quinta-feira, 24 de julho de 2014

NO FUNDO DO MAR


            ─ Mãe, quero catar conchinhas!
            ─ Não dá, filhinho, a praia tá longe...
            ─ Mas eu quero, mãe! – insistiu o garoto, já se impondo.
            As férias na praia haviam sido ótimas. Os filhos se divertiram tanto, tanto, que desde que retornaram, aquilo que o caçula agora mais pedia era para catar conchinhas.
            Diante da insistência do garoto, a mãe se lembrou do pote grande de conchinhas que trouxera na volta. Queria fazer trabalhos de artesanato, mas a situação agora exigia uma mudança de planos.
            Assim, chamou os garotos e despejou no quintal todo o seu tesouro: centenas de conchinhas das mais variadas formas, cores, tamanhos. Aquilo era bom! Os meninos se distraíam durante horas a fio na brincadeira.
            Passada uma semana, aquela rotina parecia ter aguçado a curiosidade dos pequeninos, especialmente do caçula que, volta e meia, queria porque queria saber tudo sobre conchinhas e enchia a mãe de perguntas.
            ─ Por que elas ficam na areia, mãe? Elas gostam do sol? Tem que passar protetor? Quem colocou elas lá? Cadê a mãe delas, a Dona Concha? E o pai? É o “Seu” Concho?
            ─ Tá bom, meu filho, vou contar a história das conchinhas!
            ─ Ebaaaaa!!!
            ─ Era uma vez... a Dona Concha e Seu Concho. Eles moravam no fundo do mar e tinham muitos filhinhos: milhões e milhões de conchinhas.
            ─ Elas nadavam, mãe? Não se afogavam?
            ─ Não, filho, não! Deixe-me continuar.
            No canto da sala, o pai sorria... Adorava ver a paciência e a imaginação da esposa ao contar histórias para as crianças!
            ─ O Seu Concho tinha uma linda fazenda, onde criava cavalos-marinhos, peixinhos coloridos, tartaruguinhas, caranguejos, estrelinhas-do-mar...
            ─ Os cavalorinhos eram brancos? Tinha cabelo loiro, mãe?
            ─ Cavalo-marinho, filho, marinho! – Que é que  eu falo? – pensou.
            Resolveu continuar a história.
            ─ Meu amorzinho, os cavalos-marinhos são lindos, cada um de uma cor. Deixe a mamãe contar a história agora.
            ─ Tá.
            ─ As conchinhas viviam felizes na fazenda do fundo do mar, brincavam e corriam muito. Certa vez, entrou um grão de areia na boca da conchinha Luzia, a filha mais alegre e sapeca de Dona Concha. E Luzia ficou muda durante semanas. Numa linda manhã, ela abriu a boca e...
            ─ Mãe, tô com fome! – gritou o mais velho cobrando atenção.
            ─ Já vou, filho! Ô, Pai, prepara um lanchinho pa gente! – disse a mãe para o marido.
            ─ E a Luzia, mãe?
            ─ Quando a Luzia abriu a boca, tcharaaammmm! Todos disseram: “Ooohhhh!!!!!” Havia uma linda e reluzente pérola lá dentro! Todo mundo ficou encantado!
            ─ E depois?
            ─ As conchinhas resolveram, então, procurar algum lugar mágico onde houvesse mais areia. Subiram nos cavalos-marinhos e cavalgaram mar afora, numa longa viagem, até chegarem à praia. Foi sensacional! Decidiram morar ali e viveram felizes para sempre!
            ─ E os cavalorinhos?
            (...)


Sandra Medina Costa

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