sábado, 3 de janeiro de 2015

O homem da cabeça de algodão


            - Lá vem o homem da cabeça de algodão!
            Era o alerta que eu dava. E todos corríamos para a janela para vê-lo passar: cabelos pretos, mas atrás da cabeça, um chumaço branco.
            - É algodão! – gritava alguém. E justificava que o homem, ao se trocar pela manhã, para ir ao trabalho, não vira quando caíra uma bola de algodão que ficara grudado na cabeça.
            - Não, não! É neve!
            - Mas, como?! Aqui não cai neve!
            - Então só pode ser alguma cinza ou farinha de trigo! A mãe dele estava fazendo bolo – explicava a menininha.
            E por aí a estória rolava. Cada criança tinha uma explicação a dar para aquela bola branca. E eu me deliciava com todas aquelas fantasias. Nunca tive coragem de dizer que era apenas uma mecha de cabelos brancos, coisa comum.
            E ríamos e éramos muito felizes.
            O homem da cabeça de algodão nunca saberá que freqüentou durante muitos anos o nosso imaginário. Ele não faz idéia de que era o nosso protagonista favorito nas manhãs, quando íamos para a escola.
            A vida precisa ser assim: alimentada de sonhos e fantasias.


Sandra Medina Costa

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