quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Sobre o costume de comer carne



(Douglas Adams, em “O guia do mochileiro das galáxias - O restaurante no fim do universo”)

[...] Para quem acompanha ou já acompanhou a saga de Arthur Dent, Ford Prefect, Trillian McMillan e Zaphod Beeblebrox em busca do segredo da Vida, do Universo e Tudo Mais, sabe que quando os personagens chegam ao Restaurante no Fim do Universo, algo de muito excêntrico acontece antes de sua refeição:

Um imenso animal leiteiro aproximou-se da mesa de Zaphod Beeblebrox. Era um enorme e gordo quadrúpede do tipo bovino, com grandes olhos protuberantes, chifres pequenos e um sorriso nos lábios que era quase simpático.
– Boa noite – abaixou-se e sentou-se pesadamente sobre suas ancas –, sou o Prato do Dia. Posso sugerir-lhes algumas partes do meu corpo? – Grunhiu um pouco, remexeu seus quartos traseiros buscando uma posição mais confortável e olhou pacificamente para eles.
Seu olhar se deparou com olhares de total perplexidade de Arthur e Trillian, uma certa indiferença de Fort Prefect e a fome desesperada de Zaphod Beeblebrox.
– Alguma parte do ombro, talvez? – sugeriu o animal. – um guisado com molho de vinho branco?
– Ahn, do seu ombro? – disse Arthur, sussurrando horrorizado.
– Naturalmente que é do meu ombro, senhor – mugiu o animal, satisfeito –, só tenho o meu para oferecer.
[...]
– Qual é o problema, terráqueo? – disse Zaphod, que agora observava atentamente o enorme traseiro do animal.
– Eu simplesmente não quero comer um animal que está na minha frente se oferecendo para ser morto – disse Arthur. – É cruel!
– Melhor do que comer um animal que não deseja ser comido – disse Zaphod.
– Não é esta a questão – protestou Arthur. Depois pensou um pouco mais a respeito. – Está bem – disse –, talvez essa seja a questão. Não me importa, não vou pensar nisso agora. Eu só... ahn... (ADAMS, 2010, p. 84-85).
Aqui nós temos uma imagem do trincho da carne verificada anteriormente com Norbert Elias – mas dessa vez, o processo é orientado pelo próprio animal – e temos a repugnância pelo ato de ver o animal ali presente – e ainda vivo! – também apresentado pelo sociólogo alemão.


Nenhum comentário: