domingo, 5 de maio de 2013

Do Lado de Fora


César Magalhães Borges
 

Não sou tão
canhoto
para ser de
esquerda,
Nem tão reto
para a direita,
Tampouco conheço
         os eixos
    para pertencer
        ao centro

e não me encaixo
Não vou tão baixo
e não me compraz
a conversa torpe,
                  vazia,
                vulgar,
O olhar fútil
 a superfície
    o artifício.
Porém,
não voo tão alto
e não me seduz
a fala empolada,
a palavra do outro,
emaranhado de citações,
o jogo das cátedras,
escola de pensamento,
a fôrma da academia,
intelectualismo esnobe
                 e antinatural

certas rodas, eu não frequento

Não sou da alta,
nem sou do morro
e não me socorro
dos remédios e sonhos
da classe média:
automóvel do ano,
moda da estação,
um novo celular,
paranoia estética,
pacotes de turismo,
restaurantes exóticos,
                     dieta,
assinatura de jornal,
                      revista,
febre de consumo

acredito no trabalho,
mas aposto nos dados

Deploro a incompetência,
a falta de compromisso,
corrupção e ingerência.
Desprezo, contudo,
as linhas de montagem,
os programas de qualidade,
         a padronização,
       o terno e gravata,
     a roupa engomada,
             a rigidez,
a ideologia dos números

em muita estrutura,
não caibo

Quiseram a arte
enquadrada em extremos:
produto de indústria,
consumo de massas,
clichês sentimentais,
humor barato ou,
na suposta rota alternativa,
que a arte fosse feia,
         dura, fria,
destoante, agressiva,
hermeticamente fechada
em um círculo de iniciados;
renúncia de um mercado
como se não coubesse à arte
                   fazer bem à mente,
                                   à alma
                           e ao coração

busco a sensibilidade e
fujo de qualquer afetação

Tenho fé em Deus,
       em Jesus,
nos anjos, nos santos,
nos bons espíritos e
nos grandes avatares.
Desconfio, todavia,
      das igrejas,
      dos altares,
   das instituições.
Temo a ditadura,
    a intolerância,
    o puritanismo,
     a falsa moral,
o pensamento conservador

cultos que não venero
 
sustento a esperança
                e a crença
na divina providência
     de que um dia
    nossa herança,
   por ser também
 a nossa essência,
seja encontrar no topo
  da evolução humana
      a certeza plena
 de que tudo pode ser
     bom e simples
   e que podemos ser
   livres de verdade.

[Imagem Google]

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