quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Sob o signo de Câncer

Há mais de um ano, minha irmã Sônia me presenteou com um texto recortado do Jornal Estado de Minas: "SOB O SIGNO DE CÂNCER" (da autoria de Déa Januzzi). Ela me disse, na ocasião, que leu o texto e achou a "minha cara"!
É claro que A-DO-REI!


“Você sabe o que é nascer e viver sob o signo de Câncer? Não, então acompanhe essa mulher de sentimentos tão profundos quanto o mar e que, em noites de Lua cheia, pode uivar como uma loba. Dê a uma mulher de Câncer poemas, muitos poemas, para deixá-la embriaga de palavras densas. Pergunte aos amigos dessa mulher de Câncer quantas vezes ela leu Fernando Pessoa e Pablo Neruda? Quantas vezes devorou os poemas de Antônio Barreto madrugada adentro? Para quem quiser saber sobre uma mulher nascida sob o signo de Câncer, basta levá-la para jantar no japonês. Entre sushis e sashimis, uma canceriana pode transportar-se para o país de olhos puxados, ser gueixa e manter o ritual de comer, horas, com hashi. Até arroz que não gosta muito, ela consegue equilibrar nos palitos japoneses.
Dêem incensos de mirra, cravo e canela a essa mulher de Câncer, para livrá-la dos altos e baixos de sua vida. Das assombrações que vivem aparecendo para ela, em certas noites, quando o céu está aceso de tantas estrelas. Leve essa mulher de Câncer para se encontrar com sua amiga da montanha e voltar repleta de natureza. Ela se refaz a cada subida na montanha, com o canto mágico dos tambores, a fogueira acesa que exorciza todos os seus fantasmas.
Preste atenção que, neste momento, o vento de Moeda está sussurrando segredos ancestrais aos ouvidos dessa mulher de Câncer, que acaba de espantar a eterna melancolia, com banho de ervas em plena noite. Parece até que a amiga da montanha conhece a alma dessa mulher de Câncer ao oferecer um jantar com espumantes e alcachofras. Nada como presentear essa mulher de Câncer com presentes que lembram água, o elemento principal do seu signo, que corre nas veias, para lembrar o feminino do mundo e limpar a angústia que invade o seu ser demasiadamente nostálgico, que tem uma cor quase púrpura.
Com flores orvalhadas, águas de gerânio, capim limão, melissa e laranjeira se faz uma mulher de Câncer, principalmente se a fragrância for duradoura como uma conversa entre amigos. Essa mulher brava, quando provocada, pode explodir por pouco, mas se acalmar de repente e pedir perdão por tanta emoção.
Para conhecer uma mulher de Câncer é preciso não duvidar de sua dor, tão grande em certos momentos, que ela pode tornar-se vítima de si mesma e chorar com qualquer beijo de novela, com uma canção antiga, com a cor do vinho no fundo da taça de cristal. Tem dias, porém, que ela está tão bem que acolhe a todos. Como mãe do zodíaco precisa de filhos para exercer o seu poder de ajudar a construir uma outra vida, com ternura, como se estivesse fiando no tear das antigas tecelãs.
Para entender uma mulher de Câncer, é preciso decifrar os segredos da Lua, o astro que rege o signo e saber que o caranguejo é o símbolo de quem dá dois passos para a frente e três para trás. Uma mulher de Câncer precisa de pérolas para curar a concha machucada. Símbolo do feminino, a mulher de Câncer é transparente, mas pode ser furtiva, arisca e desconfiada quando fica magoada. Mas esquece todas as mágoas por nada. Perdoa tudo, mas fica ligada na família, na mãe, no filho, nas irmãs, no pai que já se foi, porque uma canceriana vive também do passado, apesar de ter olhos de lince para o futuro. Tem asas de águia e pode decidir jantar com Janaína na Carruagem do Vento, para vestir saias rodadas e escutar música cigana.
Uma mulher de Câncer não é perfeita e nem consegue terminar quase nada. Só gosta de começar, para mudar de rumo logo em seguida. Ela também pode dar uma canseira em que está perto dela, porque gosta de tudo perfeito. É forte também como a casca do caranguejo, para se proteger. Mas toda mole por dentro, quase derretida.
Uma mulher que nasce sob o signo de Câncer tem a ver com as marés revoltas, com as águas do oceano, mas às vezes, vira rio, cachoeira, nascente. Não precisa de muito, só de amar, mesmo sem ser amada.
Gosta de solidão repleta de significado, toalhas bordadas, casa cheirosa e bonita. Uma mulher de Câncer pode ser bem anos 70, alternativa, apesar de gostar de ficar em casa. Nada anima mais uma mulher de Câncer que uma boa massa na mesa cheia de flores e um vinho que dure a noite inteira. Ela, então, amanhece em paz. Não peçam a uma mulher de Câncer que acorde cedinho, porque ela gosta de dormir, em lençóis de algodão, num quarto que tem a harmonia das cores e o santo de sua devoção bem à vista. Porque uma mulher de Câncer sabe rezar, mesmo que não frequente igrejas. Mesmo que não comungue com a doutrina, ela tem fé na vida.”
Autoria: Déa Januzzi
Fonte: Jornal Estado de Minas - 01/07/2007

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