedade dela no outro sentido”. Deduzo que ela se referia ao aspecto emocional, psicológico. Vi, nos espaços invisíveis de suas palavras, uma relação de amor e paz muito profunda e não dita entre elas.
Andréia, por sua vez, optou por abordar a questão pelo aspecto religioso. “Vejo minha mãe como um ser abençoado, não no sentido de santidade, mas um ser abençoado por Deus”. E, orgulhosamente, falou da presença da mãe, as características de vida dela que, positivamente, marcaram-na. “Ela sempre me mostrou a realidade que o mundo não é só de sonhos...”. Com orgulho e satisfação, defendeu a idéia de que mãe é o amparo, o alimento, pois “quando a gente nasce, é um ser indefeso; existe uma relação de dependência que só acaba com a morte. A mãe cuida, alimenta, dá carinho, sem pedir nada em troca”. De maneira suave e emocionante, associou a figura da mãe a um porto a que recorremos para tudo, sempre.
Reflito sobre os depoimentos que tive a bênção de ouvir. Emociono-me. Pessoas distintas, mães diferentes, vidas coroadas pela presença de um ser que é reflexo do puro amor de Deus.
Penso em minha mãe. Penso na paz.

Sandra Medina Costa

Janelas





Tenho janelas
de todas as cores,
de vários tamanhos,
de muitos amores.

Tenho janelas
nos olhos da alma,
no meu pensamento,
que nunca se acalma.

Tenho janelas
abertas, fechadas,
compridas e curtas,
de cortinas rendadas.

As minhas janelas
me mostram o infinito
de uma vida plena
que se cala no grito.

Tenho janelas
que são de madeira,
que incham e emperram
se a chuva é certeira.

Belas janelas
me enfeitam a noite,
emolduram-me nelas,
estou agora num quadro:
sou linda donzela
a olhar o céu
cheio de estrelas.

(...)

Lá fora
alguém bate na porta.
TOC! TOC! TOC! TOC! TOC!
Coincidência?
Não há acaso.
Por acaso ouviste
quem bateu a porta?

(...)

Portas não são tão belas
quanto as janelas.
Portas foram feitas
pra gente entrar e sair por elas.

Janelas, não!
Janelas tem a magia
dos sonhos que adentram
na alma.
Seja noite,
seja dia...
alvorecer,
entardecer,
(nem se fala!)

Janelas conduzem ao céu.


Sandra Medina Costa


Gata Amarela


(Resposta à pergunta da Rejane
"Qual o tamanho da sua janela?")

Quando eu era criança pequena,
lá na minha "Teoflotoni" querida,
conheci uma historinha
que me deixava fula da vida.

Falavam de uma gata amarela
que subia na janela
e que quem conversasse primeiro
comeria o cocô dela!

E eu viajava naquela história...
Imaginava a janela...
E você vira pra mim todo dia
e pergunta o tamanho dela???

Ora, bolas, que me importa?!
Se até hoje me pergunto
de quem era gata? Era, de todo, amarela?
E a janela, era da casa de quem?

E quem foi que ensinou à gata
a usar indevidamente
a janela da casa de alguém,
calando a criança inocente?

Sandra Medina Costa


Misericórdia

Misericórdia, Senhor,
de nossas crianças.
Misericórdia, Senhor,
de nós as crianças.

Misericórdia, Senhor,
de nossas crianças
maltratadas,
molestadas,
descuidadas,
atacadas por mentes doentias
de noite ou em plena luz do dia,
machucando, arrancando a pureza da infância,
num doloroso gesto de repugnância,
incesto, doença, desafeto, ignorância...

Misericórdia, Senhor,
de nós as crianças
que sofremos sem saber por quê,
de forma tão dura e cruel.
Queremos o que é nosso,
aquilo que nos prometeste,
se nosso é o Reino dos Céus.

Misericórdia, Senhor,
dos homens de mente doentia,
pois, mesmo conscientes
da maldade do gesto realizado,
não respeitam o nosso direito
de criança inocente;
e, sempre dissimulados,
enganando a toda gente,
repetem o ato amaldiçoado.

Misericórdia, Senhor,
dos homens de mente sadia,
pois, mesmo cientes
da maldade existente,
seguem o seu dia-a-dia vazio,
indiferentes.
Deixaram adormecer em si mesmos
a criança que outrora
sustentava o homem
que ali estava agora
crescido, formado, gente grande.
Homens prontos pra “fazer” crianças,
mas inúteis pra proteger sua infância.

Misericórdia, Senhor,
de nossas crianças,
de nós as crianças,
pois nosso é o Reino dos Céus.
Quanto aos homens grandes, Senhor,
retira deles a venda que lhes cobre os olhos,
mesmo que esta seja um fino véu,
porque nosso é o Reino dos Céus.


Sandra Medina Costa

No te quedes, Señor...

No te quedes, Señor,
en la soledad de un templo vacío
y, en esta hora, más que nunca
desciende a los áridos y complicados caminos
donde se debate el presente y el futuro del ser humano.
Baja, Señor, y comparte
la existencia de aquellos que buscan,
en la vida y con su vida,
una razón para nunca perderte.
No te quedes, Señor,
en el silencio que algunos pretenden imponerte:
¡Habla! ¡Bendice! ¡Camina junto a nosotros!
Nunca, como hoy, el mundo vacío
necesita llenarse de algo.
No permitas, Señor, que tu Cuerpo se haga invisible
después de haberte multiplicado
en la gran mesa de tus invitados.
No permitas, Señor, que tu Sangre
quede paralizada por la vergüenza
y la falta de valentía, de aquellos
que decimos creer y seguirte.
No permitas, Señor,
que tu Palabra quede enmudecida
por otras que son falsas y que no conducen a nada.
¡Quédate, Señor, con nosotros!
Sin tu Eucaristía, el corazón se enfría
Sin tu Palabra, el pensamiento
se racionaliza y endurece
Sin tu presencia, se hace menos fraterno
y más egoísta el caminar de cada jornada
¡Quédate, Señor, con nosotros!
Penétranos con un nuevo afán evangelizador
Llénanos de vitalidad evangélica
¡Quédate, Señor, con nosotros!
Haz que, cada plaza y cada calle,
por donde Tú hoy caminas
sean una llamada a no dormir
el mensaje de salvación que nos traes.
Hoy, prometemos ante tu custodia, Rey de reyes:
ser tu cuerpo allá donde alguien necesite tu mano
ser tu Palabra, allá donde brote el desaliento
ser tu rostro, donde exista el absurdo y el sin sentido
Hoy, ante tu altar, Señor,
déjanos prometer aquello que nos falta
para ser auténticos miembros de tu pueblo.
Haz, Señor, que nuestros corazones
queden, ante la grandeza de tu presencia,
tocados por tu gracia, iluminados por tu luz,
fortalecidos por tu pan, ilusionados con tu Palabra,
y dispuestos a abrirse ante aquellos hermanos
y situaciones que nos reclaman.
Haz que nunca olvidemos, que también nosotros
estamos llamados a ser tu cuerpo
y también tu sangre,
en esta realidad que nos toca vivir.
Quédate con nosotros, Señor.

Amén.

(www.agustinasmisioneras.net)

Cristo Amigo


"Cristo Amigo,

Tu és minha vida.

És a força

e a razão do meu ser.

Já me anima

a doce esperança

de um dia em tua glória

viver."

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

A Carne

A carne mais barata do mercado é a carne negra

Que vai de graça pro presídio
E para debaixo de plástico
Que vai de graça pro subemprego
E pros hospitais psiquiátricos

A carne mais barata do mercado é a carne negra

Que fez e faz história
egurando esse país no braço
O cabra aqui não se sente revoltado
Porque o revólver já está engatilhado
E o vingador é lento
Mas muito bem intencionado
E esse paísVai deixando todo mundo preto
E o cabelo esticado
Mas mesmo assim
Ainda guardo o direito
De algum antepassado da cor
Brigar sutilmente por respeito
Brigar bravamente por respeito
Brigar por justiça e por respeito
De algum antepassado da cor
Brigar, brigar, brigar

A carne mais barata do mercado é a carne negra

(Seu Jorge, Marcelo Yuca E Wilson Capellette)

Racismo

Ultimamente tenho me perguntado por que um dia destinado à Consciência negra?
Sou negra. Tenho consciência da raça e da cor preta.
Quando pequena, isso não fazia diferença em minha vida. Não entendia, naquela ocasião, a defesa que um tio (negro) tentava incutir na cabeça dos filhos que eles deveriam se casar com mulheres brancas para apurar a raça.
Já na adolescência, a-dor-essência...
Primeiro, o sofrimento em sala de aula, por ouvir de um dos colegas, indiretamente, que rapazes brancos não deveriam namorar moças negras... Superei.
Depois, o saber indireto de que um tio do meu namorado (cor branca) referia-se a mim como "aquela neguinha"... Doía isso. Superei também.
Mais tarde, eu professora, sutilmente ignorando o pensamento de um aluno de cor branca que não gostava de negros, não assistia carnaval pela televisão para "não ter que ver aquelas mulheres pretas pulando, sambando...".
E eu? Tristeza de lado, comecei a trabalhar o tema através de um texto (ou livro, sei lá): "Menino Preto em Casa Branca". Valeu. Valeu a pena.
Pesquisei a história... E voltei a me perguntar:
Valeu, Zumbi?! E o que dizer dos seus escravos particulares? Há gerações e gerações passando e ainda ecoam dentro de mim os “gritos e lamentos do negro que foi para o cativeiro e de lá cantou...”
O meu canto nessas horas também é de dor.
Acho que continuo cativa. Todo negro continua cativo.
Vou além: todos nós, independentemente de cor ou raça, continuamos cativos.
Estamos desde sempre presos ao preconceito velado ou dito, “escrachado” ou nas entrelinhas, que atinge negros, judeus, mulheres, homossexuais, velhos, pobres e tantos mais...
Pobres de nós que precisamos de alguém que nos determine o que precisamos fazer, que nos convença de que não somos inferiores, que nos incuta a necessidade um herói (seja ele um Che Guevara, um René Barrientes, um Luís Inácio ou um Capitão Nascimento)...
Pobres de nós que achamos que precisamos de um rei, ignorando a certeza de que já temos o Rei Maior que nos ama e aceita, independentemente de cor.
"Libertas quae sera tamem..."
Ainda que tardia, a liberdade, a consciência do livre pensar, do livre dizer...


Sandra Medina Costa

(imagem: web)

Preta

Mãe Preta.
Preta – madrinha-mãe.

Sonhei com ela esta noite
Seu colo de mãe-rainha
O primeiro sonho com ela
na primeira noite do ano

Não a vi de verdade
Vi seu filho, moreno faceiro,
Um jovem rapaz a me dizer
Fatos, coisas de outrora,
Explicações e esclarecimentos
Dos quais não me recordo agora.

Mãe Preta
Mãe boa
Mãe carinho e bom humor
Que não me deixava nunca
Os pés, no chão, pôr...

Acordei do sonho saciada
Saudade esvaziada
Pelas palavras que ouvi do filho de Preta.


Sandra Medina Costa

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

A Lira


A lira alva
como a aurora
treme e chora
em doce canção

seu ser estava
vazio embora
esteja agora
pleno então

A lira asperge
seu doce canto
Atrai no entanto
minha atenção

seu som prossegue
Qual suave manto
imerso em pranto
A sua canção.

Samuel Medina

Manhãs de minha janela



Bela manhã
Transcendendo as sensações passadas
Noites anteriores
Noites que suportam dores anunciadas
Dores já tão monótonas, que nem mais doem

Ainda assim, espera
Uma bela amanhã
Pois a noite que invade o quarto
Atravessa a janela, as cortinas
Alcançam a mente
Transforma a tristeza em sono

O sono, ah o sono
Que conquista, alimenta e acalma minh’alma
Sonhos que sonham sozinhos
E remete à paz

É manhã outra vez
A janela me espera
Ávida pelo cheiro do ar
O tempo é curto
Entretanto o olhar se alonga
A procura de desenhos no céu
Pela forma a ser descoberta

Respira-se o ar daquela manhã
Manhã silenciosa
Ainda está silenciosa
Calma e em paz
Aguardando o novo
Ou apenas o tudo de novo

Neide Madeira

Amor através dos tempos


I
Sonho, fita do inconsciente
Paz, felicidade e tristeza
Amor fruto da consciência
Guerra de espírito e destreza

II
Primavera, tudo flores
Festas, alegria e prazer
Tudo quero nos amores
Tez maliciosa no lazer

III
Chão de estrelas e luz
Que brilha no azul celeste
Cores, fantasia se reluz
Como na flor cipreste

IV
Olhos escuros e brilhantes
Lábios vermelhos de vida
Luz de opacos diamantes
Coragem de amar e fibra.

V
Negros cabelos ondulados
Vestes de leve a pegar
São brancos e negros dados
De aliança devo levar

VI
Suspiros lindos e ofegantes
Quando em meus braços estás
A Rosa dos Ventos aos navegantes
Teu corpo comigo ficará

VII
Brisa fina e encantada
No mar de todo calado
Na terra dura e amada
Nos braços és a falada

VIII
Sonho lindo de criança
Criança crescida e erguida
Num sonho és a amada
No outro serás a escolhida

* Poema de Otacir (in memoriam) para Sônia

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Homem-boi


Carro de boi
Carrinho de mão
Carroça cheia de papelão
Estranhamente puxada
Por um homem que volta
Com o esforço do trabalho seu,
Enquanto eu ainda vou para o meu.

O barulho de carro de boi
Traz imagens e lembranças
O carrinho de mão
Que deveria trazer crianças
Está hoje repleto de lixo,
Papelão e esperança.

A carroça segue, pesada,
Puxada com dificuldade,
Ao lado, o cão na calçada
Acompanha o homem-boi
Atravessando a cidade.

Carro de homem-boi
Puxado pela mão de calo duro...
Será só mais um catador? Ou um profeta do futuro?

A imagem que os transeuntes vêem mostra uma estranha simbiose...
Será lixo? Será homem? Essa anti-estética do lixo em meio à cidade grande?
Alguém que passa lança de relance um olhar meio que de nojo àquela sujeira...
(Melhor não ver!)
Algum entendido diria: “É só um profeta a mostrar
Um amanhã desejoso da sustentabilidade do ser.”

Mas os olhos não vêem isso.
Enxergam tudo misturado:
Cachorro
Carroça
Lixo
Homem-boi
E a canção do carro de boi segue longe...
E as lembranças do carrinho de mão na infância já vão longe...


Sandra Medina Costa

Eis o Mistério...

Fazer-se de forte, quando se está fraco.
Mostrar-se com vida, quando se está à morte.
Parecer alegre, quando a vontade é diluir-se em pranto.

Eis o mistério da dor...
Eis o mistério da fé...
Eis o mistério do amor...


Sandra Medina Costa

Doce Amargo





É tarde. A noite traz seu doce amargo.
O doce sabor do prazer é marrom, quase negro.
O amargo tem a cor verde escura.
Um verde escuro, diria, talvez, verde-musgo.
Um verde que lembra lodo (e lodo não me atrai),
pois o musgo remete-me a situações tristes, lembra o chão,
o lodo, e traz rejeição.

O doce e o amargo.

Talvez tenha sido assim minha vida.
Provar os dois. Não há meio termo.
O doce e o amargo
(azedo no meio).

Escrevo agora na penumbra da noite.
Ficou gravada, hoje, na lembrança essa imagem:
Simultaneamente,
o doce e o amargo
(uma xícara de café bem doce,
uma xícara de losna bem forte, geladinha...)

Opções de vida.
Café ou losna?
O doce ou o amargo?
A paz ou a revolta?
Mover-se ou queixar-se?
Ser feliz ou ter razão?

Há dubiedade na alma.
A dubiedade das almas.
A unificação das almas.

Vê. Me escuta!
Sou eu quem em silêncio grita:
Vem estar comigo,
me olha nos olhos,
me ama como da primeira vez.
Me queira com antes!
Sejamos namorados, desde sempre, que demoraram para se encontrar
nesta vida.
Não demora, vem!
É tarde lá fora.
Mas nossas almas, estou certa,
continuam sedentas daquela sintonia que nos tocou um dia.

Sandra Medina Costa

(imagem da web)

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Oração pela Paz na Família






Amabilíssimo Jesus, os profetas Vos anunciaram como Príncipe da paz.

Os anjos igualmente anunciaram paz aos homens por ocasião do Vosso nascimento.

Morrestes na cruz para consolidar a paz entre Deus e os homens. E o fruto mais precioso da Vossa paixão foi aquela paz que transmitistes aos apóstolos no dia da ressurreição. Vós lhes ordenastes que levassem a paz a toda casa onde entrassem.

Dai-nos também aquela paz que o mundo não nos pode dar.

Concedei-nos, a todos nesta família, que guardemos a paz de uma boa consciência, para que a serenidade e o Vosso amor reinem entre nós.

Vossa providência divina colocou-nos em uma família e uniu-nos intimamente pelos laços sagrados do sangue e da graça. Que esta união verdadeiramente exista entre nós aqui na terra e continue no céu.

Dai a mim, especialmente, amor e carinho por todos os familiares. Guardai-nos de toda ira e impaciência, da perigosa desconfiança e maledicência, de discussões e brigas.

Deus da paz e do amor, concedei-nos que passemos em verdadeira paz familiar os dias da nossa vida, a fim de que cheguemos um dia à completa e verdadeira paz em Vossa presença eterna.
Amém.

(ORAÇÃO e doutrina em família. 5. ed. Petrópolis, Vozes, 1982. p. 165)

domingo, 16 de novembro de 2008

O terceiro trovão

[Ontem. 32 anos da morte de pai.
Como há 32 anos, este também é um ano anterior a ano bissexto.
Hoje, ao subir a rua Costa Belém, ouvi os passarinhos, lembrei-me da “andorinha no fio” e o segredo da chuva, a lembrança da chuva forte, o medo dos relâmpagos e trovoadas...]

Meu pai dizia:
- Calma, calma. Não se assuste. São apenas 3 trovões fortes. Escuta: esse é o primeiro! Só faltam dois... Calma. Depois os outros já não são tão fortes assim. Vai passar logo. Calma.

Eu acreditava. Era o MEU pai que dizia. E o medo me fazia aguardar por uma eternidade os dois trovões fortes que faltavam. Porque, a cada sinal de desespero, meu pai dizia:

- Calma. Esse foi fraco. Esse não é o segundo. Só deu um trovão forte até agora. Calma. Lembra: são três apenas. Calma. Faltam dois ainda.

E ali eu ficava num misto de medo, desespero e ansiedade. Que viessem logo os dois trovões fortes para aquilo acabar! Mas a tempestade durava. Lá fora, relâmpagos, raios, chuva torrencial. Lá depois de muito tempo, ele dizia:

- Viu? Este foi o segundo. Ainda falta mais um. Fica calma. Já vai passar.

Eu cresci acreditando nisso. Sempre depois do terceiro trovão, tudo acalma(va).


Sandra Medina Costa
27 de setembro de 2007

Poema para Minha Mãe



Cor da ternura
Cor da bravura
Cor da formosura
Cor de Mãe

Cor de Maria
Cor da alegria
Cor da poesia
Cor de Mãe

Cor da coragem
Coragem da força
Força do amor
Amor de Mãe!

Sandra Medina Costa

Sonhos

Os sonhos dormem lá fora.
Lá fora, a vida os espreita
De longe,
Qual guardião cruel
E atento
A qualquer ínfimo movimento.
É preciso calma
Pra serenar a alma
Ansiosa pelos sonhos
Que fluem lá fora,
Dormem nas nuvens
Que passeiam sob a lua.
É tarde.
A vida flui.
A noite se foi e o sol já vai chegando tímido.
Os sonhos se foram de vez.


Sandra Medina Costa

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Descendência



Eu sou descendente
De uma mulher que, ao mesmo tempo,
Era forte e submissa,
Dona-de-casa e independente,
Que amava os sete filhos a seu modo,
Que trabalhava sem preguiça.

Eu sou descendente
De uma mulher sagrada
Que me achava moralista,
Mas de inteligente me chamava,
E me mostrava que ser Medina
Só isto já me bastava.

Eu sou descendente
De uma mulher comum,
Que, apesar dos três nomes que tinha (Maria, Ana e Rosa),
Somente Rose se ouvia (e atendia).

Eu sou descendente de uma flor!
Da Roseira sou o sétimo botão.
Vejo hoje com amor verdadeiro
Que, se toda Rosa tem espinhos,
Também tem perfume e Maria.
Não foi diferente coma ela.
Era assim minha mãe, Maria.

Sandra Medina Costa

Amizade

Já na tenra infância da vida,
quando tudo é só felicidade,
aprendi os primeiros versos
que definiam a amizade:

“A amizade é uma árvore
que nasce no coração
e só pode ser arrancada
com um golpe de ingratidão”.

E justamente naquela época,
em meu coração uma ferida.
Perdi a primeira árvore
quando me vi preterida.

Nestes tantos anos passados,
plantei árvores tantas...
Quantos foram os golpes sofridos?
Nem sei mais, perdi a conta.

Hoje chorei, sofri, lamentei
mais uma decepção.
A lição veio sem pressa,
doeu, e doeu à beça.

Orei, pedi a Deus:
“Me liberte dessa aflição!”
E Ele me disse que amizade é Cristo,
Somente Ele no coração.

Sandra Medina Costa

“The greatest thing
you ever learn
is just to love
and be loved
in return.”

Sensitiva

Sensitiva
O cheiro de flores
povoa minh’alma,
meus sentidos.

Sensitiva
A luz do outono,
quando chega de mansinho,
me invade os olhos,
renova o ar...
E a alma se acalma.

Sensitiva
O zumbido
no ouvido
me atormenta
os sentidos.

Sensitiva
A agonia vem,
e me aperta o peito
e me invoca a orar.


Sandra Medina Costa

Doze reflexões

Cogito, ergo sum.
(reflexão número um)

Sofro antes, e não depois.
(reflexão número dois)

Meu homem não me amou, foi só cortês.
(reflexão número três)

Cogito e "sofro", é fato.
(reflexão número quatro)

Não canto, não danço, não brinco...
(reflexão número cinco)

Minha vida é feita de "por quês?"
(reflexão número seis)

Não puxo saco, não jogo confete.
(reflexão número sete)

Na juventude, um amor afoito.
(reflexão número oito)

Gosto do cheiro de terra molhada, quando chove.
(reflexão número nove)

Continuo castigando meus pés...
(reflexão número dez)

Por quem dobram os sinos de bronze?
(reflexão número onze)

Não gosto de fazer pose!
(reflexão número doze)

e por aí vai...

Sandra Medina Costa

Recebe, Senhor

Recebe, Senhor, os meus medos
e transforma-os em CONFIANÇA.
Recebe, Senhor, meus sofrimentos
e transforma-os em CRESCIMENTO.
Recebe as minhas crises
e transforma-as em MATURIDADE.
Recebe as minhas lágrimas
e transforma-as em INTIMIDADE.
Recebe a minha raiva
e transforma-a em ORAÇÃO.
Recebe o meu desânimo
e transforma-o em FÉ.
Recebe a minha solidão
e transforma-a em CONTEMPLAÇÃO.
Recebe minhas amarguras
e transforma-as em CALMA INTERIOR.
Recebe minhas esperas
e transforma-as em ESPERANÇA.
Recebe minhas perdas
e transforma-as em RESSURREIÇÃO.

Anjo da Guarda

Ó, espírito soberano,
a quem pertence a guarda de minh'alma,
guiai de tal sorte as minhas ações
que todas se dirijam à salvação
(e se convertam em oração).
Livrai-me de dar escândalo ao meu próximo;
do exemplo dos maus afastai-me;
apartai-me do poder dos tiranos,
da vingança de meus inimigos
e de todos os perigos que podem me acontecer
e dos quais eu não sei me livrar.
Pois só pela vossa ajuda e intercessão
eu serei preservado(a) de todos os males
da alma e do corpo.
Amém.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

O Espelho



Descobri que nunca me verei. Por mais espelhos que existam, por melhor que meus olhos sejam, nunca me verei por mim mesma.
No espelho contemplarei minha face invertida.
Descobri que nunca me verei e isso me assusta!
Percebo, então, a sutileza da sabedoria divina: deu-me olhos, fez-me enxergar, entretanto só posso ver-me, verdadeiramente, através do olhar do outro.
O outro é meu espelho, aquele que me mostra quem sou, como sou, porque sou.
Mesmo “digerindo” com alguma dificuldade essa descoberta, não há como contestar: eu me reflito inteira nesse “espelho”, minhas luzes, minhas trevas.
Vou descobrindo, aos poucos, porque amo o que amo. Amo o que de mim há no outro e que reflete minha luz. Igualmente, rejeito o que há de escuridão ali refletido.
Preciso ter maior clareza disso, para não incorrer no risco de tentar dissipar as trevas no outro, não as reconhecendo quando forem minhas.
Quero a Luz. Sempre.
Quero ser luz.
Quero me ver luz.

Sandra Medina Costa

Talles

(para Talles, filho da amiga da Keylla; logo, também minha amiga)

Talles
Talo verde de flor
Talo verdejante
Tales – “verdejar”
Origem de um nome de homem
que pela vida aqui fora
terá muito amor para dar.

Aquele outro Thales (filósofo lá de Mileto)
buscava na Natureza a verdade da vida.
Dizia ele que a água era a origem de todas as coisas

Tales, tu já sabes
que esta “água” sagrada e calma
que ora envolve teu corpo
alimenta também tua alma.

(Com a mão sobre a barriga da mãe)
“Nós te amamos, aceitamos e acolhemos,
por inteiro, com carinho e emoção,
na alegria de saber que muito antes de nós
Deus já fez tudo isso, e habita teu coração.”

O futuro já certo te espera:
Trabalhador
Honesto
Autoconfiante
Lutador
Etico
Sábio

Tal serás,
Tal és,
Talles.


Sandra Medina Costa


Lembranças 2

“Fere de leve a frase... E esquece... Nada
Convém que se repita...
Só em linguagem amorosa agrada
A mesma coisa cem mil vezes dita.”


(Mario Quintana)

Lembranças 1

POEMINHO DO CONTRA

Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!


(Mário Quintana)

Dor de Perder

Bom dia. Cinzento dia.
Amanheceu frio o dia hoje...
Não deu pra ver o sol,
mas houve a certeza de que ele está lá em cima.
Pois o dia amanheceu.
A tristeza no peito ainda dói,
mas há a certeza de que, assim como o sol,
Deus está lá em cima.
Lembrei-me daqueles
a quem permiti que me fizessem sofrer.
Hoje, a consciência clara do que, um dia,
alguém tentou me ensinar:
“Ninguém pode te fazer infeliz
sem o teu próprio consentimento”.

“Cogito, ergo sum”.
Penso.
Acho que ainda dá tempo
de me refazer,
renovar,
reerguer,
pois Deus cuida de mim.


Sandra Medina Costa.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

O que amo quando amo?



O que amo quando amo?
Se aos quatro ventos proclamo
Que casar é bom
Não reclamo.

Amei seus olhos
Quando eram verdes
Ou cor de folha seca
Amo ver seus olhos negros
Esperando que amadureçam
Em mim a criança escondida,
Desencantada da vida
Que por vezes a faz chorar.

Amo o caminho que traço
Fragmentos de luz
Em pedaços
Que o sol por vezes traduz
Em minhas manhãs tão claras.

O que amo quando amo?

Amo as flores da Av. Olinto Meireles,
Beijo-as em pensamento,
Agradeço pela beleza
Que desfaz o meu tormento.

E o milagre ali acontece
Num mágico revés
A flor se despenca do alto
Voa suave,
sozinha
E vem cair aos meus pés.
Sandra Medina Costa

De Pastéis e Gatos


- Posso trazer um pastel?
- Não! Claro que não.
- Então vou trazer um gato!
- Pare de brincadeira.
- Por favor, eu quero. Deixe-me trazer uma gatinha, filhotinho, ou pelo menos um pastel!
- Não! Deixe de gula!
(...)

Gula, é verdade. Gula e fome.
Mesmo que eu não queira, era esse o nome.
Fome advinda de Natais vazios, porque vazias eram as árvores preparadas por mãozinhas ávidas e inocentes.
Árvores dão frutos. E as nossas não davam. Não havia os presentes, os nossos tão desejados “frutos”. Havia a fome. De pão, de carinho, de brinquedo, do ritual sacro.

Houve Natais de pastéis.
À noite, eu ia pra cozinha com minha mãe (meu pai, àquela altura, provavelmente estaria no quarto dormindo) fazer pastéis.
E era muito bom. Colocar o recheio, dobrar, amassar as beiradas com as pontinhas dos dedos e depois usar a carretilha com cuidado para cortar, formando uma beiradinha meio que bordada.
Aprendizagem. Alimento da alma.

Houve o Natal mágico, o da gatinha Natali.
Era dia de Natal. Era domingo.
Acordamos naquele dia sentindo no ar o cheiro do Natal, sabor de alegria que só a gente quando criança sabe o que é. Uma sensação de vida nova.
Meu pai nos esperava ansioso para nos dar o melhor dos presentes: nossa gatinha dera à luz um lindo filhotinho durante a madrugada, enquanto dormíamos. Era fêmea. Três cores.
- Linda! – exclamara meu pai – Vai se chamar “Natali”, pois nasceu na noite de Natal.
Foi ali que aprendi que as coisas na vida têm o sentido que a gente dá para elas.
Sonhos de uma noite de Natal... Lembranças... E o melhor dos presentes: a vida.
Natali – presente maior, vida nova, alimento da alma.
Deus se fez presente.

Sandra Medina Costa

Porto Seguro


(poema musicado)

O meu amor viajou.
Foi para Porto Seguro.
Talvez não se tenha dado conta
de que é o “meu” porto seguro.
Pois sem ele sinto um imenso vazio
qual mar sem um rio
a desembocar em si
em dó maior
sol com si
lá menor
fá maior
dó maior
Fá maior
sol maior

Dó maior,
dor maior
Sol com si,
sol sem mim
Lá menor,
aqui também.
Sandra Medina Costa

Imita a Formiga

"Imita a formiga. Sê formiga de Deus. Escuta a Palavra de Deus e guarda-a em teu coração. Abastece tua dispensa interior durante os dias felizes do verão e assim poderás encarar os dias difíceis da tentação durante os invernos de tua alma."

(Santo Agostinho)

domingo, 9 de novembro de 2008

Pés e Pais




Na suavidade daqueles pezinhos
tão lindos, limpos, branquinhos,
minhas mãos deslizavam com o creme
após o banho morno e nada sossegado...
E o Paulinho sorria, o sono vinha
e ele dormia, relaxado...
Você viu isso, pai? Era o meu filho, seu neto!

Você viu, pai, que eu estive atenta às condutas que não deviam ser seguidas?
(Perdão, pai, mas é que ouvi escondida,
atrás da porta, lá na cozinha,
a conversa que era só de gente grande
acontecendo na sala –
você falando aos meus irmãos...)

Você ouviu, pai, meus primeiros acordes, na difícil tentativa com o violão?
É que seu dedilhado, sua voz,
a música que você cantava
me enlevava,
me fez tentar ser igual...

Você se orgulhou, pai, quando me formei na faculdade?
Acho que deve ter sido
pelos jornais que você me passava,
pelas dúvidas respondidas
na hora das palavras cruzadas...

Ah, pai, os vícios...
Pus a mão na consciência
e me vi também na dependência
de vícios que você não venceu,
e venci-os por você.

Tem sido assim minha vida,
ver que em cada experiência
há sempre uma lição a ser aprendida.

Sandra Medina Costa
(imagem: web)

Pensamentos-correição

Pensamentos – formigas-correição

Volto à minha infância.

Minha mãe dizia que, se alguém pulasse a fileira de formigas-correição,
Esta se desfazia,
A fila se perdia
E as formigas ficavam sem direção.

E eu pulava.
E o que eu via era mágico: um exercício desgovernado
De formigas-baratas correndo,
De um lado para o outro, sofrendo,
Esbarrando-se,
Buscando o rumo perdido.

E eu perdia a conta do tempo,
Horas a fio a contemplar
O mistério e encantamento daquele momento.

Volto ao presente.

Constato que meus pensamentos são como aquela fileira
De formigas-correição.
Basta que o telefone chame,
Que alguém chegue sem pressa,
Pedindo o que não me interessa,
Pra que eu saia do rumo e
Perca toda a noção
Do que custei pra “enfileirar”,
Pra chegar ao meu destino,
Que agora parece um menino
A divertir-se com a situação.

Sei que agora, como aquelas formigas, meus pensamentos levarão algum tempo para se “enfileirarem” de novo. Enquanto isso, faço poesia.


Sandra Medina Costa

Cheiro de grama...



Manhã de terça-feira, eu tomando café na mesa.
Um barulho vem de longe, serra elétrica, árvores deitadas....
Um cheiro forte me entra pela janela
Me invade as narinas e a alma.
É cheiro de mato verde,
Cheiro de grama verde sendo cortada.

Choveu muito por esses dias.
A grama cresceu muito por esses dias.
Desejosa de se mostrar como as outras plantas
Que ficaram mais viçosas,
Assim como a roseira da esquina, cheinha de rosas,
A grama quis dar o ar de sua graça e ficar também vistosa.

Com toda a força da alma que brota no fundo
Das suas raízes mais profundas,
Lançou ao alto suas folhas fortes e bem verdes.
Um verde-escuro de dar gosto!
Mas não se contentou com isso: fez brotar também suas flores.


Mas, alvoroçadas e intrometidas,
Outras plantas rasteiras,
Invejosas que estavam,
Ao ver a grama altaneira,
Se espalharam por todo o jardim
E ali cresceram
Trevos de toda sorte e tamanho,
Matinhos com flor de pendão,
Plantinhas desconhecidas,
E até dente-de-leão!

Mas os donos do jardim não gostaram disso, não.
Chamaram um homem estranho,
Que logo veio trazendo uma estranha máquina
Que fazia um barulho terrível e ameaçador.
Sem dó nem piedade,
O homem ligou sua máquina de cortar alegria,
E pôs-se a desmanchar todo aquele alvoroço
Que estava no jardim.
E, assim, era uma vez uma grama...

Agora ficou só o cheiro.
Um cheiro forte que me entra pela janela,
Me invade as narinas e a alma.
Cheiro de mato verde,
Grama sendo cortada.
Sandra Medina Costa

Casamento

Por que as pessoas se casam?
Talvez porque já saibam,
No fundo de suas almas,
Que o amor ora presente
Tem sua base solidificada
Numa amizade não dita,
Entretanto de suma importância
Para o futuro que sonham
E preparam juntos.
A gente se casa pra sempre.
E “pra sempre” exige de nós
Amor, carinho, amizade,
Respeito, compreensão, liberdade,
Sinceridade, presença, eternidade.
Por que as pessoas se casam?
Para alcançar a eternidade
Que só é obtida através do amor.


Sandra Medina Costa

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Pedras


Pedras ou Seixos?
Pedras preciosas ou gemas?

Meu cachorro me ensinou,
Com sua pedra de estimação,
Que ela afiava seus dentes,
Além de ser sua distração.
Carregava-a de um lado para o outro,
Até achar a melhor posição.
Deitava-se com a pedra na boca,
Mordia, corria, brincava,
Para o alto a jogava,
E a olhava cair ao chão.

Aprendi com minha mãe Rosa
Que as pedras, se preciosas,
Precisam ser
Talhadas,
Modeladas,
Facetadas,
Lapidadas
Com muito capricho e amor,
Para serem admiradas e
Alcançar seu real valor.

Minha irmã, na infância,
Me ensinou que pedrinhas roliças
Dão prazer e alegria.
Bastava juntar algumas
Pra brincar de Cinco Marias!
Pedrinhas pra cima e pra dentro,
Só diversão e alegria.

Encantam-me e também assustam
As pedrinhas de gelo que caem
Nas chuvas de verão.
É um misto de encanto e medo
Que acelera meu coração.

Pedras no meu caminho, na estrada,
na construção ao lado,
no leito do rio poluído,
ou no feijão mal catado...

Penso...
na pedra colocada na entrada do túmulo de Cristo... (os anjos a removeram),
na pedra produzida pelos meus medos... (os médicos tiraram-na da vesícula),
em Pedro, discípulo de Cristo (igreja construída sem medo).


Sandra Medina Costa

Onde Está o Sol?


— Mãe, mãe! Por que há essas nuvens escuras?
É dia claro e não vejo o sol no céu! –
queixou-se chorosa a menina,
na cabeça um fino véu.

— Filha querida, não percebeu ainda?
O solzinho que você procura,
brinca de esconde-esconde!
Por vezes ele aparece aqui,
ali, não sei mais onde,
e volta logo a se esconder!
Ele quer brincar com você!

A menina sorriu contente
e, olhando pro firmamento,
viu um pedaço azul do espaço.
O sol surgiu radiante,
estendendo-lhe os braços de luz.
aqueceu-a num instante.


Sandra Medina Costa

BENDITO TEMPO


Maria-mole
Marcou minha infância.
Adoçou minha vida
Eu ainda criança.
O coco cobria a massa branca e macia,
Enquanto o gosto da vida me levava
a um mundo de gente grande.

Maria-mole
Deu nome a uma prima Maria
Que eu não conhecia,
Mas que um dia desenhei.
Tão feia ficou
Que a surra foi inevitável!
Maria, minha mãe, tomou as dores da Maria, prima,
e me corrigiu com umas boas chineladas.
(Minha primeira lição de caricatura)

Chorei. Óbvio.
Ainda choro as águas que pela vida afloram
n’alma,
e só se calam
diante de uma maria-mole branquinha,
coberta de coco.

Sandra Medina Costa
(imagem da web)

"Tempo!
Bendito tempo
que as dores sempre acalma,
que aquieta as más lembranças,
que preserva a criança
que levo escondida
em minh'alma.”
(desconheço a autoria)

Ao Sr. Antônio (+ 23/04/2005)

(In memoriam)


Percorreu o caminho das pessoas simples,
das pessoas humildes,
e, por isso mesmo,
se fez grandioso.

Viveu as dificuldades comuns
das pessoas comuns,
e, por isso mesmo,
se tornou vitorioso.

Qual grão que se deita à terra para germinar,
morreu,
não antes de se deixar ser instrumento
de Deus Pai Todo Poderoso.

Honrou a vida
que lhe foi concedida,
e, por isso mesmo,
descansa nos braços do Pai amoroso.


Sandra Medina Costa

Flashes de um Pesadelo


Quero escrever e é difícil.
Preciso. Tenho que escrever.
Conseguir tirar o que de mais profundo há em meu íntimo, encontrar respostas.
Respostas num passado longínquo que não sei como alcançar.

Minhas cicatrizes... Lembro de todas, exceto esta que está abaixo do seio direito (um pouco mais pra direita).
Não me lembro de mais nada.

Fragmentos ou flashes de uma infância com reflexo na adolescência e maturidade.

Na infância, eu bem pequena, um rosto no escuro.
Um corpo pesado, de homem (ou rapaz?), sobre meu corpo de criança.
Uma dor lancinante, aguda, entre as coxas.
Pressa.
Brincar escondido num vão de armazém ou de uma venda, meio escuro.
Eu, pequena!
Eu inocente. Sem saber, sem entender.
Hoje não consigo divisar se são flashes de sonho
Ou imagens entrecortadas de uma realidade acontecida.

(...)

Minha mãe.
Os gritos se confundem em minha cabeça.
Um choro que começa baixo e vai aumentando, entremeados aos gritos e perguntas gritadas a uma mãe já morta.
- Mamãe, mamããããããe! Ô, mamãe. Por quê, mamãe?
- Por quê, mamãe? Por quê, mamãe? Por quê, mamãããããããããe?
O choro e os gritos vão aumentando e nós, os filhos, acuados a um canto, sem entender.

Por vezes, a cena se repete dentro do banheiro, me conta um dos meus irmãos.
Meu pai.
Uma voz que se limitava a dizer “Calma, Rosa. Fica calma.”

Pergunto aos irmãos (todos são mais velhos que eu).
Ninguém sabe de nada, Não sabem o porquê. Só sabem das cenas.
Penso que, inconscientemente saibamos todos, mas a misericórdia divina tratou de apagar de nossa mente.

(...)

Meus sonhos sempre incompletos.
A cada aproximação do amor, a cama,
E surge a figura de minha mãe, a interromper. Acordo.

Mais tarde, nas devidas oportunidades, o medo volta.
E com o medo, a dor lancinante sobrepondo-se à entrada do desejo, recusa ao amor.
Brigas. Falta o entendimento, a clareza. E o companheiro não entende.
E a imaturidade e a falta de persistência e entendimento conduzem ao fracasso da união.

Só após anos mais tarde,
pude sentir-me mulher de verdade.
Meu verdadeiro homem sofre hoje (assim penso)
Com minha frieza e afastamento.
Homem de verdade que já nem sei mais se me quer
Pra companheira ou mulher.


Sandra Medina Costa
(ilustração: web)

LA BIBLIA: EL LIBRO QUE NOS ILUMINA


«¿Acaso no ardía nuestro corazón mientras hablaba con nosotros, en el camino, cuando nos explicaba las Escrituras?».

Hay dos modos de acercarse a la Biblia. El primero es considerarla un libro antiguo, lleno de sabiduría religiosa, de valores morales y también de poesía. Desde este punto de vista es absolutamente el libro más importante. Es también el libro más impreso y más leído de toda la humanidad.

Pero existe otro modo, mucho más comprometido, de aproximarse a la Biblia; es el de creer que contiene la Palabra viva de Dios para nosotros. Que es un libro «inspirado», esto es, escrito, sí, por autores humanos, con todos sus límites, pero con la intervención directa de Dios. Un libro humano y, a la vez, divino, que habla al hombre de todos los tiempos, nos revela el sentido de la vida y de la muerte.

Sobre todo nos revela el amor de Dios. Si todas las Biblias del mundo, decía san Agustín, por algún cataclismo, fueran destruidas y quedara una sola copia, y de ésta ya no fuera legible más que una página, y de tal página sólo una línea, si esta línea es la de la primera Carta de Juan donde está escrito: «Dios es amor», toda la Biblia se habría salvado, porque se resume en esto. Esto explica por qué tantas personas nos aproximemos a la Biblia con sencillez, con fe en que es el Espíritu Santo quien habla en ella, y ahí encontramos respuestas a los problemas, luz, aliento, en una palabra: vida.

http://www.agustinasmisioneras.net/



(Visitem estes sites. São ótimos!)

Para você que reclama de seus defeitos...(que não os são)!

(De Rejane para Sandra Medina)
Até cortar os próprios defeitos
pode ser perigoso.
Nunca se sabe
qual é o defeito
que sustenta
nosso edifício inteiro.

(Clarice Lispector)

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Beijo


Aquele beijo jogado ao vento
Você não viu, eu lamento,
Que ele se perdeu no ar.
Não encontrou seu destino,
Pois o gesto de menino
Soou como quem pede desculpas
Antecipadas por saber
Que aquilo que está pra fazer
Vai ferir, vai magoar.

Seus beijos jogados de longe
Normalmente exercem sobre mim
Um poder de encantamento,
Assim como um piscar de olhos
Me desmonta. Fico assim
Em estado de “apaixonamento”.

Mas ontem foi diferente.
Um não-sei-quê de tristeza
Havia naquele beijo
Que você jogou ao vento.
Esquivei-me indiferente
Vi minha indelicadeza
Diante daquele beijo
Frio, jogado ao relento.
Você não viu, eu lamento,
Que o destino era somente
A porta do coração.


Sandra Medina Costa

Vidas que Vão Embora


Vidas que vão embora
num click-bum de uma arma,
numa estranha manhã de sol
(e eram apenas 7:20 h da manhã!)

Vidas que dizem que vêm,
criam uma onda enlevada
de amor e sonho, porém,
antes de vir à luz, apagam os olhinhos,
desligam o coração que batia rapidinho
e mesmo assim ficam ali
agarrados ao seu ninho.
É como se ainda tivessem vida e força
e lutassem para eternizar a experiência divina
de habitar o colo materno,
pois que certeza teriam da mesma delícia cá fora?


Sandra Medina Costa

Aniversário de Mãe

Ainda vivo a procurar palavras
Que rimem com o nome “mãe”
Não encontro
Só encontro as que rimam
Com seu nome, mãe.

Não sei se te digo “Feliz Aniversário!”
Não sei se nasceste de novo...

Só sei, Maria,
Que de novo eu te amaria
Se pudesse ver-me em teus olhos
Mas foram poucas as vezes
Em que me vi neles

Ainda assim, Maria,
Eu sei que te amaria
Mesmo me sabendo a sétima dos filhos
Que veio à luz Sandra (e não Rômulo)

Na certa eu te amaria
Por ter sido a última dos filhos
A mais moralista
Que ouviu seus valores
Que não se prendeu aos amores
Que lhe trouxeram dores.

Sim, de novo eu te amaria,
Mesmo vendo-a “ausente” ao lado de um pai que igualmente
Teimou por fazer de nós, seus filhos,
Pais e Mães de si mesmos.

Amor abandono.


Sandra Medina Costa

Ando?


Ando. Ando?
O caminho passa sob meus pés
Que se movem rápido
Um frente ao outro
Numa linha imaginária
Num sincronismo quase perfeito.

O caminho passa sob meus pés.

À minha volta,
O ronco dos carros mistura-se aos gritos dos bem-te-vis,
Assustados com a fumaça da queimada
Na mata ao lado.

Vento
Que hoje não me refresca,
Apenas sopra o fogo
Que se alastra
Destruindo a mata,
Sujando o meu caminho de fragmentos de luz...


Sandra Medina Costa

Amigos-irmãos


Era chegada a hora.
Há dias esperara com ansiedade a comemoração do seu aniversário. A mãe, como sempre fizera em todos esses anos, preparava a modesta casa com simplicidade e ternura para receber os amigos-irmãos para, juntos, comemorarem o aniversário de seu maior bem – o filho Jesus.
O menino completava agora 7 anos, e crescia em graça e beleza.
Envolvida nos preparativos, Maria não percebera a inquietude do filho, seu entra-e-sai na cozinha, à procura do delicioso bolo de chocolate que lhe fora assegurado em meio a uma infinidade de promessas de bom comportamento dias antes.
Ali estava. Bem ali, ao lado do filtro de barro. O cheiro inconfundível da felicidade atraiu o menino que, sem pestanejar, lançou mão do bolo e esgueirou-se pela porta dos fundos. Foi direto encontrar-se com um grupo de crianças que o aguardavam ansiosas lá no campinho, onde costumavam brincar sempre.
Eram 4:00 h da tarde e o sol, ainda forte, parecia iluminar com especial esplendor aquele lugar.
Rapidamente, um deles forrou o chão com uma velha toalha e o bolo ali foi colocado.
Uma cena rara, de indescritível fascínio e beleza, ali podia ser vista, mas apenas Jesus e as crianças usufruíram daquele mágico momento. Se Maria ali estivesse, certamente teria se emocionado ao ouvir a singela oração que as crianças faziam, com as mãos erguidas sobre seu filho: “Papai do Céu, toma conta de Jesus. Abençoa-o sempre, pois Ele é a nossa luz!”
...
- Filho! Cadê você?
Ainda saboreando o bolo, pôs-se em retirada, rumo à voz da ternura que o chamava a compartilhar a vida, a alegria, na inocência de criança que tinha uma missão de luz a cumprir no mundo. Já há muito habitava entre nós o Filho de Deus...



Sandra Medina Costa

Acróstico de SANDRA


Se os olhos lacrimejam,
A sensibilidade vive
Na montanha mais acústica da alma...
De versos vou montando meus dias
Rosas de amigos e lágrimas
A mais pura roseira – é o amor.


(by Verônica Marques)

domingo, 2 de novembro de 2008

Ninho

– Já me vou, amiguinha.
– Vai pra onde, andorinha?
– Vou para o meu ninho!
– Ahããã!!! Vai pôr ovinhos!?

– Não. Que pena! Já não tenho,
nessa idade, mais ovinhos
para, cheia de felicidade,
colocar lá no meu ninho...

– Fique aqui,
não tenha pressa,
pois não há mais
o que interessa!

– Engano seu, minha amiga.
Vou agora pro meu ninho
para ficar bem pertinho
de um lindo passarinho!

Pois o inverno que chega
traz um frio bem gelado!
E o vento derruba meu ninho,
se eu não tomar cuidado.


Sandra Medina Costa

Criança gosta de...


Criança gosta de...
Surpresa boa de ver
Surpresa gostosa de provar
Surpresa macia de sentir
Surpresa agradável de ouvir

Conheci, um dia, um menino
Que se escondia no quartinho
Pelo prazer de ouvir ao longe
A voz da mãe que chamava
O seu nome com carinho.

(Já sentiu o gosto bom que tem a voz da mãe da gente?)

Surpresa de pai que chega
Para matar a saudade...
Surpresa do amor que volta
Trazendo felicidade.

(Já provou do cheiro bom que tem o abraço do pai da gente?)

Sorvete de flocos
Carrinho de rolimã
Pipoca quentinha
Brinquedinhos da irmã

Espinho no pé
Pé de laranja
Pipa de folha de caderno
Cabelo com franja

Chocolate quente
Roda-gigante
Bolinha de gude
Escada-rolante

Flores e formigas
Picolé de limão
Brincadeira de roda
Escorregão

(Já viu quanta coisa boa tem a infância da gente?)

Anjo da guarda
Animal de estimação
Vó e Vô
Boneca de pano
Tia que vem de longe
Pai e Mãe

(Já ouviu as declarações de amor eterno escondidas nos olhos que olham a gente?)


Sandra Medina Costa

Amor ou Medo?

Dor dilacerante
Que corrói a alma da gente...
Será amor ou medo, essa dor
Que ainda não querendo a gente sente?!...


Sandra Medina Costa

De Vagar (releitura)


1. O que leva um homem a sair, sábado de manhã, do aconchego de seu lar e dirigir-se a um abrigo de menores carentes, que ali estão por viverem em situação de risco?

O muito possuir
Em meio a tantos necessitados
Tira a paz da consciência
E ele sofre incomodado

Fazer de verdade o bem
Distribuindo amor em seu gesto,
Sabendo que mesmo assim
Na caridade não há excesso.

Criar uma falsa imagem
De retidão e bondade,
Podendo ter grandes proveitos
Junto a sua comunidade.

Fazer papel de bom moço
(como um velho e bom ator)
na “não confessa” esperança
de ver retribuído o favor.

Achar mais fácil saciar
Os carentes dos abrigos,
Do que alimentar a alma
Dos próximos que moram consigo.

Pois essa opção de ajudar
É uma grande maravilha:
“liberta-o” do compromisso
de cuidar da própria família.

Sabendo que ninguém escolhe
Um destino tão cruel,
Ficar “de bem” com Deus
Pra merecer o reino dos céus.

Ficar bem com si mesmo,
Acreditar no que faz,
E fazê-lo de forma anônima
Pra ter o coração em paz.


2. E, contrariamente, o que leva um homem a NÂO sair de casa para e dirigir-se a um abrigo de menores carentes, que ali estão por viverem em situação de risco?

Medo. Há riscos lá fora,
Nas ruas, assaltos, violência.
Em casa não há perigo
E nem dor de consciência.

“A vida é assim mesmo” – ele pensa,
“só se colhe o que plantar”.
A despeito de qualquer coisa, a pessoa
Só passa o que tem de passar.

Não parar pra pensar nisso,
Ignorar o que semeia,
Curtir a vida, em vez de
Se ocupar com a desgraça alheia.

Saber que já há ajudantes
Pra qualquer instituição;
E ele ganha pouco, trabalha muito,
E é indiferente à questão.

Achar que não é responsável,
Pois não criou tal problema,
Não se sente tocado.
Ajudar? Não. Só dá pena.

Preferir assistir à vida
Passando pela TV...
Comodismo? Descompromisso?
Descrença? falta de fé?

“Tirar do bolso ou da sua despensa
Para alimentar filhos alheios?”
Acha que cabe ao governo
Assumir, encontrar os meios.

Evitar estar de frente
A essa realidade crua
Pois sabe que isso representa
Apenas uma fuga da sua.

“Além do mais”, pensa ele,
“quem disse que é sério o bastante
essas tais obras sociais?
E o compromisso, quem garante?”

Reconhecer-se sem condições mínimas
De ajudar naquele momento.
O emocional e o psicológico impedem
De se tornar “alimento”.

Sandra Medina Costa

De Vagar


O homem atravessa o portão.
E, em três ou quatro passos,
alcança a porta de entrada
do Abrigo das Meninas.
Nas mãos, uma sacola
com alimentos, roupas... não sei.
Mas com certeza a sacola
está cheinha de luz, sabores,
sorrisos (pois assim está
o coração do homem que
atravessou o portão).
Ele tem certeza de seu gesto.
É sábado de manhã
e ele já tem alimentado o corpo.
Urge agora alimentar a alma.

(Frente ao portão outro carro pára.
Dele descem umas três pessoas,
também com sacolas mágicas,
e adentram o abrigo.)

Alguns minutos se passam
e o homem está de volta.
Sai pela mesma porta
e, em três ou quatro passos,
alcança o portão de saída.
Missão cumprida.
Voltar à vida (pois, lá dentro,
é sobrevida).
Dirige-se para o carro estacionado
a poucos metros e sai devagar.
Devagar segue o caminho,
o coração mais leve...
Devagar.
De vagar se faz sua vida.
Perambula pelos abrigos,
lugares não escolhidos
por aqueles que ali estão.
Sabe disso com clareza,
carrega na alma a tristeza
de ter sido um deles, um dia,
com amargura e aflição.

(Ouço o pipocar de balões.
Lá de dentro do abrigo
ecoam vozes alegres,
misturadas
a gostosas risadas.
Nas sacolas mágicas
dos três que ali entraram,
havia tempo e alegria

que juntos compartilharam.)


Sandra Medina Costa