quinta-feira, 28 de julho de 2016

Ideias por um fio


     Brendinha é sonhadora. Gosta muito de ouvir as histórias que sua tia lhe conta quando viajam para Vila Velha.
     Numa dessas tardes preguiçosas da vida, Brendinha deitou-se no colo de sua mãe e pediu logo à tia:
     - Conta de novo a história do homem que perdeu o nariz, tia? Conta, vai! Por favor, por favor, por favor!
     - Está bem, minha lindinha. Vou contar. Vou buscar nos livros da memória.
     Nesse momento sua mãe deslizava as mãos suavemente por seus cabelos... Puxava-lhe algumas mechas, às vezes parecia pegar fio por fio... E aquilo era muito bom!
     - Conta logo, tia!

           - Era uma vez um homem
que se chamava Juvenal.
Trabalhava duramente
em um canavial.
Era foice pra lá,
foice pra cá,
corta a cana,
tira a folha da cana,
amontoa a cana...
“Tchap! Tchap! Tchap!”
Já anoitecia e Juvenal não via.
Era foice pra lá,
foice pra cá, até que...
“Tchap!” foi-se o nariz!
- Oh, céus! Cadê beu dariz?
O nariz do Juvenal
caíra no chão do canavial.
E àquela hora
a noite já havia chegado,
como ir embora
assim, desnarizado?
Juvenal, desesperado,
corria pra todo lado.
Foi quando teve uma ideia feliz
para encontrar o seu nariz!

     - Ai, mãe! Você puxou meu cabelo! – queixou-se chorosa a Brendinha – Você arrancou um fio que tinha a ideia do Juvenal! Você tirou meu pensamento!
     Impossível não rir daquela situação. Que menininha! Que imaginação! Sua mãe adulou-a nesse momento e lhe disse:
     - OK, Brendinha. Vou colocar o fio no lugar de novo. Pode continuar a história, tia da Brenda!

          - Continuando... Juvenal desconsolado
pôs-se de orelha em pé!
Enfiou a mão no bolso
e tirou lá de dentro
um vidrinho de rapé!
Enquanto jogava o pó de rapé
espalhando-o pelo chão,
chamava pelo amigo:
“Espirra aí, Seu Narigão!”
“Atchim! Atchein! Atchô!”
Juvenal seu nariz achou.
Ele sorriu contente,
pegou o nariz do chão
e colocou-o na cara,
logo acima do bocão.
Mas não percebeu que, na pressa,
(estava atrasado à beça!)
não foi perfeito o encaixe
e o nariz, coitado,
ficou de cabeça pra baixo!
Para a sorte do Juvenal,
depois que ele chegou em casa
caiu o maior temporal.
E até hoje o coitado
anda por aí de nariz virado...

Brendinha dormira feliz. Na certa sonhando com Juvenal e seu nariz.


Sandra Medina Costa

Nenhum comentário: