quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Racismo

Ultimamente tenho me perguntado por que um dia destinado à Consciência negra?
Sou negra. Tenho consciência da raça e da cor preta.
Quando pequena, isso não fazia diferença em minha vida. Não entendia, naquela ocasião, a defesa que um tio (negro) tentava incutir na cabeça dos filhos que eles deveriam se casar com mulheres brancas para apurar a raça.
Já na adolescência, a-dor-essência...
Primeiro, o sofrimento em sala de aula, por ouvir de um dos colegas, indiretamente, que rapazes brancos não deveriam namorar moças negras... Superei.
Depois, o saber indireto de que um tio do meu namorado (cor branca) referia-se a mim como "aquela neguinha"... Doía isso. Superei também.
Mais tarde, eu professora, sutilmente ignorando o pensamento de um aluno de cor branca que não gostava de negros, não assistia carnaval pela televisão para "não ter que ver aquelas mulheres pretas pulando, sambando...".
E eu? Tristeza de lado, comecei a trabalhar o tema através de um texto (ou livro, sei lá): "Menino Preto em Casa Branca". Valeu. Valeu a pena.
Pesquisei a história... E voltei a me perguntar:
Valeu, Zumbi?! E o que dizer dos seus escravos particulares? Há gerações e gerações passando e ainda ecoam dentro de mim os “gritos e lamentos do negro que foi para o cativeiro e de lá cantou...”
O meu canto nessas horas também é de dor.
Acho que continuo cativa. Todo negro continua cativo.
Vou além: todos nós, independentemente de cor ou raça, continuamos cativos.
Estamos desde sempre presos ao preconceito velado ou dito, “escrachado” ou nas entrelinhas, que atinge negros, judeus, mulheres, homossexuais, velhos, pobres e tantos mais...
Pobres de nós que precisamos de alguém que nos determine o que precisamos fazer, que nos convença de que não somos inferiores, que nos incuta a necessidade um herói (seja ele um Che Guevara, um René Barrientes, um Luís Inácio ou um Capitão Nascimento)...
Pobres de nós que achamos que precisamos de um rei, ignorando a certeza de que já temos o Rei Maior que nos ama e aceita, independentemente de cor.
"Libertas quae sera tamem..."
Ainda que tardia, a liberdade, a consciência do livre pensar, do livre dizer...


Sandra Medina Costa

(imagem: web)

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