domingo, 19 de novembro de 2023

A cor da criatura

 

Imagem Pixabay

No Uber, à noite,
de volta pra casa,
um homem atravessa
na frente do carro...
rápido.
“Fosse um pouco mais escura
a cor da criatura
e seria confundido com o asfalto,
daí não dava pra reparar
e era atropelado”,
resmungou ensimesmado o motorista,
ruminando uma raiva mal contida.
O homem acelerou o passo,
e ele. o carro.
No banco de trás, eu, passageira negra,
sem ação ou reação...
teria ouvido direito? ou não?!
Quanto tempo ainda
o maldito racismo
ora velado.
ora escancarado,
cuspido, escarrado,
grunhido entre dentes,
ou mesmo esboçado nos gestos
dos arremedos de gente?
 
Entrementes,
entretanto,
entrevejo
entreveros
entre mentes
sãs e doentes.
Exagero sincero,
desespero severo
de quem só espera
um mundo mais igual
entre as diversas cores
que compõem esse povo
brasileiro.
 
Sandra Medina Costa
Contagem, 19 de novembro de 2023.

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