domingo, 31 de janeiro de 2010

No fundo do mar



─ Mãe, quero catar conchinhas!
─ Não dá, filhinho, a praia tá longe...
─ Mas eu quero, mãe! – insistiu o garoto, já se impondo.
As férias na praia haviam sido ótimas. Os filhos se divertiram tanto, tanto, que desde que retornaram, aquilo que o caçula agora mais pedia era para catar conchinhas.
Diante da insistência do garoto, a mãe se lembrou do pote grande de conchinhas que trouxera na volta. Queria fazer trabalhos de artesanato, mas a situação agora exigia uma mudança de planos.
Assim, chamou os garotos e despejou no quintal todo o seu tesouro: centenas de conchinhas das mais variadas formas, cores, tamanhos. Aquilo era bom! Os meninos se distraíam durante horas a fio na brincadeira.
Passada uma semana, aquela rotina parecia ter aguçado a curiosidade dos pequeninos, especialmente do caçula que, volta e meia, queria porque queria saber tudo sobre conchinhas e enchia a mãe de perguntas.
─ Por que elas ficam na areia, mãe? Elas gostam do sol? Tem que passar protetor? Quem colocou elas lá? Cadê a mãe delas, a Dona Concha? E o pai? É o “Seu” Concho?
─ Tá bom, meu filho, vou contar a história das conchinhas!
─ Ebaaaaa!!!
─ Era uma vez... a Dona Concha e Seu Concho. Eles moravam no fundo do mar e tinham muitos filhinhos: milhões e milhões de conchinhas.
─ Elas nadavam, mãe? Não se afogavam?
─ Não, filho, não! Deixe-me continuar.
No canto da sala, o pai sorria... Adorava ver a paciência e a imaginação da esposa ao contar histórias para as crianças!
─ O Seu Concho tinha uma linda fazenda, onde criava cavalos-marinhos, peixinhos coloridos, tartaruguinhas, caranguejos, estrelinhas-do-mar...
─ Os cavalorinhos eram brancos? Tinha cabelo loiro, mãe?
─ Cavalo-marinho, filho, marinho! – Que é que eu falo? – pensou.
Resolveu continuar a história.
─ Meu amorzinho, os cavalos-marinhos são lindos, cada um de uma cor. Deixe a mamãe contar a história agora.
─ Tá.
─ As conchinhas viviam felizes na fazenda do fundo do mar, brincavam e corriam muito. Certa vez, entrou um grão de areia na boca da conchinha Luzia, a filha mais alegre e sapeca de Dona Concha. E Luzia ficou muda durante semanas. Numa linda manhã, ela abriu a boca e...
─ Mãe, tô com fome! – gritou o mais velho cobrando atenção.
─ Já vou, filho! Ô, Pai, prepara um lanchinho pa gente! – disse a mãe para o marido.
─ E a Luzia, mãe?
─ Quando a Luzia abriu a boca, tcharaaammmm! Todos disseram: “Ooohhhh!!!!!” Havia uma linda e reluzente pérola lá dentro! Todo mundo ficou encantado!
─ E depois?
─ As conchinhas resolveram, então, procurar algum lugar mágico onde houvesse mais areia. Subiram nos cavalos-marinhos e cavalgaram mar afora, numa longa viagem, até chegarem à praia. Foi sensacional! Decidiram morar ali e viveram felizes para sempre!
─ E os cavalorinhos?
(...)


Sandra Medina Costa

[imagem da web]

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