domingo, 21 de março de 2021

Um ponto, uma vírgula

 








Era uma vez um ponto. Era uma vez uma vírgula. O ponto, firme e conclusivo. A vírgula, entrecortada e cheia de pausas. Um dia, se esbarraram em uma frase. Ela olhou meio incerta. Ele olhou-a nos olhos. A vírgula não sabia como agir, tinha se perdido entre as palavras. O ponto não queria que aquela frase tivesse um final. E assim ficaram. Ela já havia se embaraçado entre verbos, substantivos, artigos e afins. Ele se declarou. Foi direto ao ponto. A vírgula enrolou, demorou a dizer o que tinha que falar. Ele então tomou a iniciativa:

– Eu te amo, vírgula, e não quero colocar um ponto final nessa frase.

A vírgula, envergonhada, disse-lhe:

– Esse tempo todo eu fiquei esperando você.

O ponto, com toda a sua finalidade, declarou:

– Quero você a meu lado. Entre tantas vírgulas, é com você que eu quero dar o meu ponto final.

Ao ouvir essas palavras, a vírgula, cheia de tantas pausas, foi ao ponto:

– Casa comigo?

O ponto, todo emocionado, com a fala pausada lhe diz:

– Sim, aceito.

Depois de algum tempo, a vírgula se juntou ao ponto. Todos compareceram ao casamento. As interjeições, os verbos, as conjunções, os artigos. Era tanta gente que quase não cabia na gramática.

A ortografia não se demorou no casório. Tratou de juntar aquele ponto com a vírgula. A festa foi tamanha. Todos os acentos comemoravam a união. Até o Til da vírgula que achava o ponto “curto e grosso” parabenizou o casal.

Após muitos pretéritos perfeitos, o casal “ponto e vírgula” tiveram seus filhinhos – várias reticências, para a felicidade do papai ponto.

E assim termina a história.

E novas histórias virão.

Pois há várias vírgulas e pontos espalhados neste mundo.

Essa não é mais uma história de amor,

Essa é a história de amor

Entre um ponto,

E uma vírgula.

(Bruna Moreira)

Fonte: https://www20.opovo.com.br


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