- Posso
trazer um pastel?
- Não!
Claro que não.
- Então
vou trazer um gato!
- Pare
de brincadeira.
- Por
favor, eu quero. Deixe-me trazer uma gatinha, filhotinho, ou pelo menos um
pastel!
- Não!
Deixe de gula!
(...)
Gula,
é verdade. Gula e fome.
Mesmo
que eu não queira, era esse o nome.
Fome
advinda de Natais vazios, porque vazias eram as árvores preparadas por
mãozinhas ávidas e inocentes.
Árvores
dão frutos. E as nossas não davam. Não havia os presentes, os nossos tão desejados
“frutos”. Havia a fome. De pão, de carinho, de brinquedo, do ritual sacro.
Houve
Natais de pastéis.
À
noite, eu ia pra cozinha com minha mãe (meu pai, àquela altura, provavelmente
estaria no quarto dormindo) fazer pastéis.
E
era muito bom. Colocar o recheio, dobrar, amassar as beiradas com as pontinhas
dos dedos e depois usar a carretilha com cuidado para cortar, formando uma
beiradinha meio que bordada.
Aprendizagem.
Alimento da alma.
Houve
o Natal mágico, o da gatinha Natali.
Era
dia de Natal. Era domingo.
Acordamos
naquele dia sentindo no ar o cheiro do Natal, sabor de alegria que só a gente
quando criança sabe o que é. Uma sensação de vida nova.
Meu
pai nos esperava ansioso para nos dar o melhor dos presentes: nossa gatinha
dera à luz um lindo filhotinho durante a madrugada, enquanto dormíamos. Era
fêmea. Três cores.
-
Linda! – exclamara meu pai – Vai se chamar “Natali”, pois nasceu na noite de
Natal.
Foi
ali que aprendi que as coisas na vida têm o sentido que a gente dá para elas.
Sonhos
de uma noite de Natal... Lembranças... E o melhor dos presentes: a vida.
Natali
– presente maior, vida nova, alimento da alma.
Deus
se fez presente.
Sandra Medina Costa
[Imagem Google]
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