terça-feira, 1 de dezembro de 2009

A Floresta de Árvores Mágicas



Aproximava-se dezembro, o tempo do Advento, e os homens grandes das cidades grandes corriam afoitos, apressados para chegar a lugar nenhum. Desbaratados sob o sol escaldante que incendiava o asfalto, olhavam para as vitrines à procura de árvores coloridas e enfeitadas.
“Urge comprar logo”, dizia o homem a si mesmo, pois o vizinho já havia se antecipado e enfeitado a porta, as janelas, toda a casa. Eis que à sua frente, ali mesmo na esquina movimentada, um homem-sanduíche exibia uma grande placa: IMPERDÍVEL! VISITE A GRANDE FLORESTA DE ÁRVORES MÁGICAS E ADQUIRA JÁ A SUA! Cabeça a mil, seus ouvidos captavam em meio às buzinas, frases confusas... “É impossível não comprar!” “Satisfação garantida ou seu dinheiro de volta!” “Quer pagar quanto...?” Anotou rápido o endereço e seguiu direto para lá.
Atravessou a cidade até chegar a um grande galpão, portões enormes e a placa que anunciava: FLORESTA DE ÁRVORES MÁGICAS. Entrou. Viu diante de si uma imensidão de árvores de todos os tipos, cores, tamanhos, formas... coloridas, enfeitadas com bolas grandes e pequenas, sinos, flocos de algodão-isopor, estrelinhas brilhantes, bonequinhos de neve, papais-noéis agasalhadinhos de vermelho, caixinhas de presente, laços e fitas, milhões de luzinhas coloridas piscando sem parar, e, no ar, a música chamava.
Estupefato com tudo aquilo, dirigiu-se rapidamente ao balcão e encomendou a maior e mais brilhante, colorida e enfeitada árvore mágica que viu. Pagou e saiu logo dali, aliviado pela missão cumprida, mas inquieto por dentro.
Resolvera caminhar um pouco. Já era de tardezinha e não precisava mais correr. Ia cabisbaixo pela calçada, absorto em seus pensamentos, admirando os fragmentos de luz no chão. Os raios de sol que atravessavam a cerca de tela ao lado, tomada por vegetação rasteira e já quase transformada em cerca-viva, formavam na calçada um caminho de fragmentos de luz. Aquilo, sim, era mágico!
Aos poucos foi se sentindo acalmar, acostumando os ouvidos aos sons que vinham do outro lado da cerca. “Como podia aquilo, meu Deus?! São passarinhos, bem-te-vis que gritam ao longe...” Um cheiro doce de flores invadiu-lhe as narinas. Levantou os olhos e viu diante de si uma bela e frondosa árvore: estava em floração e suas pequeninas flores amarelas exalavam um perfume inebriante. Parou por alguns instantes para aproveitar melhor aquela sensação. Aquilo, sim, era mágico!
Seguiu seu caminho em paz.
Nos dias que se sucederam, o homem refez o caminho de fragmentos de luz. Encontrava a árvore, sorria. Já não corria mais sem rumo. Acompanhava a sua florescência, viu seus frutos. Estranho. Assemelhavam-se a cachos de uvas. Eram verdes e pareciam duros, sua casca, rugosa.
Chegara o Natal e ele não se conteve. Foi até lá ver a árvore e, qual não foi a sua surpresa! Os cachos, outrora verdes, haviam amadurecido e “explodido” suas sementes. Alguns pendiam agora nos galhos como cachos de flores secas, marrons, lindos. Aquilo, sim, era mágico!
Encontrara, finalmente, sua verdadeira Árvore de Natal!

Sandra Medina Costa

[imagem da web]

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