sábado, 24 de janeiro de 2009

Mea Culpa


“Minha culpa,
minha culpa,
minha máxima culpa...”
E o peito dói a cada pancada dada,
a cada palavra falada,
a cada palavra não dita,
a cada palavra mal dita.

Minha culpa que não acaba,
mas acaba comigo,
destrói minh’alma.
Uma culpa que nem sei de onde vem,
mas que parece habitar em mim
desde sempre,
há tempos e tempos idos
e na memória já perdidos.

Culpa que fácil desperta
a cada palavra incerta
na boca semi-aberta...
Quando dou por mim
já saiu a palavra morta,
palavra que não aborta
a si mesma no fim.
E a culpa ressurge.
E a culpa me maltrata.
E eu maltrato a quem
nenhuma culpa tem.

Culpa de ter nascido.
Culpa de ter vivido.
Culpa de mexer no rádio velho, tirando da estação.
Culpa de ser honesta, não aceitando a traição.
Culpa de trair a quem se disse amigo.
Culpa de não perdoar a nenhum amor fingido.

Culpa de urinar na roupa
por ser fraca e não conseguir segurar,
pois a vontade era forte,
a casa estava longe
e o lugar era sagrado...
(E se Deus não perdoar?)
A vergonha dos colegas.
A roupa molhada.
O que fazer? Como andar?

Culpa de, num dia distante,
urinar num vidro brilhante
e mentir à amiguinha na infância,
dizendo que era chá.
De onde veio a idéia?
Não sei.
Mas a culpa ainda me envergonha.

Culpa de ser a mais certa –
a filha moralista não erra!
Culpa de chamar a atenção
do irmão que, descompensado,
andava agindo errado.
“Isso não se faz!”,
pois o rapaz querido
era o filho preferido.

Culpa de sentir vergonha
de ter um pai “cachaceiro”,
ignorando as razões
que o conduziam ao atoleiro.

Culpa de ser inocente.
Culpa de não ter malícia, maldade,
não saber de amor,
não saber amar.

Culpa de ter medo do escuro.
Culpa de uma dor aguda
que me persegue a lembrança,
mas Deus não me deixa ver.

Culpa de lutar pelos próprios direitos.
Culpa de não discernir o que é direito.
Culpa de me sentir inútil.

Culpa.
Talvez por isso eu tenha tanto asco das lesmas.
Me vejo nelas. São nojentas, vermes rastejantes.
Culpa.
Já matei tantas lesmas, já gastei tanto sal...
E o sal? Serve pra quê?
Culpa.
Pavor de lagartas, por mais que me digam
que elas se transformam em lindas borboletas.
Quantas borboletas impedi de nascer, ao matar, esmagar,
tocar fogo em lagartas vivas (requintes de crueldade!)
São horrendas, rastejantes.
Sinto-me como elas.

Culpa que se derrama em lágrimas na cama, na chuva, no chão,
para minimizar um pouco esta ruim sensação.
Culpa que se mostra nas feridas dos meus pés, provocadas por mim mesma,
verme – lagarta – lesma.

Senhor Deus meu,
Se me vejo assim de forma tão negativa,
É porque mais do que nunca necessito de Ti, ó Pai.
Preciso me encontrar de novo No amor que vem de Ti.
Preciso me amar de novo, encontrar o caminho que perdi.

Preciso acreditar em mim,
me amar, me aceitar por inteiro,
pois Vós, ó Pai celeste,
já o fizeste primeiro.


Sandra Medina Costa


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