terça-feira, 20 de maio de 2014

Eu, prendedor de roupa


Eu, prendedor de roupa,
Exposto que sou nas manhãs
De tempo nublado ou de sol,
Sei, sou coisa pouca:
Apenas um prendedor de roupa
Preso à toalha, ao lençol,
Estendido num varal qualquer
Frente às intempéries da vida,
Vento, sol, cachorro, mulher...

Às vezes, ali permaneço
Sofrendo a ação do tempo.
Noutras, me desconheço,
Destroçado, jogado ao relento.
Bom mesmo se bem cuidado
Sou recolhido e guardado.

E foi numa tarde dessas,
Em que o vento castigava,
Que me ensinaram o valor
Que ali eu representava.

Olhe-me com atenção!
Veja bem o meu formato:
Sou só mais um objeto?
Ou duas pessoas de fato
Que estão de pé, frente a frente,
Bem juntas e se olhando,
Com um pequeno fio de arame
Que as enlaça, força lhes dando?

Essa força a que me refiro
(o fio do prendedor)
Nos torna fortes se o que nos une
É a fé, é o amor.

Se tirarmos o fio de arame,
O prendedor perde a função.
Se nos faltam os sentimentos,
A vida é vazia, sem qualquer razão.


Sandra Medina Costa

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