sexta-feira, 31 de maio de 2013

De Vagar


(ou Da Janela do 3º Andar)

O homem atravessa o portão.
E, em três ou quatro passos,
alcança a porta de entrada
do Abrigo das Meninas.
Nas mãos, uma sacola
com alimentos, roupas... não sei.
Mas com certeza a sacola
está cheinha de luz, sabores,
sorrisos (pois assim está
o coração do homem que
atravessou o portão).
Ele tem certeza de seu gesto.
É sábado de manhã
e ele já tem alimentado o corpo.
Urge agora alimentar a alma.

            (Frente ao portão outro carro pára.
                        Dele descem umas três pessoas,
            também com sacolas mágicas,
                        e adentram o abrigo.)

Alguns minutos se passam
e o homem está de volta.
Sai pela mesma porta
e, em três ou quatro passos,
alcança o portão de saída.
Missão cumprida.
Voltar à vida (pois, lá dentro,
é sobrevida).
Dirige-se para o carro estacionado
a poucos metros e sai devagar.
Devagar segue o caminho,
o coração mais leve...
Devagar.
De vagar se faz sua vida.
Perambula pelos abrigos,
lugares não escolhidos
por aqueles que ali estão.
Sabe disso com clareza,
carrega na alma a tristeza
de ter sido um deles, um dia,
com amargura e aflição.

            (Ouço o pipocar de balões.
                        Lá de dentro do abrigo
                        ecoam vozes alegres,
                        misturadas
            a gostosas risadas.
            Nas sacolas mágicas
            dos três que ali entraram,
            havia tempo e alegria
            que juntos compartilharam.)

Sandra Medina Costa

Belo Horizonte, 17 de março de 2007.

[Imagem Facebook]

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