segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Mãe é Paz



“É tudo uma questão de consentimento”.
Foi com essa frase que Rejane, uma jovem estudante de psicologia, encerrou a nossa entrevista, no momento em que eu, particularmente interessada em produzir este texto, perguntei-lhe se ela acreditava na Paz entre os homens.
“Acredito na paz entre os homens. É possível, sim. É tudo uma questão de consentimento, no sentido de se entender e entender o outro” – enfatizou Rejane, ao contrário da opinião de sua amiga Andréia – secretária escolar e carinhosa mãe de família, também entrevistada naquela manhã. Para a amiga, era impossível haver paz entre os homens, pois o que se via pelo mundo era guerra, injustiças, fome, miséria...

Fiquei matutando a palavra “consentimento”... Consulto o dicionário.
Consentir v.t. Permitir; anuir; concordar.
Consentir = com-sentir ou sentir com o outro. Permitir-se a paz.
Concordar. Lat. cor (d). Coração. Dar, doar com o coração.

Sim. É uma questão que obrigatoriamente passa pelo coração, pelo desejo. A paz que queremos, a paz que almejamos, está, antes de tudo, em nós mesmos.
E, antes disso, eu insistia para que elas me estabelecessem uma relação (quem sabe, de causa e efeito?) direta com o conceito que faziam de suas mães. Ambas teimaram em dizer que não, não tinha nada a ver uma coisa com a outra.
E, cá dentro de mim, eu pensava que tinha a ver, sim. Talvez pelo momento de agora, maio, mês das mães... Eu, mãe que sou... De repente, pulsava forte a idéia de que paz brota de mãe, da relação fecunda, por vezes inconsciente, que traçamos nesta vida.
E a idéia, cada vez pulsando mais forte, à medida que eu refletia sobre as respostas das amigas. “Paz brota de mãe! Não tem como ser diferente!”. Eu tentava concatenar as respostas, os conceitos que, no começo da entrevista, elas haviam me passado.
Foi surpreendente ver a reação de Rejane ao ter que falar, sem nenhum preparo anterior, sobre questões relativas a sua mãe. A primeira idéia que lhe veio à cabeça foi falar dos aspectos físicos, de maneira comum, usual. Aos poucos, num tom carregado de poesia e emoção, disse. “Ela me teve... Agora sou do mundo. Sou propriedade dela; ainda que pretenda deixar de ser, isso só acontecerá financeiramente. Sinto que somos propriedade uma da outra. Não sei explicar por quê. O que sei é que não pretendo deixar de ser propriedade dela no outro sentido”. Deduzo que ela se referia ao aspecto emocional, psicológico. Vi, nos espaços invisíveis de suas palavras, uma relação de amor e paz muito profunda e não dita entre elas.
Andréia, por sua vez, optou por abordar a questão pelo aspecto religioso. “Vejo minha mãe como um ser abençoado, não no sentido de santidade, mas um ser abençoado por Deus”. E, orgulhosamente, falou da presença da mãe, as características de vida dela que, positivamente, marcaram-na. “Ela sempre me mostrou a realidade que o mundo não é só de sonhos...”. Com orgulho e satisfação, defendeu a idéia de que mãe é o amparo, o alimento, pois “quando a gente nasce, é um ser indefeso; existe uma relação de dependência que só acaba com a morte. A mãe cuida, alimenta, dá carinho, sem pedir nada em troca”. De maneira suave e emocionante, associou a figura da mãe a um porto a que recorremos para tudo, sempre.
Reflito sobre os depoimentos que tive a bênção de ouvir. Emociono-me. Pessoas distintas, mães diferentes, vidas coroadas pela presença de um ser que é reflexo do puro amor de Deus.
Penso em minha mãe. Penso na paz.

Sandra Medina Costa

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