segunda-feira, 10 de novembro de 2008

De Pastéis e Gatos


- Posso trazer um pastel?
- Não! Claro que não.
- Então vou trazer um gato!
- Pare de brincadeira.
- Por favor, eu quero. Deixe-me trazer uma gatinha, filhotinho, ou pelo menos um pastel!
- Não! Deixe de gula!
(...)

Gula, é verdade. Gula e fome.
Mesmo que eu não queira, era esse o nome.
Fome advinda de Natais vazios, porque vazias eram as árvores preparadas por mãozinhas ávidas e inocentes.
Árvores dão frutos. E as nossas não davam. Não havia os presentes, os nossos tão desejados “frutos”. Havia a fome. De pão, de carinho, de brinquedo, do ritual sacro.

Houve Natais de pastéis.
À noite, eu ia pra cozinha com minha mãe (meu pai, àquela altura, provavelmente estaria no quarto dormindo) fazer pastéis.
E era muito bom. Colocar o recheio, dobrar, amassar as beiradas com as pontinhas dos dedos e depois usar a carretilha com cuidado para cortar, formando uma beiradinha meio que bordada.
Aprendizagem. Alimento da alma.

Houve o Natal mágico, o da gatinha Natali.
Era dia de Natal. Era domingo.
Acordamos naquele dia sentindo no ar o cheiro do Natal, sabor de alegria que só a gente quando criança sabe o que é. Uma sensação de vida nova.
Meu pai nos esperava ansioso para nos dar o melhor dos presentes: nossa gatinha dera à luz um lindo filhotinho durante a madrugada, enquanto dormíamos. Era fêmea. Três cores.
- Linda! – exclamara meu pai – Vai se chamar “Natali”, pois nasceu na noite de Natal.
Foi ali que aprendi que as coisas na vida têm o sentido que a gente dá para elas.
Sonhos de uma noite de Natal... Lembranças... E o melhor dos presentes: a vida.
Natali – presente maior, vida nova, alimento da alma.
Deus se fez presente.

Sandra Medina Costa

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