terça-feira, 20 de setembro de 2022

NÃO HÁ VAGAS

 


Ferreira Gullar

O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
luz e telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão
 
O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
 
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras
 
- porque o poema, senhores,
está fechado:
"não há vagas"
 
So cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço
O poema senhores,
não fede
nem cheira
 
https://www.oficinadoescritor.net/2012/11/poema-nao-ha-vagas.html

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