domingo, 14 de dezembro de 2008

Por Ela...



Por ela
Eu teria sido Rômulo, não Sandra.
Talvez por isso eu me sinta Remo e tenha vivido até então como ponte...
(porque pular o obstáculo pode ser mortal, como diz a mitologia)

Para ela
Eu fui a mais inteligente, uma pessoa importante; a minha letra era a mais linda para escrever.
Para ela, nessas horas, não era importante se eu sofria calada,
Se meu coração sangrava ao ser obrigada a escrever lindas mensagens
Nos momentos em que era preterida em razão de Rômulo – seu pastor...

Por ela
Eu interrompi meus sonhos de amor muitas vezes.
E quando teimei e desobedeci, só o que deu certo foi o filho que veio, que sempre amei de paixão.

Por ela,
Diante da dor maior da desilusão, voltei correndo para casa,
No desejo de (quem sabe?) acolhida ser de novo acolhida em seu coração.

Para ela
Procurei ser a obediente menina que, mesmo assim, voltou a sofrer,
Por ter o filho chamado de “porco branco filho de uma zebra”,
Também preterido em função de outro neto preferido.
Sofri calada muitas vezes
quando bati em meu filho sem razão, por travessuras de criança que a incomodavam.

Por ela,
Em troca, me esforcei e supri todas as suas necessidades materiais,
Realizei seu sonho de ter a varanda mais bela, consertei o telhado,
Comprei móveis e cortinas novas para a casa...

Por ela,
Repetidas vezes,
Perdoei as ofensas e descontroles do irmão descompensado,
Mas que também um dia fiz chorar (e ele também era o preferido).

Por ela
Eu me senti menos amada.
Por ela, ainda assim,
Fiz os mais belos e sagrados poemas,
Fui preterida. Nunca soube se valeu a pena.

Por ela
Rezei a Deus para que ela não morresse nunca, que fosse eterna,
Pois não saberia viver sem ela.

Por ela,
Já quase no final da sua vida,
Eu teria sido menos moralista e me calado mais
Não teria sido seu espelho, jamais.
Hoje sei que ela vive na eternidade do meu confuso amor.
Inexplicavelmente,
Tenho a quase certeza de que faria tudo de novo jeito.
Entendi que um dia fui aceita e acolhida em seu ventre,
Algumas vezes em seus braços, abraços,
Outras vezes em seus olhos.
Recebi seu alimento mais puro de seus seios brotado,
Mesmo não sendo o menino esperado.

Sandra Medina Costa

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