“Deus me livre
de não ser mineira.
De não acordar com o cheiro do café passando, a chaleira cantando igual passarinho na janela.
Deus me livre de viver num lugar onde o pão não tenha fermentado devagar, com o tempo da fé.
Aqui em casa, o pão cresce com oração.
O feijão cozinha com reza.
Porque em
Minas, comida não é só sustento: é sacramento.
A gente tempera com mão, mas também com lembrança.
A minha avó
mexia o tacho de goiabada com um avental encardido de tempo.
Dizia que açúcar vira ouro se a gente tiver paciência e mexer sempre no mesmo sentido.
Aprendi a mexer a vida assim: devagar, sem esquecer de nenhum lado da panela.
Tem comida que
é poema.
Arroz com pequi, que nem todo mundo entende, mas quem entende, ama.
Tem comida que é canto.
Frango com quiabo desafia os impacientes.
Tem comida que é beijo.
Broa de fubá com manteiga derretendo: só de lembrar, minha boca se enternece.
E tem coisa que
é só nossa.
Torresmo estalando no sábado,
doce de leite na panela de cobre,
biscoito de polvilho que viaja no porta-luvas do carro pra não deixar a saudade chegar antes da gente.
E o pão de queijo? Ah... o pão de queijo é o abraço que deu certo.
Quando estou
triste, eu faço canjiquinha com costelinha.
Quando estou feliz, é tutu com couve, farofa de banana e laranja no prato porque alegria precisa de cor.
Na dúvida, tropeiro.
Pra amar, angu.
Pra lembrar, chá de erva-doce com bolinho de chuva.
Tem gente que
reza de joelhos,
eu rezo de colher de pau na mão.
Porque aprendi com minha mãe que panela também é altar,
e que cada refeição é um milagre diário:
gente sentada em volta, partilhando o tempo, o gosto, o silêncio.
Deus me livre
de não ser mineira.
De não saber o valor de um fogão a lenha,
de um dedo de prosa na cozinha,
de um frango caipira que levou dias pra ficar bom.
Ser mineira é
saber que comida cura.
Que calda de figo pode consolar.
Que um cafezinho, mesmo amargo,
é capaz de adoçar um reencontro.
Deus me livre
de não saber disso.
De não guardar receita em caderno com letra torta,
de não medir sal com os olhos,
e de não chorar ao lamber a colher do doce que a infância deixou.”
Fernanda
Grey
De não acordar com o cheiro do café passando, a chaleira cantando igual passarinho na janela.
Deus me livre de viver num lugar onde o pão não tenha fermentado devagar, com o tempo da fé.
Aqui em casa, o pão cresce com oração.
O feijão cozinha com reza.
A gente tempera com mão, mas também com lembrança.
Dizia que açúcar vira ouro se a gente tiver paciência e mexer sempre no mesmo sentido.
Aprendi a mexer a vida assim: devagar, sem esquecer de nenhum lado da panela.
Arroz com pequi, que nem todo mundo entende, mas quem entende, ama.
Tem comida que é canto.
Frango com quiabo desafia os impacientes.
Tem comida que é beijo.
Broa de fubá com manteiga derretendo: só de lembrar, minha boca se enternece.
Torresmo estalando no sábado,
doce de leite na panela de cobre,
biscoito de polvilho que viaja no porta-luvas do carro pra não deixar a saudade chegar antes da gente.
E o pão de queijo? Ah... o pão de queijo é o abraço que deu certo.
Quando estou feliz, é tutu com couve, farofa de banana e laranja no prato porque alegria precisa de cor.
Na dúvida, tropeiro.
Pra amar, angu.
Pra lembrar, chá de erva-doce com bolinho de chuva.
eu rezo de colher de pau na mão.
Porque aprendi com minha mãe que panela também é altar,
e que cada refeição é um milagre diário:
gente sentada em volta, partilhando o tempo, o gosto, o silêncio.
De não saber o valor de um fogão a lenha,
de um dedo de prosa na cozinha,
de um frango caipira que levou dias pra ficar bom.
Que calda de figo pode consolar.
Que um cafezinho, mesmo amargo,
é capaz de adoçar um reencontro.
De não guardar receita em caderno com letra torta,
de não medir sal com os olhos,
e de não chorar ao lamber a colher do doce que a infância deixou.”
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