quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Como armar um presépio



José Paulo Paes

Pegar uma paisagem qualquer.
Cortar todas as árvores e transformá-las em papel de imprensa.
Enviar para o matadouro mais próximo todos os animais.
Retirar da terra o petróleo, ferro, urânio que possa eventualmente conter e fabricar carros, tanques, aviões, mísseis nucleares cujos morticínios hão de ser noticiados
com destaque.
Despejar os detritos industriais nos rios e lagos.
Exterminar com herbicida ou napalm os últimos traços de vegetação.
Evacuar a população sobrevivente para as fábricas e cortiços da cidade.
Depois de reduzir assim a paisagem à medida do homem.
Erguer um estábulo com restos de madeira, cobri-lo de chapas enferrujadas e esperar.
Esperar que algum boi doente, algum burro fugido, algum carneiro sem dono venha nele esconder-se.
Esperar que venha ajoelhar-se diante dele algum velho pastor que ainda acredite no milagre.
Esperar.
Quem sabe um dia não nasce ali uma criança e a vida recomeça?

[imagem da web]

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