domingo, 7 de setembro de 2014

O óbvio e o escuro


É óbvio que tenho medo do escuro.
O óbvio tem a capacidade
de ficar mimeticamente escondido.
Por isso tem que ser dito.
Para ser esclarecido.
O que há nele?
O que me impede de acender a luz?
- O gesto é simples, mãe! Basta isso: apertar o interruptor, para cima ou para baixo.
Simples. Simples assim.
- Mas tem que ser no seu tempo, mãe. Você determina a hora de apertar o interruptor.

Faça-se a luz!
E a Luz foi feita.
E a Luz era o Verbo.
E o Verbo habitou entre nós.

Escuro.
O medo que existe.
É lá no escuro,
não no futuro,
que habita o medo.

O medo é degredo.
Degredo é prisão.
Ausência de luz.
Escuridão.

Busco pela memória
longínquas lembranças
do escuro que me apavora.
Terá sido algum castigo?
Terei corrido perigo?
Gritei. Ninguém me ouviu.

É no escuro que habita o imponderável.
A noite que chega
traz com ela grandes mistérios
e o poder de tornar maior todas as dores,
ainda que também seja cúmplice
de certos e eternos amores.

Na escuridão do meu inconsciente
há medo,
há choro,
há dor,
há desamparo.
Na escuridão do meu inconsciente,
o medo paralisa,
a voz é fraca,
o raciocínio é lento.
Não alcanço o interruptor.

- É simples, mãe. É só fazer isso: levantar-se, mover-se!
Sair da inércia.
Chegar até o interruptor.

Acender ou apagar a luz, tanto faz.
Importa a Luz maior que está dentro de mim, desde sempre.
Essa Luz...
você já sabe,
é Jesus.

Sandra Medina Costa

Nenhum comentário: