(Douglas Adams, em “O guia do mochileiro das galáxias - O
restaurante no fim do universo”)
[...] Para quem acompanha ou já acompanhou a saga
de Arthur Dent, Ford Prefect, Trillian McMillan e Zaphod
Beeblebrox em busca do segredo da Vida, do Universo e Tudo Mais, sabe que
quando os personagens chegam ao Restaurante no Fim do Universo, algo de muito
excêntrico acontece antes de sua refeição:
Um imenso animal leiteiro aproximou-se
da mesa de Zaphod Beeblebrox. Era um enorme e gordo quadrúpede do tipo bovino,
com grandes olhos protuberantes, chifres pequenos e um sorriso nos lábios que
era quase simpático.
– Boa noite – abaixou-se e sentou-se
pesadamente sobre suas ancas –, sou o Prato do Dia. Posso sugerir-lhes algumas
partes do meu corpo? – Grunhiu um pouco, remexeu seus quartos traseiros
buscando uma posição mais confortável e olhou pacificamente para eles.
Seu olhar se deparou com olhares de
total perplexidade de Arthur e Trillian, uma certa indiferença de Fort Prefect
e a fome desesperada de Zaphod Beeblebrox.
– Alguma parte do ombro, talvez? –
sugeriu o animal. – um guisado com molho de vinho branco?
– Ahn, do seu ombro? – disse Arthur,
sussurrando horrorizado.
– Naturalmente que é do meu ombro,
senhor – mugiu o animal, satisfeito –, só tenho o meu para oferecer.
[...]
– Qual é o problema, terráqueo? – disse
Zaphod, que agora observava atentamente o enorme traseiro do animal.
– Eu simplesmente não quero comer um
animal que está na minha frente se oferecendo para ser morto – disse Arthur. –
É cruel!
– Melhor do que comer um animal que não
deseja ser comido – disse Zaphod.
– Não é esta a questão – protestou
Arthur. Depois pensou um pouco mais a respeito. – Está bem – disse –, talvez
essa seja a questão. Não me importa, não vou pensar nisso agora. Eu só...
ahn... (ADAMS, 2010, p. 84-85).
Aqui nós temos uma imagem do trincho da carne
verificada anteriormente com Norbert Elias – mas dessa vez, o processo é
orientado pelo próprio animal – e temos a repugnância pelo ato de ver o animal
ali presente – e ainda vivo! – também apresentado pelo sociólogo alemão.
Fonte: Obvious: http://lounge.obviousmag.org/desmistificador_de_dalias/2015/05/sobre-o-costume-de-comer-carne.html#ixzz6BrokSkWV
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