sexta-feira, 10 de julho de 2015

O terceiro trovão


Em setembro,40 anos da morte de pai.
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Há algum tempo, ao subir a Rua Costa Belém, ouvi os passarinhos, lembrei-me da “andorinha no fio” e o segredo da chuva, a lembrança da chuva forte, o medo dos relâmpagos e trovoadas...
Meu pai dizia:
¾ Calma, calma. Não se assuste. São apenas 3 trovões fortes. Escuta: esse é o primeiro! Só faltam dois... Calma. Depois os outros já não são tão fortes assim. Vai passar logo. Calma.
Eu acreditava. Era o MEU pai que dizia. E o medo me fazia aguardar por uma eternidade os dois trovões fortes que faltavam. Porque, a cada sinal de desespero, meu pai dizia:
¾ Calma. Esse foi fraco. Esse não é o segundo. Só deu um trovão forte até agora. Calma. Lembra: são três apenas. Calma. Faltam dois ainda.
E ali eu ficava num misto de medo, desespero e ansiedade. Que viessem logo os dois trovões fortes para aquilo acabar! Mas a tempestade durava. Lá fora, relâmpagos, raios, chuva torrencial. Lá depois de muito tempo, ele dizia:
¾ Viu? Este foi o segundo. Ainda falta mais um. Fica calma. Já vai passar.
Eu cresci acreditando nisso. Sempre depois do terceiro trovão, tudo acalmava.


Sandra Medina Costa

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